19 de setembro de 2024

ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PORVIR (III)

Bosco Jackmonth*

Linhas anteriores se disse da fome como miséria a dizimar povo, para em seguida apurar que no hodierno a obesidade ocupa espaço como causa-mortis. Afastada por hora a ironia da passagem, ainda cabe descrever aquele período da inanição tomado pela morte das populações, conquanto o noticiário ainda sustenta da constância da fome aqui e ali. 

Assim é que bem se sabe qual é a sensação quando não se tem o que comer, ou quando se jejua em alguma data religiosa, ou mesmo por força de consumir apenas vegetais como parte de uma maravilhosa dieta. No entanto, como encarar o não comer durante dias, sem imaginar onde achar a próxima migalha de comida? 

Em geral, não se experimenta mais esse tormento. Sucede, nossos antepassados, pobres deles, o vivenciaram até demais. Quando gritavam a Deus “salvai-nos da fome”, era bem isso que tinham em mente.

Ocorre, durante os últimos cem anos, desenvolvimentos tecnológicos, econômicos e políticos criaram uma rede de segurança cada vez mais robusta, que separa a humanidade da linha biológica da pobreza. Sabe-se, no entanto, que ondas maciças de fome ainda atingem algumas regiões de tempos em tempos, mas são exceções, quase sempre provocadas por políticas humanas e não por catástrofes naturais; há apenas fomes políticas. 

Se pessoas na Síria, no Sudão ou na Somália morrem de fome, é porque alguns políticos querem que elas morram. Sucede, na maioria das regiões, é muito improvável que uma pessoa que perdeu seu emprego e todas as suas posses morra de fome.

Por certo, sistemas de seguro privados, agências governamentais e ONGS internacionais podem não resgatá-la da pobreza, mas a proverão, de um número de calorias diárias suficiente para que sobreviva.

 Sabe-se, coletivamente a rede global de comércio transforma secas e inundações em oportunidade de negócios e possibilita superar a escassez de alimentos de modo rápido e barato. Dá-se, mesmo quando guerras, terremotos ou tsunamis devastem países inteiros, esforços internacionais para evitar a fome são geralmente bem sucedidos.

Embora centenas de milhões de pessoas ainda passem fome quase todos os dias, na maioria dos países o número de mortes por inanição é muito pequeno. Certamente, a pobreza causa muitos outros problemas de saúde, e a má nutrição reduz a expectativa de vida até nos países mais ricos. 

Por exemplo, na França 6 milhões de pessoas (cerca de 10% da população) padecem de insegurança nutricional. Tais acordam cada manhã sem saber se terão algo para comer no almoço; frequentemente vão dormir com fome; e as refeições que conseguem obter são desequilibradas e pouco saudáveis, tipo açúcar e sal em excesso e, por outro lado, carência de proteínas e vitaminas.

No entanto, insegurança nutricional não é fome, e a França do início do século XXI não é a França de 1694. Até mesmo nos piores cortiços em torno de Beauvais ou Paris, as pessoas não morrem porque não comeram semanas a fio. A mesma transformação aconteceu em inúmeros outros países, mais notadamente na China. Durante milênios a fome assolou todos os governos chineses, do Imperador Amarelo aos comunistas vermelhos.

A China, poucas décadas atrás era exemplo de um país que enfrentava a escassez de alimentos. Dezenas de milhões de chineses morreram de fome durante o desastroso Grande Salto para a Frente, e especialistas previam que o problema só iria se agravar. Em 1974, realizou-se, em Roma, a primeira Conferência Mundial sobre Alimentação, e os delegados foram apresentados a cenários apocalípticos. (Continua).

* Advogado de empresas (OAB/AM 436). Ex funcionário do Banco do Brasil, designado Fiscal Cambial junto a agências desta praça comissionado à ordem do Banco Central. Cursou Contabilidade, Comunicação Social Jornalismo e Lecionou História.

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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