21 de dezembro de 2024

A velhice é uma doença?

Antes de tentar responder, vamos pensar um pouco. Eu tenho 62 anos, e, para algumas atividades me considero normalmente sadio e saudável. Para outras, sirvo apenas como peso para papel. Bem, não é muito exagero. Meu corpo me diz que sou um idoso. Meu cérebro diz o contrário. Às vezes tenho a impressão de que ambos, corpo e cérebro, agem individualmente e quase não se conhecem. Claro que entre ambos tem o tal de coração, que reage a ambos e controla ambos. Bem, os médicos que me perdoem, pois estou tentando ser um leigo um pouco otimista. Mas, continuo leigo.

Há pouco tempo, eu corria, diariamente, em Brasília-DF, da SQS 209 até o Banco Central, ida e volta, todos os dias. Cerca de 6 km. Quem conhece Brasília identifica os locais e a distância. No Rio de Janeiro, eu corria, diariamente, da Urca até a praia de Botafogo, até o monumento que conhecíamos como “pirulito”, ida e volta, todos os dias, cerca de 7 km. Bem, me lembrei que ambas as atividades ocorreram nos anos 1999 até 2003. Quase 20 anos passados. Hoje, minha circunferência abdominal está um pouco avantajada e meu Índice de Massa Corporal (IMC) está brigado comigo, de tão alto. Mas, de vez em quando, ponho um short e vou à esteira aqui do prédio onde moro. E fico feliz e radiante quando consigo andar por 30 minutos…e o equivalente a 1.100 metros! Já discuti com a síndica para trocar a esteira que está me roubando metros…ou, pensando melhor, não sou mais aquele corredor. Isso eu sei, mas o meu cérebro não diz isso.

Bem, a primeira vez que fui ao médico fazer um  check up completo, eu tinha mais de 45 anos. E, naquele tempo, a pressão era 12×8 e ficou assim até o ano passado, 2020. Penso que este ano, 2021, a Ciência alterou os parâmetros de pressão normal e o mercado só produz esfigmomanômetros, ou monitores de pressão, que medem só e somente só 15 x 9, para este articulista que vos digita. Bem, fui ao Cardiologista e ao Neurologista. Fiz dezenas de exames: Ressonância Magnética, Tomografia Computadorizada, Ultrassonografia etc. Na verdade, muitos desses exames eu fiz pela primeira vez na vida, apesar que há mais de 15 anos vou, uma vez por ano (para evitar trocadilhos) ao Urologista receber o abençoado, mas não bem-vindo, toque, para cumprimentar a próstata. Bem, meus médicos ainda não mencionaram a palavra MORTE, mas, todos já disseram que estou no caminho certo e para não sofrer as agruras da vida, tudo pode acabar mais rápido do que eu desejo. Que maneira linda de me assustar! Pensei: faço, hoje, tudo o que eu fazia antes, exceto as corridas: como meu churrasco, bebo minha cerveja, fico horas na frente dos programas da TV fechada…enfim.

Ou seja, faço tudo o que o meu cérebro diz que é bom para mim. No entanto, descobri que quanto mais velha a data de nascimento, temos que nos cuidar mais e mais. E isso só descobri quando precisei ir aos médicos. E tudo em plena pandemia do COVID. Pena, mas agora eu sei que não posso voltar aos 20 e nem aos 45 e nem mesmo aos 61 anos. Mas, sei que não estou um velho caquético, mas, também, não estou um idoso muito saudável. Idoso…a maior vantagem são as filas preferenciais, e o conhecimento adquirido na vida para transmitir aos alunos das faculdades, e só. O cartão de estacionamento também é muito útil.

Tudo bem, alguns podem pensar, não me cuidei ao logo do final da vida adulta e início da terceira idade. Sim, foi isso também. Mas, é danado quando você percebe, de fato e na carne, que o corpo cobra as traquinagens da vida. Mas, se o cérebro continua instigando a fazer, o que fazer então? Eu descobri: se cuide, enquanto pode, pois não importa quando você vai morrer e sim como você viveu e morreu. Será que estou errado? Sim e não. É dúbio, como tudo na vida. Mas, além disso que digitei, tem as artrites e bursites, reumatismos, etc. Ou seja, todos nós, idosos, penamos com o envelhecimento do corpo, de um jeito ou de outro. E, por mais que tenhamos apoio médico e acesso a bons medicamentos, a idade não perdoa: cobra mesmo ! Por fim, voltando à questão inicial: a velhice é uma doença? Sim, é sim. Mas, podemos sofrer com um sorriso e muita vontade de continuar a caminhada da vida, por que, afinal, depois de tudo que vivemos será que vamos nos assustar com uma dor aqui e ali? Sim, e não. A vida segue !

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

Veja também

Pesquisar