O planejamento não diz respeito às decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes
Peter Drucker
Me lembro do inicio deste século, estávamos no meio de uma das maiores e mais intensas mudanças de comportamento em nossas vidas. Como pano de fundo as novas tecnologias do final do século XX que as provocavam. Mudaram as relações entre as pessoas, os profissionais, os mercados e tudo estava vibrante e acontecendo com muita velocidade. Dizem que quando somos pegos por um furacão, o início é violento, assustador e apenas nos damos conta da realidade terrível do que estamos passando, até chegarmos – se chegarmos – ao olho do furacão. Aí, uma breve tranquilidade, um momento para refletir e tomar iniciativas para aguentar a volta da turbulência.
Novo milênio, o Brasil tinha resolvido a hiperinflação, dado uma arrumada na casa, o mercado cada vez mais global, as relações de poder nas equipes estavam se horizontalizando, os milênios estavam nascendo, a nova geração que hoje conquista seu espaço no mercado. O “eu mando, você obedece” vai cedendo espaço à eficiência colaborativa.
O pensador, o Guru dos Gurus, o papa do Management ou como ele se definia; um Ecologista Social que investigava o modo como as pessoas se organizam e interagem entre si, o Sr. Peter Drucker foi várias vezes o olho do furação para muitos empreendedores. Até hoje seus ensinamentos e insights nos revigoram e incentivam a buscar a eficácia em nossas ações e na vida profissional.
Peter Drucker
Nascido em 1909 em Viena, foi educado na Áustria e na Inglaterra, onde em 1929 era correspondente de um jornal e economista num banco internacional. Foi para os EUA em 1939 trabalhando para um Grupo Financeiro Inglês. De lá fez consultorias para muitas grandes empresas, governos e ensinou algumas gerações. Já em 1960 lançou o Livro The Age of Discontinuity (A Era da Descontinuidade), um brilhante estudo que nos mostra que não podemos predizer o futuro simplesmente com a extrapolação do passado.
Chamando a atenção para a continua, geral e rápida mudança em vários segmentos, para a intensificação da competição, o ritmo acelerado da globalização dos negócios, o contínuo aumento das expectativas das qualidades dos produtos e serviços pelos consumidores, assim como a expectativa crescente por parte dos empregados a respeito da qualidade da vida no trabalho, entre outras. Isso em 1960. Eu era criança, soltava peão, pipa (papagaio, pandorga, maranhão…) e brincava de pega-pega.
A Disrupção, a Discontinuidade acelerada, que ainda hoje assistimos, merece um artigo mais detalhado, mas na virada do século este senhor nos surpreendia e me dava momentos de estar no olho do furacão recebendo insights, que muito me auxiliaram e a tantos outros. Falecido em 2005, lúcido, nos deixou um legado impressionante. Suas últimas entrevistas – ainda me lembro da satisfação de lê-las – e de como até hoje, expõe com simplicidade tantas e tantas idéias e nos mostra com clareza coisas que muitas vezes não conseguimos enxergar.
Vale a pena lembrar trechos delas, aos 95 anos ele fala do nosso país: “ No Brasil, vocês tem um enorme desafio de integrar economicamente o Norte e o Sul. Há um longo caminho a percorrer, mas, se formos comparar o que há hoje com o que havia quando estive no Brasil pela primeira vez, vocês já percorreram boa parte do caminho…Devo dizer que vocês no Brasil talvez sejam críticos demais. Quando se coloca o progresso brasileiro num gráfico, observando a tendência geral, eliminando os pontos extremos, sua curva de desenvolvimento é uma das mais fortes da história. Mas os brasileiros parecem só acreditar em extremos: acham que estão lá no alto ou lá embaixo, nunca no meio. Nos últimos 50 anos vocês passaram por cinco booms econômicos e cinco ou seis colapsos. Mas mostraram como empresas e pessoas, enorme maleabilidade e resistência.”
Em outro trecho desta entrevista a HSM Management em 2005:
“Eu apontaria como questões centrais essa integração, (Norte e o Sul) e a solução do problema racial. Vocês tem o maior problema racial do mundo, depois da África do Sul – e o estão enfrentando. Ninguém mais poderia fazer o que estão fazendo. Não digo que é perfeito, mas o fato é que ninguém até hoje conseguiu criar uma sociedade verdadeiramente multirracial e vocês estão perto de realizá-lo.” No meio de mais um grande furacão patrocinado por esta pandemia, suas ideias e ensinamentos ainda abrem este olho, e podemos enxergar com mais clareza.