Por Juarez Baldoino da Costa(*)
Sendo apenas 1,4% da superfície da Terra, os 7,2 milhões de Km² das florestas da Amazônia Continental tem poder restrito para provocar efeito relevante no clima global, frente aos 510 milhões de Km² do planeta.
Ainda que se considere alguma influência de refrigeração, ela tem efeito contrário, já que a temperatura média da região é de 30°C e a média mundial é de 15°C. Com esta temperatura a Amazônia contribui para aquecer a camada de 17 Km de altura a partir da superfície do planeta onde se situa a troposfera.
Além disto, a umidade dos chamados Rios Voadores da Amazônia originados em Marajó, que é desviada para a parte central da América Latina pelo paredão de 4.000 Km de altura das montanhas andinas, lá se dissipa, não conseguindo interferir no clima do Nordeste brasileiro, por exemplo. E se o Nordeste do país já não sofre esta influência, o planeta como um todo não poderia ser alcançado pelo fenômeno.
No caso da captura de dióxido de carbono (CO2) que a Amazônia já vem fazendo há milênios, sua capacidade para realizar a tarefa ainda é de 84% de floresta ainda não derrubada (os outros países amazônicos têm taxas semelhantes).
Os 16% que sobram foram desflorestados gradativamente nos últimos 35 anos e não cumprem esta função na plenitude.
Ocorre que 16% de 1,4% representam apenas 0,2% do território amazônico, percentual que não teria poder suficiente para causar impacto negativo relevante na tarefa de reduzir a retirada de CO2 da atmosfera.
Os 300 bilhões de t de CO2 que seriam lançados na atmosfera se forem derrubados 60% da floresta nos próximos 30 anos, segundo estimou o pesquisador Carlos Nobre durante a 74ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) realizada na UnB em Brasília em 25/07/2022, afetariam o clima mundial. Esta razão seria então de 10 bilhões de t por ano, o que teria uma participação relativa de pouca influência se computados outros dados.
Entre estes outros dados, o também pesquisador Paulo Artaxo da USP estima que são lançados na atmosfera 40 bilhões de t de compostos por ano, o que resultaria em 1 trilhão de t lançadas nos últimos 25 anos (vide artigo deste autor na edição de 19/11/2022 do Jornal do Commércio do Amazonas). A Amazônia lançou, pelas queimadas, segundo o MapBiomas, 1,2 bilhão de toneladas ao ano, ou apenas 0,3% dos 40 bilhões lançados pelo planeta.
Como o clima do planeta oscila entre períodos brandos de chuvas e de temperaturas normais, e outros períodos com estes eventos na categoria de extremos, todos em intervalos não regulares, e que seriam causados pela La Niña e pelo El Niño, o estoque de 1 trilhão de t parece não causar influência linear nos Niños. Mesmo que causasse impacto, haveria um fenômeno ainda não compreendido que anula os efeitos do trilhão de t em determinado período e os libera em outro. Se o estoque deste trilhão de t de Paulo Artaxo já não produzem efeitos lineares e continuados, certamente os apenas 10 bilhões de t de Nobre, que representam apenas 1% do total, não terão influência expressiva no processo.
A pesquisadora Luciana Gatti do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, concluiu pesquisa publicada na Revista Exame de 22 de agosto de 2021 na qual identificou que a Amazônia absorve cerca de 130 milhões de carbono em média por ano, quantidade acanhada e abaixo da casa do bilhão, o que fora uma surpresa para Gatti, segundo sua entrevista.
Todos estes dados, no geral, destoam do senso comum que se percebe sobre a Amazônia, e torna as discussões ainda mais controversas inclusive no campo científico.
Pela modesta participação territorial da região na área total do planeta, pela sua temperatura mais quente equivalente ao dobro da média mundial, pelo alcance reduzido do deslocamento dos Rios Voadores e pela baixa relação de impacto do seu movimento com o CO2, a influência da Amazônia nas chamadas mudanças climáticas parece menor do que se tem propalado.
Todo este contexto ocorre ainda ao mesmo tempo em que o planeta gira a uma velocidade de 1.670 Km/h para conseguir completar seu dia de 24h, e translada a órbita solar à velocidade de 107.000 Km/h para completar os 365 dias do ano. E neste ritmo, há centenas de lagos na Amazônia que em determinadas épocas amanhecem com suas águas inertes tal qual espelhos, e a folhagem da floresta se mantém imóvel como se fora uma fotografia do estático mormaço amazônico.
Este complexo conjunto de variáveis de toda ordem indica que as mudanças climáticas, que são um fato, têm origens que ainda não estão claras, mas ao que parece, a Amazônia contribui com uma parcela que não é das maiores.
(*) Amazonólogo, MSc em Sociedade e Cultura da Amazônia – UFAM, Economista, Professor de Pós-Graduação e Consultor de empresas especializado em ZFM.