Junho é um mês cheio de datas dedicadas ao Meio Ambiente, um tema incluindo em nossa Constituição Federal (CF), cada vez mais valorizado em países comprometidos com a melhoria da qualidade de vida da sua população e com a Agenda de 2030. Então, indo na contramão das celebrações, este artigo mostra o quanto temos sido aniquiladores do nosso meio ambiente.
A partir do dia 01/06 celebra-se a Semana do Meio Ambiente, dia 03 é dedicado ao Dia Nacional da Educação Ambiental, dia 05 comemora-se o Dia da Ecologia, bem como o Dia Mundial do Meio Ambiente, e hoje, dia 08, é destinado para celebrar o Dia Mundial dos Oceanos e o Dia do Oceanógrafo. Em apenas 8 dias, há tantas datas para comemorar, mas um olhar crítico mostra que não temos muito o que festejar.
Primeiro) do ponto de vista global e histórico, o Brasil é o quarto maior vilão em relação às mudanças climáticas
Estudo publicado em out/21 <https://bit.ly/3x8qvIP >, pela Carbon Brief, respondeu a seguinte questão “Quais países são historicamente os mais responsáveis pelas mudanças climáticas?”.
Para tanto, eles analisaram a quantidade de CO2 emitido por vários países, entre 1850 e 2021. Como resultado, chegaram a conclusão de que a humanidade já despejou cerca de 2500 bilhões de toneladas na atmosfera e os cinco países vilões são: 1) EUA com 509 GtCO2 ; 2) China com 284 GtCO2 ; 3) Rússia com 172 GtCO2 ; 4) Brasil com 113 Gt CO2 e 5) Indonésia com 102 GtCO2 .
Segundo) O Brasil tem sido mau gerenciador de suas florestas, terras e rios
Dando continuidade ao estudo supracitado, em relação ao Brasil, descobriram que o país representa quase 5% do total dessas emissões, com uma descoberta interessante! Diz respeito à origem da emissão do CO2, dividida em dois grupos, uma relacionada às emissões oriundas de combustíveis fósseis (incluindo cimento) e outra sobre emissões geradas pelo uso da terra e florestas.
Enquanto no Brasil 86% (88GtCO2) das emissões vieram do uso da terra e florestas, esse índice é bem menor nos EUA (17,5%), na China (15%) e Rússia (32%). Para se ter ideia, a Mata Atlântica tem sido uma das mais agredidas do planeta, pois já perdeu 87,6% de sua vegetação natural desde 1500, maioria destruída no último século <https://bit.ly/39673EQ e https://bit.ly/3xeA0rA>. Só no Estado do Espírito Santo, estima-se que 3 bilhões de árvores foram sacrificadas nas últimas quatro décadas, o que significaria perto de 8500 árvores mortas por hora <https://bit.ly/3Me0m0Z>.
E um estudo inédito realizado por pesquisadores do MapBiomas, publicado em set/21, revelou, a partir de imagens de satélite, que entre 1985 e 2020, a Amazônia já perdeu cerca de 75 milhões de hectares de sua vegetação original, uma área do tamanho de países como o Chile ou Zâmbia. E segundo estatísticas envolvendo nossos biomas <https://mapbiomas.org/infograficos-1>, observamos que entre 1985 e 2020:
2.1) o Brasil teve uma perda líquida (balanço entre perda/desmatamento e ganho/regeneração) de vegetação nativa na ordem de 82 Mha (milhões de hectares), maioria ocorrida na Amazônia (44,5 Mha = nove vezes a área do Estado do RJ), seguido pelos biomas Cerrado (27 Mha), Caatinga (6 Mha), Mata Atlântica (4 Mha) e Pantanal (0,9 Mha). Apenas a região do Pampas apresentou crescimento de 0,2 Mha;
2.2) Cerca de 167,3 Mha foram queimados pelo menos uma vez no Brasil durante o período, 73,3 Mha queimados no Cerrado, 69 Mha na Amazônia, 8,8 Mha na Caatinga, 8,6 Mha no Pantanal, 7,1 Mha na Mata Atlântica e 0,2 Mha no Pampa. Os cinco maiores vilões em queimadas foram o Mato Grosso (38,9 Mha), o Pará (21,5 Mha), o Tocantins (16,6Mha), o Maranhão (15,5Mha) e a Bahia (11,6 Mha);
2.3) 59% das bacias hidrográficas do Brasil reduziram a superfície de água. E nesse período, o nosso país perdeu cerca de 1,36 Mha de superfície desse precioso líquido;
2.4) o Brasil teve um aumento de 600% na área de mineração, tanto industrial quanto de garimpo, com 50% de aumento de área de garimpo em áreas de Unidade de Conservação ou Terras Indígenas.
