Neste caos na economia mundial, os que vão sofrer, e muito, serão os países e empresas que se endividaram leviana e irresponsavelmente, explorando momentos de alta liquidez nos mercados. Agora é a hora da verdade, com dificuldades para rolar a dívida. Riscos altos para os mais fracos. Curiosamente, as políticas ousadas partem sempre de governos que se dizem voltados para o social.
O velho Dólar mostra sua força. E o nervosismo dos mercados vai exigir atuações firmes dos bancos centrais. Abandonar os náufragos agora pode fazer a crise fugir do controle. Os mercados são pouco racionais.
Países que já se preocupam com a desnacionalização de suas grandes empresas, certamente, verão esta presença aumentar muito. E os riscos no setor bancário voltaram a tirar o sono dos governantes.
Ao que tudo indica, a epidemia do coronavírus entrará numa curva descendente, inclusive pela chegada de vacinas e outros meios de controle de sua propagação. Mas a fase de transição, os próximos meses, pode custar muito aos mais frágeis, desde países a empresas, até chegar à ponta, nas famílias. Portanto, é preciso habilidade na gestão destas dificuldades e pleno exercício da autoridade diante das ameaças de perturbação da ordem nas ruas, fábricas e no campo. Quem mostrar fraqueza pagará caro.
A temporada de verão vai afetar muito o turismo, de forma indiscriminada, em todo mundo. Um socorro dirigido ao setor de transporte e hospedagem parece natural para os bancos centrais, como o rolamento automático das dívidas por pelo menos 12 meses. O que o presidente Trump já fez com os impostos em geral. O chamado efeito cascata do setor é imenso e, a esta altura negar o furacão é perigoso. Logo, mostrar otimismo soa irresponsabilidade.
O componente social do agravamento da crise é natural. Muitas empresas cotadas em Bolsas estão valendo menos do que o valor patrimonial. O que é favorável apenas para quem dispõe de caixa, pois, como sempre, as crises também geram oportunidades de ganhos.
Preocupação maior é a instabilidade política dos principais países, muitos divididos, com governos sustentados por muito pouco, como Israel, Espanha e Itália. Conforto mesmo apenas na Rússia e na Inglaterra. Na América, com eleições em novembro, o governo já não tem maioria na Câmara dos Deputados, ficando dependente de sua posição no Senado. Mas em compensação tem amplo apoio popular.
A combinação de crise na economia e na estabilidade dos governos é explosiva. Todos devem pensar duas vezes. E bom senso e caldo de galinha, como nossas avós já diziam, nunca é demais.
*Aristóteles Drummond é jornalista, vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro – [email protected]
Fonte: Aristóteles Drummond