18 de outubro de 2024

A tragédia gaúcha: E agora, Brasil?

O que está acontecendo no Rio Grande do Sul, com sua maior enchente e alagação histórica, é considerado pelos cientistas como mais um sinal dos efeitos deletérios do aquecimento global, para o qual a ação humana tem contribuído negativamente, de modo especial nas últimas décadas, com o aumento das emissões de gases de efeito estufa, como o carbono e o metano. Essas emanações são derivadas do uso maciço de combustíveis fósseis, do desmatamento e da queima de florestas, do descarte incorreto de resíduos, além de outras ações que influenciam no aumento da temperatura. Este processo interfere em diversos fatores climáticos, como o regime das chuvas, das secas e das enchentes. Não é à toa que a atual alagação do rio Guaíba ultrapassou os registros de 1941, o que também ocorreu em outros rios da sua bacia hidrográfica, numa amplitude nefasta.

As ações de socorro emergencial têm mobilizado o Poder Público, as instituições da sociedade civil, igrejas, diversas empresas e a população brasileira em geral. Esta verdadeira corrente de solidariedade contagiou muitas pessoas capazes de serem generosas e empáticas com o sofrimento dos riograndenses do sul, apesar de atitudes maléficas de uma minoria, que pratica roubos, importunações de mulheres e de crianças, e da insensibilidade e descaso de quem prefere produzir fake news e desinformação, em vez de fazer algo útil pelas vítimas desta imensa tragédia.

Os impactos provocados pelas cheias atingiram imediata e diretamente, segundo estimativa da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, aproximadamente 1 milhão e meio de pessoas, tendo ficado mais de 160.000 desalojadas e cerca de 70.000 em abrigos. Dos 497 municípios gaúchos 425 sofreram impactos diretos da intempérie -quase 90% -sendo a capital Porto Alegre atingida de modo intenso, como se depreende das imagens do centro alagado, dos bairros inundados, até do aeroporto cuja pista se transformou num “lago”. O número de mortos, que já ultrapassa cento e vinte pessoas, é atualizado a cada dia, sem falar nas centenas de desaparecidos. Os admiráveis esforços das equipes de resgate têm conseguido diminuir o sofrimento dos que estavam ou ainda estão isolados, buscando sobreviver, com enorme dificuldade. A vontade de ajudar é muito forte e alcança os animais, especialmente cães e gatos, como também outros de maior porte, como o já famoso cavalo Caramelo, resgatado após uma prolongada e sofrida espera em cima do teto de uma casa alagada. Mesmo assim, a mortandade de animais de criação, como bovinos, equinos e suínos foi enorme e também causa tristeza, tanto pelas vidas perdidas quanto pelos grandes prejuízos aos seus proprietários. Isto, sem falar nas plantações de arroz, milho, feijão, uvas, dentre outras, que se perderam. Portanto, muito mais pessoas serão diretamente afetadas pela tragédia no Rio Grande do Sul.

Todo esse impacto tem servido neste momento para unir e mobilizar muitos brasileiros na coleta de donativos, como alimentos, água mineral, roupas e também envio de dinheiro para as instituições e movimentos que estão atuando emergencialmente nas cidades gaúchas. Este é um esforço solidário de milhões de brasileiros, com destaque para os que estão trabalhando voluntariamente nos municípios atingidos. Sem esquecer das equipes de resgate das Forças Armadas, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Civil, Polícias Rodoviárias, Polícia Federal de todo o país e de nações amigas. Também neste campo de resgate há muitos voluntários. Neste momento, o sentimento de pertencimento nos une literalmente do Oiapoque ao Chuí, ou melhor dizendo desta vez, do Chuí até o Oiapoque. O sentido de fraternidade nacional aflora da melhor forma possível, transcendendo diferenças políticas menores, propiciando a cada um de nós fazer alguma coisa e, ao mesmo tempo, aproximando o governo federal, o Governo Estadual e os municípios e demais esferas de poder público. Toda essa diligência é fundamental e preciosa.

No entanto, passado os impactos imediatos, com a retomada difícil da “normalidade” no Rio Grande do Sul, é indispensável que nosso país literalmente acorde para a importância fundamental de cuidar melhor do meio ambiente, como prioridade de fato, não somente como anúncio de intenções que não se concretizam. Além de sermos mais efetivos para o aumento das fontes de energia limpa, são necessários diversos outros cuidados ambientais. Neste sentido, o Brasil pode e deve ser uma Nação de Economia Verde e se tornar assim uma verdadeira Potência Socioambiental.

E nós aqui no Amazonas podemos/devemos ser protagonistas desta transformação de consciência coletiva, na direção de uma cultura de desenvolvimento com sustentabilidade. A seca de 2023, com a enorme vazante dos rios em grande parte do nosso Estado e a fumaça provocada por incêndios de campo e de matas, que literalmente “invadiu” Manaus e outras cidades amazonenses também devem nos servir de alerta.

E agora, brasileiros? E agora, amazonenses? Vamos ficar “parados no tempo” ou vamos mudar?

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

Veja também

Pesquisar