7 de setembro de 2024

A confusão amazônica: clima, estiagem e queimadas

Por Juarez Baldoino da Costa(*)

Temperaturas de 40°C, fumaça das queimadas e vazante dos rios, mesmo que no mesmo território, não podem confundir as narrativas que atribuem a situação na Amazônia integralmente aos tais novos Eventos Climáticos.

1- As queimadas anuais que provocam a fumaça são iniciativas humanas que não dependem da vazão dos rios ou da temperatura ambiente, mesmo que o calor obviamente até facilite a combustão. O fogo é ateado em bordas de estradas e de campos de plantio ou derrubadas recentes preparadas para a prática durante o período de inverno, já que a floresta densa e úmida inviabiliza a queima.

Autoridades chegam a declarar que a prática comum de queima de lixo doméstico está ajudando a provocar a fumaça na Amazônia, o que é até verdade, porém, é irrelevante e até estranho, porque o lixo doméstico é diário e não faz sentido ser guardado o ano todo para queimar somente em outubro.

As imagens aéreas exibidas em mídias sociais ou na grande imprensa, que dependendo da altura alcançam uma visão de cerca de 1.000 Km² em áreas no Pará, no Amazonas e nos demais estados amazônicos, revelam a extensão até hoje incontrolada das ações criminosas e intencionais, noticiadas desde principalmente 1970.

Para quem acompanha o assunto há décadas, e há registros, as queimadas são os elementos parasitários da floresta para os quais não foi ainda encontrado o remédio.

2- As secas ou enchentes do sistema fluvial da Amazônia, cujos níveis oscilam ao sabor de fenômenos cíclicos anuais que operam de maneira combinada no gelo andino, nas nascentes dos milhares dos cursos d´água da região, na tábua das marés de Marajó – barreira natural da vasão no estuário do Rio Amazonas, e das chuvas em geral que cobrem 7,2 milhões de Km² do território, repetem de tempos em tempos marcas extremas que se revezam nos séculos, cujos recordes talvez nem tenham sido capturados porque não havia monitoramento registrado há 300 anos atrás e mais.

2023 talvez até estabeleça um novo recorde de seca em Manaus, por exemplo, mesmo que apenas 10 cm a menos que a maior conhecida.

No entanto, no Encontro das Águas em Manaus, há hieróglifos com idade de 5.000 anos esculpidos em rochas no leito do Rio Negro – qual foi o nível das secas de então?

3- As temperaturas extremas são atribuídas ao aquecimento das águas do Pacífico pelo El Niño, segundo o IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, e teriam ainda relação com as ações humanas de lançamento de compostos na atmosfera, inclusive o CO2. Esta posição do IPCC é baseada em trabalhos respeitáveis de milhares de cientistas.

Há, entretanto, 2 perguntas ainda não respondidas:

(1) porque os picos do El Niño (acima de 2 graus) tem ocorrido cada vez com mais espaçamento entre eles (https://ggweather.com/enso/oni.png), como foi o caso dos anos de 1965, depois 1972 (7 anos), depois 1982 (10 anos), 1997 (15 anos) e 2015 (18 anos)?

(2) se os compostos são lançados na atmosfera de forma crescente anualmente e, portanto, são cumulativos, porque em determinados anos o efeito extremo desaparece? Onde ficariam os compostos?

No dia 11/10 no município de Itacoatiara no Amazonas desmoronou o porto mais robusto do estado depois dos portos de Manaus, talvez até pelo deslocamento de água de um navio em velocidade irregular.

Em 2022 desabaram 2 pontes da Rodovia BR 319 Manaus-Porto Velho aparentemente por movimentação dos sedimentos da base dos pilares.

As Terras Caídas do Rio Amazonas já engoliram pedaços de municípios ao longo de décadas, como na comunidade de Arumã em Beruri no Rio Purus em 02 de outubro passado, afluente do Rio Solimões.

Antes que se atribua por confusão estes fatos também às Mudanças Climáticas, lembremo-nos que são apenas fenômenos e incidentes amazônicos.

Indubitável que as ações humanas prejudiciais à atmosfera devam ser combatidas, mas não é a confusão de narrativas que nos ajudará a encontrar maneiras de aplacar o sofrimento do amazônida atingido pelas intempéries.      

[email protected]

(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

Juarez Baldoino da Costa

Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós- Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

Veja também

Pesquisar