21 de dezembro de 2024

Água para todos e a gestão municipal – Parte Final

Divulgação

Vivemos um período geológico de mudanças climáticas na Terra e as cidades precisam estar preparadas e serem cuidadas para que não continuem sendo palco de tragédias, muitas anunciadas pelos especialistas.

Existem aqueles que defendem um aquecimento global, outros, acreditam que a Terra está esfriando. 

Certa vez em Manaus, assisti a palestra do Professor Doutor Molion, renomado geocientista especialista em Clima. Ele iniciou a palestra perguntando ao público presente: quem acreditava que a Terra estava esquentando? Todos, com uma exceção, levantaram as mãos. 

Alguns me chamam de cético por não acreditar em aquecimento global. Mas, como geólogo, estudei que o planeta possui uma história de transformações ambientais e climáticas. 

Se o planeta é dinâmico, a história geológica dele também é. Em período de mudanças climáticas, as cidades precisam ser resilientes.

De certo, explicava o professor Molion, independente do planeta estar, ou não aquecendo, o período de mudanças climáticas implica na presença de eventos extremos, secas e cheias muito grandes, chuvas concentradas que poderiam e podem provocar alagamentos e tragédias nas cidades, principalmente, àquelas que se localizam próximas aos rios ou são cortadas por eles.

Como nossa população mundial desde a virada do século XX migrou do campo e das áreas rurais para as cidades, vemos repetir tragédias no Brasil e pelo mundo, retrato da falta de planejamento urbano ou de ocupações espontâneas em áreas de risco.

Há no site do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) – www.cprm.gov.br – diversos estudos sobre áreas de risco no Brasil que podem ser consultados pelos gestores municipais, principalmente, os da Defesa Civil, no sentido da busca de investimentos públicos à prevenção de acidentes por obras de engenharia e drenagem, bem como, à remoção de moradores e moradias em terrenos localizados no caminho da água da chuva. 

Ao concluir o artigo, quero ressaltar um dado que se revela, ao mesmo tempo, um desafio às cidades, e, um peso no nosso bolso como consumidores: o desperdício da água.

Dados oficiais da empresa concessionária dos serviços de água em Manaus trabalham com uma perda de 40% por vazamentos e ligações clandestinas no sistema. 

Fiz uma conta rápida: um pequeno vazamento de 2 milímetros no encanamento pode desperdiçar por dia, mais de 3.000 litros de água. Na conta, o vazamento representaria um adicional de cerca de R$ 12,00. 

Sabe aquela torneira pingando. No final do mês, representará um consumo de 2.000 litros, que, desperdiçados, equivalerão a mais de dez vezes o consumo médio diário por pessoa em uma casa.

Imagine, agora, cuidar de um sistema em Manaus que desperdiça, entre vazamento e ‘gatos’, mais de 250 milhões de litros de água retirados do rio Negro, tratados e distribuídos diariamente… 

É um volume muito grande, insustentável e não podemos pagar esse preço.

Trabalhando desde 2018, a empresa concessionária se propõe a investir R$ 880 milhões até 2023 e tem por objetivo até 2030: universalizar o abastecimento de água na cidade; e ampliar o acesso ao esgotamento sanitário, dos atuais 35% para 80%. 

Sou do tempo da ‘COLAMA’ onde sequer podíamos usar roupas claras. 

Assim, não se trata de discutir sobre a forma operacional de como o sistema vai funcionar, mas, sob quais indicadores de desempenho o Estado concedente, neste caso, a Prefeitura – pretende trabalhar, cobrando, principalmente, a implantação e operação de um robusto sistema de coleta e tratamento do esgoto em Manaus. 

Até esse momento, a ‘universalização’ do serviço de abastecimento de água na cidade está sendo feita, apenas, na eficiente cobrança das taxas de esgoto nas nossas contas. Acredito que podemos exigir mais: quem sabe, uma eficiente proposta para uma coletiva ‘pegada hídrica por Manaus’.

Neste ano de eleições, nosso desejo por bons candidatos, comprometidos com uma agenda positiva de água para todos, oxalá, uma Manaus 2030, desenvolvida e saneada, onde todos e todas tenham à liberdade de acessar água potável e igarapés com qualidade ambiental e de vida plena.

*Daniel Borges Nava é Geólogo, Analista Ambiental e Professor Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia

Fonte: Daniel Nava

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM

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