Abordagem histórica sobre o porvir (XV)

Em: 27 de setembro de 2022

Bosco Jackmonth*                                                                                                                                                      

Ao final do artigo imediatamente anterior (XIV) citou-se as figuras de alguns notáveis geron-tologistas, como Aubrey de Grey e Ray Kurzweil, e mais recentemente nomeado outro reputado crente na imortalidade, Bill Maris, para presidir o fundo de investimentos Google Ventures, como já citado no aludido texto. Maris dá suporte a suas corajosas palavras com investimentos pesados. Assim, o Google Ventures está destinando 36% de sua carteira de 2 bilhões de dólares start-up na área de biociência, sobretudo projetos ambiciosos relacionados com a prorrogação da vida. Em curiosa analogia com o futebol americano, Maris explicou que na luta contra a morte “não estamos tentando avançar algumas jardas. Estamos tentando ganhar o jogo”. Por que? Porque, segundo ele, “viver é melhor do que morrer”.

Outros luminares do Vale do Silício, compartilham desse sonho. Assim é que Peter Thiel, cofundador do Pay Pal, revelou recentemente que tem o desejo de viver para sempre. Assim sustenta “acredito que existem três modelos de encarar a morte: Você pode aceitá-la, negá-la ou combatê-la. Nossa sociedade é dominada por pessoas que estão entre a negação e a aceitação; eu prefiro combate-la.”  Muitos irão rejeitar tais declarações por considerar fantasias de adolescentes. No entanto, Thiel deve ser levado muito a sério. Um dos mais bem-sucedidos e influentes empreendedores do Vale do Silício, possui uma fortuna pessoal estimada em 2,2 bilhões de dólares. É bem óbvio: igualdade é out– imortalidade é in.

O vertiginoso desenvolvimento de campos como a engenharia genética, a medicina regenerativa e a nanotecnologia estimulam profecias ainda mais otimistas. Acreditam alguns especialistas que os homens vão vencer a morte por volta de 2200; anunciam outros que isso acontecerá em 2100. Kurzweil e De Grey são ainda mais confiantes: eles sustentam que qualquer pessoa que tenha um corpo saudável e uma igualmente saldável conta bancária terá em 2050 uma chance séria de imortalidade, enganando a morte uma década por vez. 

Segundo esses dois estudiosos, a cada dez anos aproximadamente poderemos ir até uma clínica e receber um tratamento renovador que não só irá curar doenças, como também regenerar tecidos deteriorados e aumentar a eficácia de mãos, olhos e cérebro. Antes de realizar o próximo tratamento, os médicos terão inventado uma série de novos medicamentos, atualizações e uma variedade de dispositivos. Se Kurzweil e De Gray estão certos, talvez já haja alguns imortais caminhando ao seu lado na rua – ao menos se você estiver caminhando por Wall Street ou pela Quinta Avenida. 

Tais pessoas, na verdade, serão amortais e não imortais. Ao contrário de Deus, os futuros super-homens poderão morrer em alguma guerra ou em um acidente de trânsito, e nada os trará de volta. Sucede, diferentemente de nós, mortais, suas vidas não teriam “data de vencimento”. Enquanto uma bomba não os fizer em pedaços ou um caminhão não lhes passar por cima, poderão viver indefinidamente. É bem provável, no entanto, que isso fará dessas pessoas as mais ansiosas da História.

Nós mortais arriscamos diariamente nossa vida porque sabemos que ela, de um jeito ou de outro, vai acabar. Assim, saímos em jornadas no Himalaia, nadamos no mar e participamos de outras ações perigosas, como atravessar a rua ou comer fora. Mas, se acreditarmos que poderemos viver para sempre, seremos loucos se apostarmos com o infinito. (Continua).

Advogado de empresas (OAB/AM 436). Ex-funcionário do Banco do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto a agências bancárias locais, comissionado a ordem do Banco Central. Cursou Comunicação Social (Jornalismo); Contabilidade; Lecionou História Geral. 

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]
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