21 de dezembro de 2024

A fome não espera

Há poucos dias se assistiu em noticiário na TV aberta, pessoas catando “alimentos” em caminhão de coletor de lixo em uma capital do nordeste, o quê me deixou bem indignado com a cena degradante que passam aquelas pessoas. Fico a pensar na dignidade humana nessas situações, mesmo sabendo que em decorrência da pandemia que se abateu sobre a sociedade mundial, incluindo a do BRASIL, na qual o “fiquem em casa” foi a constante que desencadeou a paralização quase total das atividades econômicas resultando na grande perda de empregos e em consequência da renda das pessoas, levando milhares de pessoas à pobreza, à miséria e à fome. Então, o que vem a ser a dignidade humana, senão o maior e mais importante direito fundamental a ser respeitado, sendo que a alimentação saudável,  tem o caráter desse direito, na qualidade inerente à dignidade do homem e que não vem sendo cumprido nem respeitado e muito menos assegurado pelo Estado nessa pandemia.

O que se tem visto nessa pandemia por COVID-19, a olhos vistos, é o agravamento da imensa desigualdade social, como uma das causas direta e fundamental da pobreza existente na capital Manaus, somente por observação empírica, se nem mesmo se chegou a fazer quaisquer pesquisas, até então. E, como quase todos conhecem os direitos fundamentais (saúde, educação, segurança pública, alimentação digna, etc) da pessoa humana são garantidos pelo Estado, com suas Políticas Públicas e no combate a fome. Por função de economista pesquisador no CEA – Clube de Economia da Amazônia,  ando percorrendo a capital da Amazônia – MANAUS – como se tem denominado esta cidade, com a missão de escolher locus geográficos em determinados bairros da periferia de Manaus que se disponham à pesquisa econômica sobre a fome  na capital da Zona Franca.  Entendemos que a conjuntura pandêmica que passamos tenha provocado ou levado a essa atual situação de agravamento, tendo jogado as pessoas na miséria e à fome, atingido parcelas da população que se encontram na base da pirâmide populacional, desestruturadas familiarmente e com baixíssimo ou nenhum grau de educação e qualificação profissional que possibilitassem auferir alguma posição no mercado de trabalho formal.

Em Manaus, por seus bolsões crônicos de pobreza, haja vista a ocupação espacial urbano desordenado, mesmo convivendo ao lado do maior Parque Industrial de Eletroeletrônicos da América do Sul, o qual oferta número significativo de empregos diretos e indiretos e, um setor terciário pujante que absorve grande contingente de mão de obra, o que qualifica a cidade como a 6ª capital em termos econômicos do Brasil, aqui também para os mais carentes a situação é grave, quanto à insegurança alimentar. Como em todo lugar e região desse imenso Brasil, existe em Manaus, parcela da população, carentes, pobres, miseráveis que sofrem com a fome. O Amazonas em geral possui ou está dotado de uma espécie da fartura de alimentos naturais, como é o pescado, abundante em seus rios e lagos que permite acesso a essa fontes de alimentos, mas para as pessoas que vivem na capital, a situação piora, fica mais dificultoso, sem trabalho, sem renda, daí a fome grassa.

Essa atual conjuntura pandêmica (da escassez de alimentos à má distribuição dos mesmos) adversa trouxe à pobreza, à miséria e à fome para pessoas que perderam emprego e renda sem que tivessem outras oportunidades de retornar ao mercado de trabalho e não é por causa da pandemia da COVID-19 que existe a fome nas populações carentes e também não se pode considerar como um fenômeno natural, pois ela provém de natureza política social e econômica e que ações de assistencialismo governamental ou privado não irão substituir as Políticas Públicas como responsabilidade de Governos em adotá-las. Para os pesquisadores do CEA, os Governos do Amazonas e do município de Manaus devem inserir no Planejamento Estratégico Econômico a visão espacial, pois são nesses locus que habitam as pessoas que necessitam das Políticas Públicas e Sociais, que carreguem a responsabilidade e compromissos em operacionalizar os objetivos estratégicos da função/missão de governar em respeito à pessoa humana e suas necessidades, reduzindo as desigualdades sociais, econômicas, com geração de renda através do trabalho.

Nilson Pimentel

Economista, Engenheiro, Administrador, Mestre em Economia, Doutor em Economia, Pesquisador, Consultor Empresarial e Professor Universitário: [email protected]

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