Aristóteles Drummond
Daqui a algumas semanas vai começar o festival de mentiras sobre o movimento de 64 a propósito de seus 60 anos. Para o leitor jovem, que não viveu aqueles anos, é preciso colocar fatos, sem adjetivos, sem opinião, mas com base no consenso da sociedade e do que não pode ser questionado.
Naqueles dias, o Brasil vinha de meses de muita agitação e agravamento dos problemas econômicos. A pauta do governo era ideológica e revolucionária, só se falava em “reforma agrária”, “reformas de base”, alinhamento com o regime cubano. Nos últimos 12 meses, foram 108 greves, a maioria de cunho político. Até de estudantes “contra a intervenção americana no Vietnam”, quando pouca gente sabia sequer onde ficava o Vietnam, até então mais conhecido como Indochina.
A opinião pública ficou contra aquele estado de coisas, especialmente as forças vivas da nação, como empresários, católicos, quase toda a mídia, militares e políticos. O país derretia no caos. Éramos a 46ª economia mundial e, no fim do regime de 64, em 1985, o Brasil já era a oitava economia, hoje é a nona.
Os militares estavam preocupados, mas, como é tradição na história – com a única exceção no golpe republicano de 1889 –na linha da legalidade, atentos à vontade e ao interesse nacional. No auge da crise, inclusive de autoridade, com sargentos e suboficiais rebelados por comando comunista, os governadores de Minas Gerais e de São Paulo, Magalhães Pinto e Adhemar de Barros, ouvidos os companheiros do Paraná e do Rio Grande do Sul, tomaram a iniciativa, cabendo a Minas, onde o governador tinha apoio na guarnição federal, lançar o movimento. Os militares, em plena unidade, apoiaram os manifestos dos mineiros e, em dois dias, o presidente Goulart deixava o país seguindo para o Uruguai. Jango não era radical, era homem cordial, mas fraco deixou-se dominar pelos radicais, apesar de alertado por leais amigos como o notável jornalista Samuel Wainer.
Nenhuma reação, mas sim manifestações de regozijo em todo o país. No Rio, o governador Lacerda aderiu o movimento e já era a voz mais vibrante de oposição e, no dia seguinte, foram às ruas mais de um milhão de brasileiros, comandados pelos movimentos liderados por mulheres.
O que se seguiu não foi uma ditadura, mas um regime autoritário. O Congresso elegeu todos os cinco presidentes, sendo que quatro revolucionários, e o mesmo Congresso, em 1985, elegeu a chapa Tancredo-José Sarney.
Os novos ministros eram técnicos, homens de reconhecido e notável saber. A restauração da economia e a modernização do Estado, criando Banco Central, plano nacional de habitação, contenção da inflação, paz no campo, foi confiada a homens da estatura de Otavio Gouvea de Bulhões e Roberto Campos. A Casa Civil, do presidente Castelo, coube ao senador baiano Luiz Vianna, notável intelectual membro da Academia Brasileira. A política externa confiada ao experiente Vasco Leitão da Cunha.
Não houve “ditador”, mas nomes apresentados e aprovados pelo Congresso Nacional. Aliás, homens – e suas famílias – de reputação ilibada.
Os avanços foram notáveis no progresso, foram construídas usinas hidroelétricas que garantiam o fornecimento de energia limpa e a baixo custo, foi inaugurada a primeira central nuclear brasileira, o governo Figueiredo triplicou a produção brasileira de petróleo e dobrou a do ouro. As estradas fundamentais foram duplicadas, como a Rio-São Paulo, ou asfaltadas, como a Belém-Brasília.
Surgiu um novo Brasil!