A derrubada continua porque a floresta em pé ainda não está gerando riqueza maior do que se for deitada.
Deitada, a um ritmo anual de 7,8 mil Km² de desmate nos últimos 10 anos segundo dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a floresta amazônica gerou PIB – Produto Interno Bruto imediato, mesmo se em parte clandestino, através da madeira extraída sem manejo e em seguida pela transformação da área em campo para pastagens, agricultura ou grilagem.
A inversão de valores ocorreria com a geração de riqueza maior por Km² com a floresta em pé, porém, devido aos mecanismos necessários, este processo é ou demasiado lento, como o reflorestamento para manejo, ou de baixa agregação de valor, como a extração de óleos e látex, e a coleta e colheita da flora.
A renda com exploração turística do ambiente, por exemplo, que para a Amazônia a floresta é a base, demanda investimentos de curto ou longo prazo e não suplanta o montante do resultado que a derrubada proporciona no mesmo local, se exequível, e no prazo em que proporciona.
Por sua vez, os chamados “serviços ambientais” da floresta até poderão no futuro provocar mudança no quadro, incluindo a venda de dióxido de carbono não liberado para a atmosfera se a floresta permanecer em pé. Ocorre, porém, que estas práticas e conceitos ainda não estão suficientemente claros e tangíveis, mesmo que, no caso do carbono, até já existam projetos gerando alguma renda para investidores de magnitude mas ainda de escala pouco expressiva.
Para fazer parte do PIB é preciso haver a conversão do produto em bem disponível de imediato para o mercado; um minério ainda em jazida ou uma árvore viva podem ser contabilizados como ativos, mas não compõem o PIB, e nesta condição não proporcionam renda e não participam do processo de desenvolvimento.
As riquezas enterradas ou plantadas da região serão sempre riquezas retóricas até que sejam tocadas pelo agente econômico.
O movimento de tentar convencer uma parte do mercado de que a floresta vale mais em pé do que deitada tem se ampliado entre diversos agentes e traz consigo como argumento, e talvez o principal, o homem da floresta, que dela se beneficiaria para sobreviver. Consumidores conscientizados disto seriam os componentes deste mercado e este argumento ainda permitiria que os “serviços ambientais” não sofressem interrupção ou diminuição mesmo que não monetizados.
Ocorre que este mercado até tem pago pelos bens da floresta em pé, mas o valor negociado é ainda muitas vezes menor do que o que a derrubada proporciona.
O agente derrubador continuará a gerar prosperidade desmatando ao invés de evitar esta prática, desfigurando necessariamente o ambiente físico para obter resultado.
Sem a remoção da Amazônia a atividade econômica não se desenvolve a contento.
Ao mesmo tempo, ao ser removida, reduz a própria capacidade de se valorar em pé, já que vai perder carbono, perder serviços ambientais, empurrar o caboclo para a urbanização porque ele perderá os produtos da floresta que não lhe custam nada, e perderá a base da biotecnologia, um dos grandes trunfos até para superar a ZFM – Zona Franca de Manaus no futuro.
Se em 30 anos a remoção de floresta foi equivalente ao tamanho do estado do Mato Grosso do Sul segundo o INPE, se pode estimar que nos 51 anos que faltam para término da ZFM, menos floresta haverá. No Amazonas o processo continuará obviamente na direção de onde ainda há floresta, como o movimento que já vem ocorrendo no Sul.
A biotecnologia neste cenário contará com um acervo diminuído, e produzirá menos resultados do que obteria agora.
O CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia e seus congêneres, para terem o que fazer, precisarão correr para a floresta em maior velocidade do que a velocidade do atual processo de sua remoção.
Há ainda a estória de que a umidade da floresta amazônica ajuda a prover o reservatório da hidrelétrica de Itaipu que move também a indústria do Sudeste, e que também é fundamental para o agronegócio do Centro – Oeste. Estes atributos para o Brasil não parecem ter a importância estratégica que algumas instâncias consideram, ou não são acreditados.
A Amazônia segue no rumo do acaso.