Bosco Jackmonth*
Inversamente, de acordo com a ciência ninguém fica feliz ao conseguir uma promoção, ganhar na loteria ou encontrar o amor verdadeiro. As pessoas ficam felizes com uma coisa apenas – sensações de prazer no corpo. Se a ciência está certa e nossa felicidade é determinada por nosso sistema bioquímico, então a maneira de assegurar um contentamento duradouro é equiparar esse sistema. Esqueça o crescimento econômico, as reformar sociais e as revoluções políticas: para elevar os níveis globais de felicidade, precisamos manipular a bioquímica humana. E é exatamente isso que começamos a fazer durante as últimas décadas. Cinquenta nos atrás, as drogas psiquiátricas carregavam em seu bojo um grave estigma. Hoje esse estigma foi quebrado. Para o bem ou para o mal, uma porcentagem crescente da população toma remédios psiquiátricos regularmente, não apenas para curar doenças mentais debilitantes, mas também para curar depressões mais corriqueiras e melancolias ocasionais.
Por exemplo, um número crescente de crianças em idade escolar toma estimulantes como a Ritalina. Em 2011, 3,5 milhões de crianças americanas tomaram medicamentos para o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). No Reine Unido, o número se elevou de 92 mil crianças em 1997 para 786 mil em 2012. O objetivo original consistia em tratar distúrbios de atenção, mas hoje crianças totalmente saudáveis ingerem esses remédios para melhorar o desempenho e atender às crescentes expectativas de pais e professores. Muitos se opõem a isso e alegam que o problema está no sistema educacional e não nas crianças. Se existem alunos que sofrem de transtorno de atenção e de estresse e tiram notas baixas, talvez a culpa deva ser atribuída aos métodos de ensino antiquados, às classes lotadas e a um ritmo de vida que não é natural. Talvez devamos modificar as escolas, e não as crianças. É interessante ver como esses argumentos evoluíram. Os métodos educacionais tem sido motivo de discussão a milhares de anos. Tanto na China como na Grã-Bretanha vitoriana, cada um tinha um método de sua preferência e se opunha veementemente às alternativas existentes. Mas há um ponto em que todos sempre concordaram: para poder melhorar a educação, era preciso mudar as escolas. Hoje, pela primeira vez na história, algumas pessoas pensam que seria mais eficaz mudar a bioquímica dos alunos.
Com o exército acontece o mesmo: 12% dos soldados americanos no Iraque e 17% dos soldados no Afeganistão tomavam ou pílulas para dormir ou antidepressivos como recurso para lidar com a pressão e a angústia provocadas pela guerra. Medo, depressão e trauma não são causados por tiros, armadilhas explosivas ou carros-bombas. São causados por hormônios, neurotransmissores e redes neurais. Dois soldados podem estar ombro a ombro em uma tocaia – um vai ficar paralisado pelo terror, perder a noção do que está acontecendo e ter pesadelos durante anos depois do ocorrido e o outro vai avançar corajosamente e ganhar uma medalha. A diferença está na bioquímica dos soldados. Se encontrarmos um modo de controlá-la, de um só golpe produziremos soldados mais felizes e exércitos mais eficazes. (Continua).
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Advogado empresarial (OAB/AM 436). Ex-funcionário do Banco do Brasil, em Manaus designado Fiscal de Bancos junto às agências bancárias voltadas para contratos de importação, a ordem do Banco Central; seguiu escriturário na Agência Centro do Rio de Janeiro; cursou Advocacia, Comunicação Social (Jornalismo); Contabilidade; Lecionou História Geral; e Taquigrafia, atuou como articulista na imprensa local.