Afirmar que a floresta acaba com o fim da ZFM não é verdade e despreza a ciência

Em: 26 de abril de 2022

Além de não ser verdadeiro, esse é o pior argumento para defender o programa ZFM. A floresta em pé foi mantida pelo nosso caboclo por diversos motivos, e quase nada ou nada pelo programa ZFM. É só lembrar que, após cinco décadas de programa ZFM e de floresta em pé, em 2018, o IBGE divulgou que metade do Amazonas estava na pobreza. Portanto, essa conta não bate, há algo errado e devemos mudar de procedimento na defesa, ou seja, usar os fartos argumentos técnicos que existem. Recentemente foi a vez do senador Eduardo Braga afirmar que a “…floresta acaba com o fim da Zona Franca…”. Faltou assessoria, pois, como já disse, isso não é verdade e despreza a ciência. Essa afirmativa prejudica o setor primário do Amazonas, o interior, nosso produtor rural, agricultor familiar, extrativista, pescador, piscicultor, manejador, porque a ciência, os pesquisadores, em especial os da nossa Embrapa, afirmam que é possível integrar lavoura, pecuária e floresta. É só digitar no google ou no site da Embrapa e pesquisar o que é ILPF. Em 2002, o Eduardo trouxe de volta a Sepror (nem secretaria tínhamos e pleito da Faea), estruturou o setor e criou bons programas, mas sua área ambiental só pensou na floresta e esqueceu de quem dela e nela vive, as pessoas. Só travas e lentidões na área ambiental que permanecem até hoje (inclusive no governo Wilson) e que deixou o stado com metade passando fome. Com tanta tecnologia e satélites isso não destrava. Não entendo! Nem vou comentar nada dos governadores que vieram depois do Eduardo, e antes do Wilson, porque realmente pouco ou nada fizeram pelos 350 mil produtores rurais. Ajudei na construção do programa de governo do Eduardo na campanha eleitoral vencida pelo professor José Melo. Não foi possível saber se o programa seria implementado porque perdeu a eleição. Acredito que seria pelos assessores que tinha à época. Também ajudei na construção do programa de governo do Wilson Lima, venceu a eleição, e vários resgates históricos foram feitos em três anos. É, de fato, na minha opinião, o mais presente junto ao nosso setor e com conquistas de programas que estavam travados no âmbito federal há duas décadas. Entre eles, o Garantia Safra, ZARC e com o lançamento de dois amplos e técnicos planos safras. É lógico que ainda temos demandas reprimidas, que nem tudo do plano safra foi executado, que promessas ainda não foram cumpridas, há ajustes urgentes a serem feitos, em especial na questão que envolve as compras públicas do Estado/ADS (erros que já vem de gestão antigas e continuam até hoje) e no acesso ao crédito rural do setor agropecuário do Estado. Contudo, na questão ambiental, o travamento continua e por esse motivo continuamos revezando entre os últimos e penúltimos lugares no acesso aos bilhões do Pronaf (no meu blog Thomaz Rural tem os números de 2021). Recursos para gerar emprego e renda no campo que nunca chegaram como deveria ao Amazonas. Nem os agroecológicos andam por aqui. Nem o ZEE temos, também travado pela área ambiental. Não adianta culpar nem o atual nem os ex-presidentes do Brasil, nós erramos em só dar atenção ao programa ZFM esquecendo o agronegócio familiar e empresarial. Ambos poderiam e podem andar juntos. (veja vídeo do Paulo Guedes que está no meu blog Thomaz Rural). Entendo que o atual governo Wilson Lima iniciou esse resgate do agronegócio familiar e empresarial no Amazonas, que não tenha retrocesso seja quem for o próximo governador, ou a continuidade do atual, mas para andar mais rápido, e reduzir a dependência do PlM (não tem candidato a presidente em 2022 que vai nos salvar dos ataques ao PIM) é só respeitar a ciência, os pesquisadores da Embrapa, e usar verdadeiramente a floresta em pé para gerar renda digna (falei digna) ao povo que a protegeu, e não somente a alguns privilegiados. Acabar com o vergonhoso bolsa floresta que iniciou lá atrás com R$ 50 e agora tá R$ 100 é uma atitude mais do que urgente. Não tem outra expressão para definir esse valor do que a palavra “imoral” pela tamanha importância da nossa floresta ao planeta terra. Pode até manter o mesmo nome, mas nunca de 50 ou R$ 100. Temos uma riqueza imensa em nosso Estado, é só mostrar ao mundo que, apesar dessa riqueza e nossa importância para a saúde do planeta, temos metade do Estado sem ter o que comer. Temos que mostrar ao mundo que a ciência já sabe que é possível desenvolver o agronegócio familiar e empresarial com total respeito ao código florestal. Ainda vou postar aqui comentário sobre a entrevista do responsável pela WWF Internacional. Já temos satélite suficiente para acompanhar tudo na Amazônia, ou melhor, no Amazonas. A única coisa que esses satélites não estão captando é o estômago vazio e as condições de saúde do povo que manteve a floresta em pé. Já vi várias, belas e fundamentadas defesas do PIM, do programa ZFM, por técnicos da Fieam, e outros atores, com fartos argumentos técnicos sem envolver a floresta, inclusive pelo próprio presidente da Fieam, Antonio Silva. Usar a floresta para negociar a manutenção dos incentivos não é estratégico nem verdadeiro.

Thomaz Meirelles

Servidor público federal aposentado, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: [email protected]
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