16 de setembro de 2024

A era napoleônica – (Conclusão)

                                                                                                                                     Bosco Jackmonth*

Contudo, os verdadeiros fins de Napoleão se deram quando ao cabo de poucos dias foi ele embarcado para a pequenina ilha de Elba, ao largo da Itália, onde, tendo-o como estafermo, urdiram dar-lhe o título alma de bando de “Imperador de Elba”.    

O alardeado episódio dos “Cem Dias, que consta esclarecido linhas a seguir, sabe-se, embora parecesse que a saga napoleônica houvesse chegado ao fim, a história não estava mesmo de todo terminada, desde que se lhe aplicasse um imagético vitupério, como consta linhas acima. Sucede, avulte-se, deu-se que os exércitos aliados haviam restaurado o domínio da dinastia de Burbon, mas os franceses receavam que o novo rei, Luís XIII, desfizesse as reformas da Revolução e restaurasse o Velho Regime. Quando as notícias desse descontentamento lhe chegaram, Napoleão decidiu tentar um retorno, diante dessa surpresa do inesperado. Anote-se, não fosse ele quem era…

Então, nos fins de fevereiro de 1815, Napoleão e uns poucos seguidores embarcaram em pequenos botes e voltaram para a França. Ali, graças a seu enorme magnetismo pessoal, reuniu ele uma força em seu redor e entrou em Paris sem dar um único tiro, enquanto Luís XVIII atravessava a fronteira em fuga, quem sabe pegando-se em Santo Expedito ou outro que as vezes o fizesse.  Começou assim o dramático episódio conhecido como os Cem Dias. 

Sucede, o jogo de Napoleão era sem esperanças. Os aliados imediatamente o declararam paroara, um estafermo proscrito e seus exércitos começaram vagarosamente a reunir-se para esmagá-lo a torto e a direito. Dentro da França, Napoleão não fora unanimamente bem acolhido, pois muitos franceses não haviam esquecido como ele sufocara a liberdade política e sugara de jovens o país, tornando-o em um vale de lágrimas.

Porém, astutamente Napoleão exibiu-se como um liberal, concedendo uma constituição que não só assegurava a igualdade e a fraternidade, mas grande grau de liberdade política, e serenamente afirmou que tal sistema sempre havia sido o seu objetivo levar a todos até os  andaimes do mundo. Como postura intencional, passou, em seguida, a formar um exército de veteranos e de jovens conscritos, para o que iria ser a sua derradeira campanha, um verdadeiro impávido colosso.

Golpear os exércitos aliados, uma surpresa do inesperado, era o que pretendia, antes que eles tivessem tempo de juntar forças e, assim, movimentou-se para a Bélgica, onde o Duque de Wellington comandava um exército inglês de porte quase igual ao seu. E então, após um dia inteiro de batalha em Waterloo, o exército prussiano comandado por Blucher chegou de súbito ao campo e os franceses tiveram suas linhas rompidas e fugiram. Napoleão abdicou pela segunda vez e, após uma tentativa malograda de fugir para os Estados Unidos, rendeu-se a torto e a direito aos britânicos.

Desta vez, seus captores não correram mais riscos: foi ele em flatus vocis embarcado para a ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu seis anos depois. Então, os aliados, mesmo sem muito entusiasmo, mais uma vez colocaram Luís XVIII em seu trono vacilante.

A morte de Napoleão veio trazer paz à Europa, ou o seu momento heureca! É que o retorno de Napoleão da ilha de Elba interrompera as grandes potências justamente quando estavam a ponto de urdir o término da reforma da Europa. Ao cabo de todo o inverno de 1814-1815, os ministros do Exterior da Grã-Bretanha, Prússia, Áustria e Rússia se mantiveram em congresso em Viena, lutando com a multidão de problemas que lhes negara a perturbação da paz e da ordem assente na Europa, causada por Napoleão. É o que, por fim, se colhe na ponta da língua dos registros históricos… 

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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