23 de novembro de 2024

A amizade para o professor Caraíba

No terceiro dia da semana, no mês de dezembro, numa tarde preguiçosa, sentado numa cadeira de balanço, no quintal da minha casa, com o canto dos pássaros ao fundo, lia um livro de Filosofia Antiga, quando surgiu, bem na minha frente, o professor Caraíba, de barba longa, cabelo cor de algodão, calçando alpercatas de couro cru, calça jeans, camiseta regata e uma longa capa cor de ouro, parecendo um reizinho, e me disse: 

“A amizade é a mais bela de todas as virtudes. Quem tem amigos nunca está sozinho e mesmo que eles estejam longe nunca os esquecem. Se não existisse a amizade o homem seria um animal doente. A amizade cura tudo, principalmente a solidão. O conforto do homem sábio é se secar das melhores amizades. Quando se tem os amigos por perto a vida torna-se saborosa. Do que adianta ter tudo na vida se você não tem amigos? Os amigos são bálsamos para a nossa vida. Eles nos libertam do tédio da vida e dos momentos perturbadores. É como diz o ditado popular: “É melhor ter amigo na praça do que dinheiro na Caixa”. Ou ainda. “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro”. Quem não tem amigo sofre. Uma pessoa sem amigo possui o espírito triste. Você tem amigos? Quantos? Não vale os “amigos” das redes sociais. Estes não são amigos valorosos, amigos de verdade. Eu quero saber se você tem amigo verdadeiro. Real. Aquele amigo que é capaz de morrer por você. Quem são seus amigos verdadeiros? Reais? Os meus amigos são os meus pais. Eram, quando eles estavam vivos. Eu sou órfão de pai e mãe. Os nossos pais sim são nossos amigos. Só eles são capazes de morrerem por nós. Certamente você já assistiu pela televisão ou pela internet cenas de pessoas sendo presas, ou nas cadeias, quem está do lado delas? O pai ou a mãe, não é mesmo? As esposas, às vezes! Geralmente são as mães. As mães estão sempre defendo os filhos mesmo que os filhos sejam os piores bandidos, mas elas estão lá. Quem não tem a sua mãe ou o seu pai como seu principal amigo quase sempre se dá mal na vida. Os nossos pais sempre nos ensinam coisas boas. Eles sempre querem o melhor para nós, para os seus filhos. Quase sempre eles exigem dos filhos que construam a sua própria história, calcada no amor, no companheiro e na amizade. Os nossos pais sempre atuam de forma direta para curar e sarar os nossos traumas, conflitos, dificuldades, tremores. Eles sempre exigem o que é melhor para nós, revisão de nossas metas, uma reavaliação da nossa postura diante da vida. As pessoas que têm como virtude principal a amizade sempre estão de bom humor, são alegres, prestativas e felizes. Pelo contrário, quem não tem amigo é solitário, estressado e mal humorado. Em síntese, quem não tem amigo vive ansioso, insatisfeito, inquieto, sente cansaço físico exagerado, coração acelerado, dor de cabeça, dor muscular, sintomas psicossomáticos e até psiquiátricos. O que mais nos alivia desses fardos é a amizade. Tenha amigo e seja amigo. O amigo verdadeiro está sempre disposto a ouvir, a ajudar. O apoio, seja material ou emocional, é uma das condições indispensáveis para o início de uma boa e verdadeira amizade. Saber acolher as fragilidades, as perturbações, os sofrimentos do outro e guardar esses segredos em seu coração sem jamais revela-los a ninguém também é o segredo de uma boa e verdadeira amizade. Você também não deve usar isso a seu favor. O bom e verdadeiro amigo guarda todos esses segredos no coração e espera tranquilamente os acontecimentos naturais, o correr das horas, dos dias, da vida, ao longo do tempo, para ser feliz e viver rodeado de amigos”.. 

O professor Caraíba terminou o seu discurso citando os filósofos clássicos. Primeiro Sócrates: “Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos”. Depois Platão: “A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”. E por fim Aristóteles: “Ninguém deseja viver sem amigos, mesmo dispondo de todos os outros bens”; e Platão: “A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”. 

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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