6 de outubro de 2024

Abordagem histórica sobre o porvir (XXVI)

Bosco Jackmonth*

Sequenciando o texto posto no artigo imediatamente anterior desta mesma estação de escritos semanais, tratando da bioquímica da felicidade tem-se que ao buscar esse anseio e a imortalidade, os humanos estão na verdade tentando promover-se à condição de deuses. Não só porque esses atributos são divinos, mas igualmente porque, para enfrentar a velhice e o sofrimento, terão se adquirir primeiro um controle de caráter divino sobre o próprio substrato biológico. Se detivermos algum dia o poder de excluir a morte e a dor de nosso sistema, esse poder provavelmente será suficiente para estruturar nosso sistema do jeito que quisermos r para manipular nossos órgãos, emoções e inteligência de várias maneiras. Seria possível adquirir a força de Hércules, a sensualidade de Afrodite, a sabedoria de Atena ou a loucura de Dionísio, se fosse o seu desejo. Até agora, aumentar o poder do homem consistiu principalmente em aprimorar suas ferramentas externas. No futuro, pode tratar-se mais de aprimorar o corpo e a mente humanos ou de fundirmos diretamente com nossas ferramentas. Elevação dos humanos à condição de deuses pode seguir qualquer um dentre estes três caminhos: engenharia biológica, engenharia cibernética e engenharia de seres não orgânicos. 

A engenharia biológica começa com a noção de que estamos longe de constatar todo o potencial dos corpos orgânicos. Durante 4 bilhões de anos, a seleção natural vem fazendo ajustes e correções nesses corpos, de modo que passamos de amebas a répteis, a mamíferos e a Sapiens. Contudo, não há motivo para pensar que Sapiens seja o último estágio. Mudanças relativamente pequenas em genes, hormônios e neurônios foram suficientes para transformar      o Homo Erectus — que não conseguiu produzir algo mais impressionante do que facas feitas de lascas de pedra – em Homo sapiens, que produzem espaçonaves e computadores. O que resultaria de mais algumas pequenas mudanças em nosso DNA, no sistema hormonal ou na estrutura do cérebro? A Bioengenharia não vai ficar esperando pacientemente a seleção natural realizar a sua mágica. Bioengenheiros vão pegar o velho corpo Sapiens e reescrever intencionalmente seu código genético, reconectar seus circuitos cerebrais, alterar seu equilíbrio bioquímico e até mesmo provocar o crescimento de novos membros. Disso resultarão novas entidades divinas que poderão ser tão diferentes de nós Sapiens quanto somos diferentes do Homo Erectus. A engenharia genética dará um passo a mais, ao fundir o corpo orgânico com dispositivos não orgânicos, como mãos biônicas, olhos artificiais ou milhões de nanorrobôs que navegarão na corrente sanguínea com o propósito de diagnosticar doenças e corrigir danos. 

Um ciborgue poderia dispor de capacidade muito além daquelas comuns a qualquer corpo humano. Poe exemplo, para funcionar, todas as partes de um corpo orgânico têm de estar em contato direto umas com as outras. Se o cérebro de um elefante está na Índia, seus olhos e orelha na China, e suas patas na Austrália, provavelmente se trata de um animal morto e, mesmo que, em algum misterioso sentido, esteja vivo, não poderá ver, ouvir ou andar. Em contrapartida esse ciborgue poderia existir em vários lugares ao mesmo tempo. 

Uma médica ciborgue poderia realizar cirurgias de emergência em Tóquio, em Chicago, numa estação espacial em Marte, sem jamais sair de seu consultório em Estocolmo. Ela precisaria apenas de uma conexão rápida de internet e alguns pares de olhos e mãos biônicos. Pensando melhor, por que pares? Por que não quartetos? De fato, mesmo estes são na realidade supérfluos. Por que uma médica ciborgue deveria ter um bisturi na mão, já que poderia conectar sua mente diretamente ao instrumento? Isto poderia soar como ficção científica, mas já é realidade. Recentemente macacos aprenderam a controlar mãos e pés biônicos desconectados do corpo por meio de eletrodos implantados cérebro. Pacientes com paralisia são capazes de movimentar membros biônicos ou de operar computadores apenas com a força do pensamento. Se você quiser, poderá controlar remotamente dispositivos elétricos em sua casa usando um capacete elétrico capaz de “ler a mente”. O capacete não requer implantes cerebrais, uma vez que seu funcionamento depende da leitura dos sinais elétricos que passam no couro cabeludo. Se quiser acender a luz da cozinha, apenas coloque o capacete, imagine algum sinal previamente programado (movimentar a mão direita, por exemplo), e o interruptor é acionado. Pode comprar um capacete desses on-line por menos de quatrocentos dólares. (Continua).                           

Advogado empresarial (OAB 436), ex-funcionário do Bco.do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto as agências bancárias locais sob ordem do Bco.Central; Cursou Comunicação Social (Jornalismo); Contabilidade; Lecionou História Geral. 

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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