A sucessão na direção da VALE tem permitido uma série de equívocos de maior gravidade para a credibilidade de nosso país no mundo empresarial internacional.
A importância da Vale na mineração, estando entre as três maiores empresas do mundo, empregando mais de cem mil pessoas e presente em dezenas de países, dispensa comentários.
O gravíssimo é que, sendo uma empresa privada, com capital distribuído no mercado nacional e internacional, com cinco ou seis acionistas mais relevantes, o governo quer influir via acionista Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, e eleger um ex-ministro com condenações que vedam sua presença em função pública. O próprio presidente da República, que já criticou a empresa, vem forçando, tenta criar imposto que retira a condição de grande exportador de minérios do Brasil e estuda maneira de fazer caducar licenças de lavras de reserva técnica da empresa e das demais do setor.
Agora uma empresa listou nomes capazes de exercer o cargo de presidente da Vale, todos executivos com experiência em grandes empresas privadas. Claro que o apaniguado não está lá. Tendo o indicado percebido que seu nome seria inviável, mesmo com o jogo pesado do Planalto, desistiu da postulação. Mas consta que o presidente da República já pensa em outro nome para colocar, como se a empresa fosse estatal, sob tutela de seu partido.
Conheço a empresa, pois presidi seu Conselho Fiscal e, quando delegado do Ministério no Rio, ali instalei o gabinete do ministro, nos governos Figueiredo e Sarney.
A Vale nunca sofreu influência política, sempre entregue a servidores da empresa ou públicos, como o caso do General Juracy Magalhães, um estadista que governou a Bahia, presidiu a Petrobras e foi embaixador nos EUA.
Eliezer Batista foi presidente indicado no governo do Presidente Jango Goulart e voltou nos seis anos de João Figueiredo, quando executou do início ao fim o grandioso projeto Carajás e sua ferrovia de mil quilômetros. Seus diretores eram homens da casa, assim como indicou seu sucessor, Raimundo Mascarenhas. No intervalo, os presidentes e diretores eram gestores, muitos mineiros. Assim se formou esta empresa exemplar, que a privatização salvou da politicagem pós-militares e Sarney. No governo deste, ficou sob a guarda do ministro Aureliano Chaves, de reputação ilibada.
O cúmulo do retrocesso seria ver atendida a vontade pessoal do presidente da República, que para tal precisaria constranger conselheiros cujas empresas possam ser alvo de represálias da união.
O governo já afirmou que não tem compromissos com o mercado, mas a empresa tem seus negócios distribuídos em todo mundo. Vai ficar abalada.
A sociedade tem de reagir, chamando a atenção do governo para deixar a empresa por conta de seus acionistas. O presidente tem recuado com sabedoria, como no caso da compra do arroz, e agora da compra de títulos rejeitados pela área técnica da Caixa Econômica, e consta ter mandato apurar a existência de outras operações em fundos estatais no mesmo sentido.
Encerrar o assunto parece ser o melhor para o presidente.