21 de setembro de 2024

Abordagem histórica sobre o porvir (XVII)

Bosco Jackmonth*

Visto o sustentado no artigo imediatamente anterior da lavra desta estação de escritos semanais dando conta do progresso econômico norte-americano no pós-guerra, anota-se a seguir que a renda real média do Japão multiplicou-se por cinco entre 1958 e 1987, num dos mais rápidos booms econômicos de que se teve notícia. Essa avalanche de riqueza, aliada a numerosas mudanças positivas e negativas no estilo de vida e nas relações sociais dos japoneses, surpreendentemente teve reduzido impacto nos níveis de bem-estar subjetivo da população. Na década de 1990 os japoneses estavam tão satisfeitos – ou insatisfeitos – quanto na década de 1950.

Resta que a impressão que se tem é de que nossa felicidade vai de encontro a um misterioso teto de vidro que não permite seu crescimento, a despeito das conquistas sem precedentes que forem alcançadas. Mesmo que provêssemos alimentos grátis para todos, curássemos todas as doenças e assegurássemos a paz mundial, tudo isso necessariamente não iria fazer em pedaços o teto de vidro. Alcançar a verdadeira felicidade não vai ser muito mais fácil do que vencer a velhice e a morte.

Segue mantido no lugar o teto de vidro sustentado por dois pilares sólidos, um psicológico e outro biológico. No nível psicológico, a felicidade depende mais de expectativas do que de condições objetivas. Não ficamos satisfeitos com uma existência pacífica e próspera. Nosso contentamento, em vez disso, resulta de a realidade corresponder a nossas expectativas. A má notícia é que, à medida que as condições melhoram, nossas expectativas inflam.

Melhoras dramáticas nas condições, como as que a humanidade vem experimentando em décadas recentes, se traduzem em expectativas maiores e não em mais contentamento. Quanto a isso, se não fizermos alguma coisa, ficaremos insatisfeitos também com as nossas conquistas futuras.

No porvir, tanto nossas expectativas como nossa felicidade, no nível biológico, são determinadas mais pela bioquímica do que pela situação econômica, social ou política. Ouçamos Epicuro que assegura a nossa felicidade quando provem de sensações agradáveis e nos sentimos livres das desagradáveis.

No que alcança esse quadro, Jeremy Bentham, de modo semelhante, sustentava que a natureza deu o domínio sobre o homem a dois senhores – o prazer e a dor – e eles sozinhos determinam tudo o que fazemos, dizemos e pensamos.  Já o sucessor de Bentham, John Stuart Mill explicou que a felicidade nada é senão o prazer e a libertação da dor e que, para além de um e de outro, não há nem o bem nem o mal. Aquele que buscar deduzir o bem e o mal de algo diferente (como a palavra de Deus ou o interesse nacional) estará tentando enganá-lo, e talvez enganando a si mesmo também.

Nos tempos de Epicuro, tal discurso seria uma blasfêmia. Nos tempos de Bentham e de Mill, era subversão radical. Mas, no início do século XXI, é ortodoxia científica. Segundo as ciências biológicas, a felicidade e o sofrimento não são mais do que sensações corporais balanceadas de maneiras diferentes. Nunca reagimos a acontecimentos no mundo exterior, somente a sensações que ocorrem em nosso corpo. Ninguém sofre porque perdeu o emprego, porque se divorciou ou porque o Governo deu início a uma guerra.

O que que faz as pessoas infelizes são as sensações desagradáveis verificadas no próprio corpo. Perder o emprego certamente pode desencadear uma depressão, que em si é um tipo de sensação corporal desagradável. São vários os motivos que nos podem fazer ficar com raiva, porém a raiva nunca é uma abstração. Ela sempre é sentida como uma sensação de calor e tensão no corpo, que é o que a torna tão irritante. Não é à toa que dizemos que estamos “ardendo” de raiva. (Continua). 

Advogado empresarial (OAB/AM 436). Ex-funcionário do Banco do Brasil, em Manaus designado a ordem do Banco Central como Fiscal de Bancos junto as agências bancárias locais voltadas para atividades cambiais, seguindo como escriturário lotado na Agência Centro do Rio de Janeiro, Cursou Direito; Comunicação Social (Jornalismo); Contabilidade; Lecionou História Geral; publicou um livro “O ônus do bonus”. 

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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