Entre 2010 e 2020 houve 300% de aumento da área garimpada dentro de Unidades de Conservação. Para se ter ideia, apenas em 2020 foram cerca de 206.100 hectares de superfície de área minerada no Brasil. Os biomas mais afetados em 2020 foram Amazônia (149.393 ha; 72,5%), a Mata Atlântica (30.278 ha; 14,7%) e o Cerrado (20.509 ha; 9,9%). Os estados mais afetados são o Pará (110.209 ha), MG (33.432 ha), Mato Grosso (25.495 ha), Rondônia (7282 ha) e Amazonas (6259 ha).
2.5 Em relação à Amazônia esse bioma:
a) em 36 anos perdeu 11,6% de sua cobertura de vegetação nativa, especialmente por conta da agricultura e pastagem, sendo que 36,2% da perda ocorreu no Pará;
b) entre 1999 e 2020 (20 anos) a região perdeu 19.569 Km2 de superfície de água, uma redução de 16,4%.
Se mudar a fonte e usar a taxa de desmatamento acumulado por ano na Amazônia Legal, a partir da plataforma Terrabrasilis <https://bit.ly/2S25BL0>, entre 1988 e 2021, descobre-se que em 34 anos, cerca de 47.027.500 hectares foram desmatados, cerca de 9,25% da Amazônia.
E se avaliarmos o desempenho de cada Presidente, a partir do % de aumento de área desmatada, entre o 3o e 1o ano de gestão, de 1988 a 2021, descobriremos que o pior é Bolsonaro, com um aumento de 28,72% de área destruída entre 2019 e 2021, seguido por Dilma/Temer (11,92%; 2015 e 2017) e FHC (5,25%; 1999 e 2001). Em termos absolutos, o pior Presidente foi Lula, entre 2003 e 2005, foram 7.218.200 de hectares destruídos. Seguido por FHC (95 a 97; 6.044.700 ha), FHC (99 a 2001; 5.365.000 ha), Collor/Itamar (90 a 92; 3.854.600 ha) e Bolsonaro (2019 a 2021; 3.401.800 ha).
Se levar em conta o número de espécies em cada hectare de floresta, estimado pelo Dr. Jos Barlow <https://bbc.in/3ipQNz9>, então em 47.027.500 hectares desmatados entre 1988 e 2021, cerca de 14,6 bilhões de árvores foram mortas, 7,5 bilhões de pássaros, 1,5 bilhões de anfíbios, 470,3 milhões de primatas foram mortos ou deslocados de seu habitat, uma hecatombe que deveria ser motivo de reflexão séria por cada brasileiro.
Terceiro) O Brasil tem estado entre os quatro países mais perigosos para os que defendem seus territórios, o direito à terra e o meio ambiente <https://bit.ly/3aIs2y8>, com diversos assassinatos contra indígenas e defensores ambientais como o Chico Mendes e Irmã Doroti.
Finalmente, diante de tantos crimes, profunda recessão, retrocessos e crônica ausência de um projeto de desenvolvimento sustentável para a nação, vale a pena votar em Lula ou Bolsonaro? até quando aceitaremos tantos aniquiladores ambientais? para que serve nossa CF? em especial seu Artigo 225 que reza “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”