Bosco Jackmonth*
Ao final de artigo imediatamente anterior (XI) se disse que à humanidade não cabia mostrar despreocupação com as misérias que nos assolam. Que é exatamente o contrário. Como a História ditava, já que insolúveis, não se cogitava de tentar acabar com tais problemas. Rezava-se a Deus em busca de milagres, mas não se tentava exterminar a fome, as pestes e a guerra. Sobre o que se alega que o mundo em 2016 é tão faminto doente e violento quanto foi em 1916 cristalizam essa visão derrotista antiquada.
Pressupõe-se que todos os esforços empreendidos pelo homem durante o século XX de nada valeram e que pesquisas médicas, as reformas econômicas e as iniciativas de paz foram todas em vão. Se assim foi, para que investir nosso tempo e nossos recursos em mais pesquisas médicas, novas reformas econômicas ou novas iniciativas de paz?
O reconhecer nossas conquistas no passado, estamos enviando uma mensagem de esperança e responsabilidade, que nos incentiva a mobilizar esforços ainda maiores no futuro. Tendo em vista nossas realizações no século XX, se o sofrimento com a fome, as pestes e a guerra, perdurar, não será possível atribuir nenhuma culpa à natureza ou a Deus. Somos dotados da capacidade de fazer as coisas melhorarem e de reduzir ainda mais a incidência do sofrimento.
O reconhecimento, porém, da magnitude de nossas conquistas traz consigo outra mensagem: a História não tolera o vazio. Se as ocorrências de fome, pestes e guerra estão decrescendo, algo está destinado a tomar seu lugar na agenda humana. Temos que pensar com cautela a esse respeito. Caso contrário, poderemos deparar com uma vitória total nos campos de batalha só para sermos pegos completamente desprevenidos em frentes novas. Quais são os projetos que vão substituir a fome, as pestes e a guerra no topo da agenda humana no século.
Consiste um projeto central em proteger a humanidade e o planeta como um todo dos perigos inerentes ao nosso poder. Logramos controlar a fome, as pestes e a guerra graças, enormemente, a um fenomenal crescimento econômico, que nos provê de alimentos, medicina, energia e matérias-primas abundantes. Mas esse mesmo crescimento desestabiliza o equilíbrio ecológico do planeta de maneiras que só estamos começando a investigar.
O gênero humano atrasou-se no reconhecimento desse perigo, e até agora pouco fez para combatê-lo. A despeito de todos os discursos sobre poluição, ameaça global e mudança climática, a maioria dos países ainda terá de fazer sérios sacrifícios econômicos para melhorar a situação. Quando chega o momento de optar entre crescimento econômico e estabilidade ecológica, políticos, executivos e eleitores sempre preferem o crescimento. No século XXI, teremos de fazer melhor do que isso se quisermos evitar a catástrofe.
Por qual outra causa a humanidade deverá se empenhar? Ficaríamos satisfeitos em simplesmente contar nossas bênçãos, manter a fome, as pestes e a guerra sob controle e proteger o equilíbrio ecológico? Este poderia ser realmente o caminho mais sábio de ação, mas parece ser pouco provável que o gênero humano o siga. Raramente nos satisfazemos com o que já temos. (Continua).
Advogado de empresas (OAB/AM 436). Ex-funcionário do Banco do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto a agências bancárias locais, comissionado a ordem do Banco Central. Cursou Serviço Social/Jornalismo, Contabilidade e Lecionou História.