Desde a chegada de Cabral, a história do Brasil tem sido marcada por golpes e instabilidade política, dificultando o progresso da nação. Este artigo revisa episódios históricos emblemáticos, reafirma a previsão publicada em junho de 2020 no JCAM sobre uma nova tentativa de golpe no país, disponibiliza documento oficial da Polícia Federal e conclui com um apelo à racionalidade, oferecendo conselhos aos eleitores para evitar a repetição dos erros do passado.
Desde a invasão dos Portugueses no Brasil, já se passaram 524 anos, neste período tivemos centenas de momentos turbulentos marcados por golpes ou tentativas frustradas que se repetem ao longo do tempo. E para refrescar a memória, listo alguns destes eventos:
G1) A própria chegada de Pedro Álvares Cabral em 1500: embora não seja um golpe tradicional, a chegada dos portugueses ao território habitado e governado por povos indígenas resultou na imposição de um domínio político, econômico e cultural, com consequências drásticas para as populações nativas, incluindo milhares de mortes, a perda de autonomia e territórios.
G2) Revolta dos Beckman (1684): na Capitania do Maranhão, colonos liderados pelos irmãos Beckman se rebelaram contra o monopólio comercial imposto pela Coroa Portuguesa. A revolta foi reprimida, mas foi uma tentativa de subverter o domínio colonial em favor de maior autonomia.
G3) Inconfidência Mineira (1789): movimento liderado por intelectuais e elites de Minas Gerais que buscavam a independência do Brasil em resposta à exploração econômica portuguesa. Esta foi mais uma tentativa frustrada de subverter a ordem colonial.
G4) Conjuração Baiana (1798): foi um movimento inspirado pelos ideais da Revolução Francesa que buscava igualdade e liberdade para todas as classes, incluindo escravizados. Como a Conjuração Mineira, foi reprimida antes de ser efetivada, mas representou uma tentativa de mudar radicalmente a estrutura de poder.
Saindo do período distante, eis os golpes ou novas tentativas ocorridas no último século:
G5) Golpe do “Novo Estado” (1930): Getúlio Vargas dissolveu o Congresso e instaurou um regime ditatorial.
G6) Intentona Comunista (1935): foi uma tentativa de golpe liderado por Luiz Carlos Prestes contra o governo de Getúlio Vargas realizado entre 23 e 27 de novembro de 1935 por militares, em nome da Aliança Nacional Libertadora.
G7) Golpe “Branco” que levou a deposição de Vargas (1945): os mesmos militares que apoiaram Vargas forçaram a sua renúncia e saída em 29 de outubro de 1945.
G8) Golpe Preventivo (1955): liderado pelo General Henrique Lott em 11 de novembro de 1955, após ter sido identificada uma conspiração para evitar a posse de JK, o candidato vencedor daquelas eleições.
G9) Golpe de 1964: evento que se iniciou em 31/03/1964, realizado contra um governante legalmente constituído e que marcou o início da longa ditadura militar no país.
G10) Golpe dentro do golpe (1977): o então ministro do Exército, General Sylvio Frota, foi demitido sumariamente do seu posto em 12/10/1977, após tentativa de golpe contra a abertura política de Geisel. E advinha quem estava participando deste plano? o atual general Augusto Heleno, que na época era capitão do Exército e chefe de gabinete do Sylvio Frota.
G11) Golpe para evitar posse de Lula (2022) repetindo a tentativa fracassada que fizeram contra JK: ao longo dos anos, a sociedade brasileira testemunhou discursos e tentativas de subverter a ordem democrática, culminando com ataques coordenados às instituições em 8 de janeiro de 2023 que geraram um prejuízo de mais de R$ 25 milhões ao contribuinte conforme estimativas da AGU <https://tinyurl.com/4wy2rycd>.
Quem estuda a sério a história do Brasil frequentemente experimenta um incômodo sentimento de déjà vu, ao observar fatos e erros se repetindo, apenas com novos personagens. Com base nessa percepção, alertei a sociedade em 3 de junho de 2020, por meio de um artigo publicado no JCAM <https://tinyurl.com/4sk9xpcn>, onde listei evidências e previsões, incluindo uma condenação no TSE, que indicavam o risco de uma nova tentativa de golpe militar no Brasil.
Prever cenários não é questão de mágica ou de inspiração divina; é uma prática fundamentada na ciência. Para isso, é essencial estudar o passado, analisar documentos e contextos com uma postura crítica e desprovida de paixões políticas ou religiosas, organizar as descobertas com rigor e, acima de tudo, ter a coragem de compartilhá-las com a sociedade.
Naquela época, fui alvo de zombarias por parte de fanáticos e simpatizantes do “Mito”. No entanto, dois anos depois, os fatos confirmaram a solidez daquela análise, pois além da condenação pelo TSE, investigações da PF levaram recentemente ao indiciamento do capitão Jair Messias Bolsonaro, General Heleno (reincidente na prática), General Braga Neto e outros 34 elementos. Para o(a) leitor(a) que é prudente e gosta de estudar, checar, recomenda-se a leitura deste ofício <https://tinyurl.com/bdhacpsc> de 221 páginas elaborado pela autoridade policial e enviado ao STF apontando evidências robustas de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de direito, incluindo plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes.
Como formador de opinião e professor, é preciso alertar sempre a população, orientando-a com racionalidade, por isso é fundamental que cada eleitor(a):
1) pesquise a trajetória: analise a atuação do candidato em mandatos ou profissões anteriores, suas alianças e posições em temas-chave, como economia, educação e direitos humanos;
2) avalie discursos e ações: verifique se o discurso traz soluções reais para nossos graves problemas ou se são apenas distrações inúteis envolvendo temas polêmicos. Verifique se as promessas feitas correspondem às ações realizadas ou se houve incoerência entre palavras e práticas;
3) consulte fontes confiáveis: não confie nos conteúdos compartilhados em redes sociais ou em sites dos partidos ou dos políticos, pois podem ter sido distorcidos ou serem falsos! Seja prudente, leia artigos, entrevistas e investigações independentes de fontes confiáveis que tragam informações além da propaganda oficial;
4) identifique sinais de extremismo: desconfie de discursos polarizadores que demonizem adversários e promovam soluções simplistas para problemas complexos. Isso serve especialmente para polarizadores da esquerda ou da ultradireita, pois são faces opostas da mesma moeda;
5) converse e debata: troque ideias com pessoas que pensam diferente de você, sempre com respeito, focado nos argumentos, não leve para ataques pessoais, isso demonstra maturidade e o(a) ajudará a ampliar sua visão.
É fundamental adotar uma postura crítica, diversificar as leituras utilizando fontes confiáveis e oficiais, e abandonar a prática de idolatrar políticos, independentemente de sua orientação ideológica. Apenas por meio do voto consciente será possível evitar a repetição dos erros do passado e contribuir para a construção de um futuro político mais sólido e verdadeiramente democrático para o Brasil.