ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PORVIR (XI)

Em: 25 de agosto de 2022

Bosco Jackmonth*

Postas as considerações imediatamente anteriores a respeito da violência traduzida pelos mísseis e bombas em potencial, resta ter em conta o terrorismo. É que mesmo que governos centrais e Estados poderosos tenham aprendido o que é contenção, os terroristas podem não fazer uso de escrúpulos quanto a usar armas novas e destruidoras. Certamente essa é uma possibilidade preocupante.

O terrorismo, assim sendo, é uma estratégia de defesa adotada por aqueles que carecem do acesso ao poder de fato. Ao menos no passado, seu funcionamento era resultado mais da disseminação do medo do que de danos materiais significativos. É que terroristas normalmente não têm o poder de derrotar qualquer exército, de ocupar um país ou de destruir cidades inteiras. Em 2010, enquanto a obesidade e doenças relacionadas a esse mal mataram cerca de 3 milhões de pessoas, terroristas mataram 7697 indivíduos em todo o mundo, a maioria deles em países em desenvolvimento. Para um estadunidense ou europeu mediano, a Coca-Cola representa um perigo muito mais letal do que a Al-Qaeda.

Sucede, então como terroristas conseguem dominar as manchetes e mudar a situação política em todo o mundo? Sabe-se, causando nos inimigos uma desmedida reação. O certo é que na essência o terrorismo é um show. Encenam os terroristas um tenebroso espetáculo de violência que captura nossa imaginação e nos transmite a sensação de estarmos escorregando de volta ao caos medieval. O Estados, em consequência, frequentemente se sentem obrigados a reagir ao teatro do terrorismo com um show de segurança, orquestrando imensas exibições de força, como a perseguição a populações inteiras ou a invasão de países estrangeiros. Na maioria dos casos, essa reação exacerbada representa um perigo muito maior à nossa segurança do que aquele decorrente de atentados terroristas.

A propósito, são como um inseto voador tentando destruir uma loja de porcelana, mas é tão fraco que não é capaz de derrubar uma única louça. Então ele encontra um cão, entra em sua orelha, começa a zunir e o enlouquece a ponto de destruir a loja de porcelana. A passagem imaginada propõe-se a lembrar o que aconteceu no Oriente Médio na última década. Os fundamentalistas islâmicos jamais conseguiriam, sozinhos, derrubar Saddam Hussein. Em vez disso, enfureceram os Estados Unidos com o ataque de Onze de Setembro, e assim destruíram a loja de porcelana médio-oriental. Agora os fundamentalistas florescem nas ruínas. Sozinhos, os terroristas são fracos demais para nos arrastar de volta à Idade Média e restabelecer a Lei da Selva. Podem nos provocar, mas, no fim, tudo depende das reações que apresentamos. Se a Lei da Selva entrar em vigor novamente, não será por culpa de terroristas.

Misérias tais como fome, pestes e guerras certamente continuarão a colher milhões de vítimas na próxima década. Contudo, não são mais tragédias inevitáveis, além da compreensão e do controle de uma humanidade impotente. Em vez disso, tornaram-se desafios que podem ser manipulados. Isso não ameniza o sofrimento de milhões de seres humanos assolados pela pobreza; dos milhões que sucumbem todo ano à malária, à aids e à tuberculose; ou dos milhões enredados na armadilha de violentos círculos viciosos na Síria, no Congo ou no Afeganistão. Não se espera como um todo que desapareçam da face da Terra. (Continua).

Advogado de empresas (OAB/AM 436).  Ex-funcionário do Banco do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto a agências bancárias locais, comissionado a ordem do Banco Central. Cursou Comunicação SociaJ/Jornalismo, Contabilidade. Lecionou História.  

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]
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