- AS POLÍTICAS PÚBLICAS – É difícil definir com exatidão quais são as principais políticas públicas que mais mobilizam o eleitorado de Manaus. Mas certamente Educação, Saúde e Segurança Pública são assuntos emergenciais para a cidade. Manaus apresenta indicadores preocupantes nas três áreas em questão. Manaus tem a terceira maior rede de educação básica do Brasil, porém os indicadores ainda são insatisfatórios. A infraestrutura de saúde pública quase colapsou com a crise de covid-19; há necessidade também de realocar mais postos de atendimento e recursos para os bairros periféricos, sobretudo para a Zona Leste. Quanto à segurança pública — talvez a maior preocupação dos manauaras — houve um crescimento exponencial da violência urbana e do consumo de drogas; hoje, alguns bairros encontram-se sob o domínio de narcotraficantes que controlam a logística da distribuição de drogas para o restante do país e para o exterior. A agenda ambiental é eleitoralmente esvaziada e há pouca demanda do eleitorado.
- OS LÍDERES DAS PESQUSAS – A eleição municipal se polariza bastante entre o atual prefeito que busca reeleição David Almeida (Avante) e o deputado federal e pré-candidato Amom Mandel (Cidadania). É certo que o congelamento da polarização eleitoral entre David Almeida e Amom Mandel é uma tendência para esta eleição. Os dois candidatos são ambíguos em suas orientações ideológicas — possuem aliados à esquerda e à direita no espectro ideológico — e possuem, até o momento, preocupações estritamente municipalistas. David Almeida é um candidato forte nos bairros populares e nas zonas periféricas, ao passo que Amom Mandel busca consolidar um eleitorado de classe média e média alta da capital.
- OS COMPETIDORES – Há outras grandes forças políticas nesse cenário pré-eleitoral que consigam competir eleitoralmente com esses dois candidatos. É possível que esta seja a eleição municipal mais disputada da Nova República. Além dos candidatos eleitoralmente competitivos, da rivalidade das clivagens ideológicas direita-centro-esquerda, há um claro cenário de ingerência do lulismo e do bolsonarismo no processo eleitoral de Manaus. Marcelo Ramos (PT) e Capitão Alberto Neto (PL) serão os legítimos representantes da esquerda lulista e da direita bolsonarista, respectivamente. Para além da disputa municipal, os dois pré-candidatos assumirão uma função estratégica na formação dos palanques para as duas lideranças nacionais, bem como contribuirão para a eleição de uma bancada minimamente representativa para a Câmara Municipal. É certo que trabalham agora, tendo em vista a eleição presidencial de 2026. Já Roberto Cidade (UB), atual presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, terá o apoio do governador do Amazonas, Wilson Lima (UB). A aposta de Wilson Lima em Roberto Cidade é uma clara demonstração de que o governador pretende indicar pessoalmente o seu sucessor; e David Almeida, um possível candidato para o cargo do executivo estadual, não terá o seu apoio. É possível que os três candidatos, num eventual cenário de segundo turno, sejam determinantes para o resultado final das eleições.
- A ESQUERDA – Manaus não possui um prefeito de esquerda há vinte anos (o último foi Serafim Corrêa, do PSB). Nesse mesmo sentido, nas eleições presidenciais de 22, pode-se observar que Lula (PT) venceu em quase todos os municípios do Amazonas, menos Manaus e outras duas cidades. É possível coexistência de uma capital eleitoralmente mais à direita e os demais municípios mais à esquerda? Sim, é possível. Na história eleitoral recente, desde a redemocratização na década de 1980, a esquerda sempre teve enorme dificuldade de se consolidar no Amazonas e em Manaus, em particular. Os trabalhadores da polo industrial não foram plenamente politizados pelos partidos de esquerda; e os partidos de esquerda, por sua vez, expressaram mais as demandas dos setores da classe média do que propriamente dos setores marginalizados nas periferias. A eleição de Serafim Corrêa (2005-2009) foi um cisne negro, pois contou com o apoio de Eduardo Braga e Lula, governador e presidente da República, respectivamente, vis-à-vis o desgaste político de Amazonino Mendes (PFL). O fato de Lula ter vencido as últimas eleições no Amazonas se deve muito mais à sua história e à sua força eleitoral do que propriamente à consolidação de um eleitorado de esquerda. O voto retrospectivo, no meu entendimento, foi o fator determinante, pois as políticas públicas de Lula no interior do Amazonas foram bem planejadas e executadas. O programa “Luz para Todos”, para citarmos apenas este exemplo, ampliou substantivamente o acesso das pessoas ao fornecimento de energia elétrica nas comunidades mais isoladas da região amazônica.
- A DIREITA – Parece certo que o Capitão Alberto Neto será o candidato do PL para a prefeitura com o apoio Jair Bolsonaro (PL). A base eleitoral de Bolsonaro em Manaus é expressiva e não pode ser desprezada por nenhum dos candidatos, sobretudo pelos líderes das pesquisas. Na eleição presidencial de 2022, só em Manaus, Bolsonaro obteve 692.580 votos (61.28%), ao passo que Lula ficou com 437.691 votos (38,72%). Em termos proporcionais, Manaus é uma das capitais mais bolsonaristas do país. É possível — e isto é apenas uma hipótese — que a evolução do bolsonarismo esteja intimamente atrelada ao crescimento consistente e acelerado na capital de denominações pentecostais e neopentecostais. Assim como Lula, Bolsonaro precisou intervir para escolher o seu representante na capital. Entre o seu antigo companheiro de caserna, Coronel Alfredo Menezes (hoje no PP), e o deputado federal reeleito, o policial militar Capitão Alberto Neto (PL), o ex-presidente decidiu pragmaticamente pelo segundo. Das duas eleições para cargos majoritários em que concorreu — primeiro para Prefeitura de Manaus e, depois, para Senado da República —, Coronel Alfredo Menezes não conseguiu traduzir o potencial do bolsonarismo em vitória eleitoral.
*é cientista político