ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PORVIR (IX)

Em: 11 de agosto de 2022

Bosco Jackmonth*

O amanhã nos diz, desde hoje, que o próximo segmento das boas notícias é que as guerras estão desaparecendo também. Para a maior parte dos seres humanos, no decorrer da História a guerra era algo certo, inevitável enquanto a paz era um estado temporário e precário. As relações internacionais eram governadas pela Lei da Selva, segundo qual mesmo que duas políticas convivessem em paz, a guerra permanecia como uma opção. Por exemplo, embora em 1913 houvesse paz entre a Alemanha e a França, era óbvio que uma poderia cair no pescoço da outra em 1914.

Quando políticos, generais, homens de negócios e cidadãos comuns faziam planos para o futuro, sempre deixavam em aberto a possibilidade de uma guerra. Da idade da pedra à era do vapor, do Ártico ao Saara, cada pessoa na Terra sabia que a qualquer momento os vizinhos poderiam invadir seu território, derrotar seu exército, chacinar seu povo e ocupar sua terra.

Durante a segunda metade do século XX, a Lei da Selva finalmente foi quebrada, se é que não foi apenas suspensa. Na maior parte das regiões, as guerras eram mais raras. Enquanto nas antigas sociedades agrícolas a violência humana foi a causa de 15% de todas as mortes, durante o século XX a violência provocou apenas 5% dos óbitos, e no início do século XXI foi responsável por cerca de 1% da mortalidade global.

Em 2012, aproximadamente 56 milhões de pessoas morreram no mundo inteiro; 620 mil morreram em razão da violência humana (guerras mataram 120 mil pessoas, o crime matou outas 500 mil). Em contrapartida, outras 800 mil cometeram suicídio, e 1,5 milhão morreram de diabetes. Logo, o açúcar é mais perigoso do que a pólvora. Ainda mais importante, é perceber que, para um segmento cada vez maior da humanidade, a guerra se tornou inconcebível.

Na História, pela primeira vez, quando governo, corporações e indivíduos privados avaliam o futuro imediato, muitos não pensam na guerra como um acontecimento provável. As armas nucleares tornaram uma guerra entre superpotências um ato louco de suicídio coletivo e com isso forçaram as nações mais poderosas da terra a encontrar meios alternativos e pacíficos. Simultaneamente, a economia global abandonou as bases materiais paras se assentar no conhecimento.

Antes, as principais fontes de riqueza eram os recursos materiais, como minas de ouro, campos de trigo e poços de petróleo. Hoje, a principal fonte de riqueza é o conhecimento. E, embora se possa conquistar poços de petróleo na guerra, não se pode conquistar conhecimento dessa maneira. Desde que o conhecimento se tornou o mais importante recurso econômico, a rentabilidade da guerra declinou e as guerras tornaram-se cada mais restritas àquelas regiões do mundo – como o Oriente Médio e a África Central – nas quais as economias ainda são antiquadas, baseadas em recursos naturais.

Em 1998, fazia sentido para Ruanda tomar e pilhar as minas de coltan do vizinho Congo porque era grande a demanda por esse mineral metálico para a fabricação de smartphones e laptops, e o Congo contava com 80% das reservas mundiais.

Ruanda ganhava 240 milhões de dólares por ano com coltan pilhado. Para um pais pobre, como é o caso de Ruanda, era muito dinheiro. Em contrapartida, não faria sentido a China invadir a Califórnia para tomar o Vale do Silício.

Pois, mesmo que os chineses pudessem ser bem sucedidos no campo de batalha, não existem minas de silício para pilhar no Vale do Silício. Em vez disso os chineses ganharam bilhões de dólares como resultado de sua cooperação com gigantes da alta tecnologia, tais como Apple e Microsoft, comprando os softwares dessas empresas e fabricando produtos para elas. O que Ruanda ganhou num ano inteiro de pilhagem do coltan congolês, os chineses ganharam num único dia de comércio pacífico. (Continua).

Advogado de empresas (OAB/AM 436). Ex-funcionário do Banco do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto às agências bancárias locais comissionado a ordem do Banco Central. Cursou Comunicação Social/Jornalismo; Contabilidade e lecionou História.

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]
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