29 de novembro de 2024

Carlota Bomfim faz o leitor viajar

Profícua, amazonense acabou de lançar seu oitavo livro se tornando a escritora com mais livros publicados no Estado.

Houve uma época em que cabia às mulheres, apenas o papel de leitoras de romances adocicados. Mas as coisas mudaram e hoje elas escrevem sobre tudo e sobre todos. Carlota Bomfim é um exemplo, além de ser uma das mais profícuas escritoras baré com, até agora, oito livros publicados.

“Os cinco primeiros livros são de contos, em sua maioria, sobre a vinda dos portugueses, mas, também, dos franceses e holandeses ao Brasil, sobre os encontros com os indígenas, os estranhamentos em meio a uma linguagem de desconstrução, quanto aos três últimos, esses compõem a ‘Trilogia da psicossomática do homo eroticus’. Trata-se de um ensaio que sugere a união da teoria psicanalítica de Freud com a teoria evolucionista de Darwin, situando, na história genética da humanidade, a descoberta da paternidade”, contou.

Carlota se descobriu escritora quando praticava ioga. Tornou-se vegetariana e lhe vieram as percepções, iniciando na prática da poesia. Um dia se perguntou: “afinal, tu não te achas ‘tão tão’, então, por acaso, não tens nenhuma palavra para escrever neste papel?”.

“Foi então que, ao retirar o manto da censura, começaram a surgir repertórios engraçados, em meio à prosopopeia e ao hiper-realismo de caráter linguístico-somático, enfim, consegui cozinhar um ensopado de sapo, com azeite e alho”, falou.

E a escritora Carlota surgiu tão avassaladora que seus livros foram surgindo, um após o outro, até ela se tornar a autora amazonense com maior número de livros publicados.

Carlota é a autora amazonense com maior número de livros publicados.
Carlota é a autora amazonense com maior número de livros publicados.


Linguagem pitoresca

“Creio ser necessário, antes, abordar outra questão, afinal, o que tem dificultado a publicação de livros pelas mulheres amazonauaras? Deve haver tanto dificuldades relacionadas à falta de tempo e à escassez de recursos financeiros, quanto ao bloqueio psíquico em razão da censura social e pessoal, afinal, escrever também é aceitar a imperfeição, assumir o risco da autenticidade”, explicou.

“De qualquer forma, nascer em ambiente que valoriza o repertório feminino parece ser estimulante, contudo, para falar de sexualidade, ainda tive que desenvolver o espírito libertário. É atividade de pessoas que buscam a introspecção, sim, mas como dizia o meu avô Sócrates Bomfim, também, escritor, “A solidão é para quem a merece”. A intelectualidade das mulheres amazonauaras não começa comigo”, completou.

De acordo com Carlota, seus livros possuem uma linguagem pitoresca, muitas vezes, com a narrativa confabular e repletos de humor, o que levará o leitor a outro tempo, a outro universo. Em um dos contos ela narra que quando os portugueses expulsaram os holandeses do Brasil, Vandervando, um holandês, conseguiu escapar levando consigo a sua peruca. Por sorte, um cacique, admirado com o poder da peruca de Vandervando, decidiu que precisaria de um adereço ainda mais grandioso, promovendo um concurso que culminou na confecção do Manto Tupinambá inteiramente confeccionado com penas de araras vermelhas.

“Então, assim, o livro vai revelar todos os detalhes sórdidos dessa indústria têxtil, com a revolta das araras, a reivindicar a ecologia”, riu.

Na recente edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, um dos mais importantes eventos literários do país, ocorrido em setembro, Carlota esteve lá lançando seu oitavo livro ‘Trilogia da psicossomática do homo eroticus’

‘Homo eroticus’ é um ensaio que, dentre outros temas, sugere a união da teoria psicanalítica de Freud com a teoria evolucionista de Darwin, em hipótese, trata, também, de ideias de Lacan, Hobbes e Rousseau, para situar as fases psíquicas do homem no registro filolinguístico e semiótico da pré-história, quando o tabu passa a viger como uma lei genética.

Carlota enviou um exemplar desse livro para a Associação dos Arqueólogos Portugueses, em Lisboa, e não é que ele passou a ser indicado para os associados.

“Também enviei para universidades de arqueologia e museus de arqueologia do Brasil e de Portugal, e para um museu da Espanha”, revelou.

"Por acaso, não tens nenhuma palavra para escrever nesse papel?”
“Por acaso, não tens nenhuma palavra para escrever nesse papel?”

Pelo mundo

‘O juramento de Viriato’, ‘Eram os deuses chineses’, ‘A peruca do Vandervando’, ‘Operação Látex’, ‘Os antropoides do futuro’, ‘Adão, o totem de Deus’, ‘Hômulo&Êmulo’, e ‘Homo eroticus’, são os livros de Carlota Bomfim disponibilizados em várias plataformas como Chiado Books, Lisbon Internacional Press, Ipê das Letras, Martins Fontes Paulista, Livraria da Vila, Leitura, Wook, FNAC, Bertrand, Globobooks, Grafialivros, Amazon, Mercado Livre, Adlibris, Vinted, Walmart, Waterstones, BAM!, buscalibre, booktopia, Ubuy.

“Alguns livros estão sendo vendidos ou foram lançados em plataformas da América do Sul, da América do Norte, da África, da Europa e da Oceania, o que parece demonstrar que há potencialidade nas obras, até porque tem havido alguma repercussão. Além de escrever e publicar, também temos de ‘correr atrás’ para que vendam”, concluiu.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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