18 de novembro de 2024

Amazônia – benefício imediato e desmate sem volta

Com o aumento de 57 milhões de habitantes a cada ano segundo a ONU, equivalentes à população atual dos 9 estados do Nordeste brasileiro, o planeta precisará produzir mais madeira, mais carne, mais vegetais, mais minérios e disponibilizar mais espaço para ocupar, ano após ano.

A Amazônia continuará suprindo parte desta demanda inclusive territorial por questões até de sobrevivência da população, e num processo de legitima defesa humanitária, a preocupação com as futuras gerações poderá ser ofuscada pela fome imediata e o meio ambiente não seria tão prioritário.

Neste cenário, pelo tamanho da região, e por este motivo, não há ainda nenhum aparato que possa debelar os incêndios anuais para obtenção de pastos e grilagem, ou impedir a extração de madeira, tornando o desmate atualmente um processo crescente e sem volta no horizonte das próximas décadas.

Parte dos 28 milhões de amazônidas que a habitam, comandados por algumas dezenas de líderes que talvez nem estejam no território, têm tido êxito na operação de extrair dela os benefícios, em grande parte de forma criminosa.

Esta dinâmica é que tem definido quantos Km² serão desflorestados a cada ano, a revelia de qualquer comando de governo, que apenas comparece com a aplicação de multas em alguns casos cujos valores na quase totalidade não são recolhidos em razão da esdrúxula estrutura judicial do país.

O Estado conta apenas com a chuva para apagar o fogo, tem tido ao longo dos anos um orçamento orgânico para o setor com valores que beiram ao ridículo em relação à demanda conhecida e está estruturado com agentes do crime imiscuídos em suas instituições, tanto no poder executivo quanto no legislativo e no judiciário, quadro que explica a realidade verificada no noticiário diário. Estes agentes vêm sendo renovados num processo de cooptação permanente que oferece o enriquecimento rápido, e que tem robustecido o sistema ao longo do tempo.

Não há projeto de rompimento deste esquema porque a tentativa de criá-lo se inviabiliza ao ter que nascer no seio do corporativismo das instituições contaminadas, o que não permite o seu avanço.

Talvez a proximidade de exaustão da Amazônia em mais algumas décadas converta esta prática, mas até lá, o fim do desmate continuará sendo ainda um discurso apenas político, como tem sido até os dias atuais.

Há ainda o efeito que estamos vivenciando do que pode ser o início de um ciclo climático excepcional de longa duração, ainda desconhecido, ao invés de serem apenas os episódios raros de outrora. Não se sabe ao certo nem o que nos aguarda e nem por quanto tempo.

Até a atividade mesmo lícita também colabora com este futuro de inexorável redução da cobertura florestal da Amazônia, quando, como exemplo, propõe reduzir os 80% de reserva legal obrigatória nas propriedades privadas, sob alegação de ser necessária a redução do custo da manutenção desta preservação. É a conhecida cultura brasileira pela qual, neste caso, o investidor que fez o negócio, mesmo sabendo deste custo, depois quer mudar a regra em seu benefício próprio.

Ainda, o propalado benefício da umidade da floresta que, como dito, se daria através da circulação forçada pelos Andes, o que fortaleceria a produção do agronegócio no Centro Oeste, parece ser considerado mais uma fantasia do que uma realidade científica, já que o desmate continua no caminho inverso à lógica da preservação, desacreditando o tal benefício como anunciado. Se não for fantasia, é mais uma evidência do interesse imperativo e sem controle de obtenção do benefício imediato que comanda a região.

Se reconhecido este contexto como verdadeiro, uma alternativa ao desmate, que continua seguindo sem volta, talvez seja uma sistemática robusta de monitoramento amplo da região, supervisionada por controle popular que o crime não alcance.

Tecnologia, recursos e população consciente existem, mas seria preciso uma liderança que ainda não despontou.

Enquanto isso, Amazônia, aproveite-se quem puder!

 

(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Contabilista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

Juarez Baldoino da Costa

Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós- Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.

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