A revolução invisível da inteligência artificial

Em: 17 de julho de 2025

Quando Sam Altman, CEO da OpenAI, afirma que “já passamos do ponto sem retorno” no avanço da inteligência artificial, ele não está apenas descrevendo uma tendência tecnológica. Está fazendo um diagnóstico civilizacional. O ritmo da inovação deixou de ser linear. Agora, ele é exponencial. E com isso, o impacto não será apenas no trabalho, mas na própria definição do que significa ser humano em uma era de máquinas que aprendem, pensam e decidem.

É tentador ver essa revolução como um espetáculo futurista: robôs operando fábricas, data centers se replicando, profissões sumindo silenciosamente. Mas talvez o mais inquietante seja o que não aparece nas telas. A mudança está acontecendo em silêncio, no e-mail redigido por um assistente de IA, na aula planejada por algoritmos, no diagnóstico médico aprimorado por redes neurais. Invisível, mas definitiva.

O discurso de Altman é sedutor e, em certa medida, inevitável. A eficiência cresce, a produtividade dispara, novas soluções surgem em escala inédita. Mas o entusiasmo esconde uma camada incômoda: o desaparecimento de “centenas de profissões” não é um detalhe técnico, é um impacto humano profundo. Como reconfigurar sociedades inteiras onde o trabalho sempre foi central para identidade, renda e pertencimento?

A comparação com acendedores de lampiões é emblemática, mas simplista. Esses profissionais desapareceram com a eletrificação, sim. Mas foram substituídos dentro de um mundo ainda regido por lógicas humanas. A IA, ao contrário, introduz uma entidade que não apenas automatiza, mas aprende e, em alguns casos, supera o desempenho humano em tarefas cognitivas complexas. A escala da disrupção, desta vez, é qualitativamente diferente.

Altman acerta ao apontar os riscos do “problema do alinhamento” e da concentração de poder. Uma superinteligência a serviço exclusivo de interesses corporativos ou geopolíticos seria tão perigosa quanto uma tecnologia sem controle. Mas falar em “acesso justo” à IA soa vago sem mecanismos concretos. Afinal, quem define o que é justo? Quem controla quem controla as máquinas?

O futuro descrito por Altman é promissor, talvez até inevitável. Mas cabe a nós escolher os contornos desse futuro. Será ele desenhado para maximizar a produtividade de poucos, ou para ampliar as capacidades humanas de muitos? Vamos apenas assistir à automação das profissões, ou repensar o que valorizamos como trabalho e contribuição?

A superinteligência pode, sim, nos levar a um novo patamar civilizacional. Mas, como toda tecnologia, ela é um espelho das nossas escolhas éticas, sociais e políticas. O que está em jogo não é apenas o futuro do trabalho. É o futuro da convivência.

*Auditor fiscal e professor.

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).
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