16 de setembro de 2024

“Aprendizados”

Desde garoto, aprendi a acreditar na “Política” como um instrumento valioso – e democrático – de construir o Bem Comum, conjugando o melhor das pessoas para as tarefas coletivas de maior importância para a sociedade.

Exerci atividades políticas com amor, fé e esperança. Acredito que o Poder Público existe para auxiliar no processo de transformações sociais que visem uma vida melhor para a população, com prioridade para os segmentos mais vulneráveis. Mas penso que o Estado não deve sufocar a capacidade empreendedora da sociedade e sim estimulá-la, coibindo os desvios cometidos por gente inescrupulosa que somente pensa no “próprio bolso”. Esta “regulação” do mercado não deve se tornar opressora, precisa ser eficiente e transparente, moderada, contida. A democracia é o único regime que permite de verdade a coexistência equilibrada entre os agentes econômicos e a própria sociedade. 

Na minha adolescência existia a ditadura, que nos proibia de exercer a cidadania plena. O regime nos calava e nos oprimia. Muita gente sofreu injustamente por desejar um país melhor. Meu pai foi perseguido, chegou a ser preso e proibiram as empresas de São Paulo de contratá-lo. Ficou desempregado e ameaçado por defender, fora de qualquer partido político, os direitos de trabalhadores comuns. Outras pessoas sofreram injustiças até maiores, inclusive tortura e morte de pessoas inocentes.  É fato que também houve excessos por parte de quem não aceitava o regime militar e o combateu por meio da luta armada, como os chamados  “terroristas”, por exemplo. Nem todos defendiam a democracia, mas a tinham como pretexto para tentar implantar um regime ditatorial de esquerda. No entanto, a maioria da população sempre defendeu transformações pacíficas no nosso tão desigual e injusto país.

Na época do regime militar nossa família enfrentou dificuldades financeiras. O padrão de renda caiu e eu tive de estudar em escola pública e trabalhar.  Foi difícil, mas serviu para antecipar o aprendizado do valor do trabalho. Saído de uma escola privada, com colegas ricos e de classe média alta, subitamente me tornei um jovem trabalhador na grande São Paulo. Lição de vida.

Não pensava ser “político” quando vim para o Amazonas em 1977, com apenas 18 anos de idade. De início pretendia apenas viver uma experiência de vida diferente, na Amazônia. Por “coincidências do destino” fui morar no distante município de Envira, onde atuei como professor e também me tornei agricultor para produzir alimentos e alguma renda extra para minha nova família. Foi um novo ciclo de experiências e aprendizados, na escola e no roçado, também nas andanças pela floresta, nas pescarias e no relacionamento com um povo simples, trabalhador e muito acolhedor.

Foi em Envira que iniciei minhas atividades públicas. Lá, depois de uns 6 anos de muito trabalho como professor e como pequeno produtor rural, decidi adentrar na Política. Meu sonho foi o de contribuir para o desenvolvimento do município e o bem-estar da população, que havia me acolhido com tanta fraternidade e que tinha carências evidentes na saúde, na educação, na própria qualidade nutricional, além de outras mazelas. Desde então, continuei a ver e a exercer atividades públicas com o senso de dever de serviço à sociedade: serviço público. E até hoje acredito que a boa Política, com democracia, é fundamental para alcançarmos paz, progresso, justiça, respeito à dignidade humana e ao meio ambiente. Nesse sentido é preciso priorizar os seres humanos, a boa gestão dos recursos públicos e os interesses coletivos. Isto não é fácil quando os espaços de poder político são tomados por gente gananciosa que só visa o poder pelo poder, ou pelo dinheiro para desfrutar de mais poder.

Penso que não existem salvadores da Pátria, sejam de que ideologia forem, de esquerda, centro ou direita. O que realmente importa é valorizarmos gente séria, com honestidade de propósitos e que visa o bem coletivo antes dos seus próprios interesses pessoais. A população muitas vezes se deixa manipular por interesses escusos, sem perceber como o próprio recurso arrecadado dos impostos que paga é desviado, de modo aparentemente legal ou clandestino, para beneficiar os esquemas de poder político e econômico que se apropriam da Política. Cabe às pessoas de bom caráter abrirem seus olhos e não se omitirem do dever de ajudar a construir um mundo melhor.

Mentiras, ódios, promessas vãs… Devem ser substituídas por Verdade, amor e compromissos exequíveis e objetivos. Pode demorar um pouco, mas o bem sempre acaba por vencer o mal. Cada um de nós deve fazer a sua parte. A democracia nos permite fazer isso de modo pacífico, ordeiro e legítimo. Com honestidade e amor.

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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