Entranhadas na maior floresta tropical do mundo, as cidades da Amazônia brasileira, como Manaus, enfrentam sérios desafios ambientais. A capital do Amazonas, embora relevante economicamente, apresenta desempenho insatisfatório em sustentabilidade, marcada pelo desperdício de recursos, baixa taxa de reciclagem e poluição. Nesse cenário, a adoção da Economia Circular (EC) se revela uma solução urgente e estratégica. Este artigo examina as boas práticas da região de Amsterdã, um modelo de transformação sustentável que pode ser útil para a Amazônia.
Segundo o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC), maioria dos municípios da região Amazônica tem baixo índice de desenvolvimento sustentável <https://idsc.cidadessustentaveis.org.br/map/>. Manaus, embora seja a quinta maior economia municipal do país em termos de PIB, ocupa do ponto de vista de desenvolvimento sustentável, a 3.242ª posição entre 5.570 cidades avaliadas. Entre os desafios estão a desigualdade de renda (coeficiente de Gini), o desperdício de água, baixa recuperação de resíduos, cobertura insuficiente de coleta seletiva, tratamento de esgoto inadequado etc.
Assim, torna-se necessário transformar a economia linear de Manaus em circular. E neste sentido, a atualização do modelo de desenvolvimento torna-se urgente, com a EC sendo uma solução estratégica para desenvolver novos hábitos e negócios em nossa região, para estimular a sociedade a adotar vários níveis de circularidade ao longo do tempo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população e meio ambiente.
Segundo o artigo da semana passada, o Pacto Verde Europeu e a Declaração das Cidades Circulares são boas fontes de consultas para os tomadores de decisão (https://tinyurl.com/4k744cxu e https://tinyurl.com/mvpftusa). Por eles, há acesso a algumas cidades que já estão colhendo bons resultados em adotar a EC, e entre elas destaca-se a Região Metropolitana de Amsterdã (RMA), com 30 municípios e duas províncias, totalizando 2,6 milhões de habitantes.
Neste link (https://tinyurl.com/3v67ra77) há a estratégia e o programa de implementação desta região, uma das mais avançadas em EC. Em grande síntese, o Programa, que se estende de 2021 a 2026, tem a meta ambiciosa de posicionar a região como líder até 2030 no desenvolvimento de soluções inteligentes para enfrentar a disponibilidade limitada de recursos, promovendo o redesenho e o fechamento de ciclos de energia, água e materiais. Para chegar lá, os gestores públicos e parceiros estão focando em três áreas principais: planejamento urbano sustentável, compras circulares e o fechamento de ciclos de recursos, priorizando seis fluxos de materiais essenciais: plásticos, têxteis, resíduos urbanos, fraldas, biomassa e construção.
Entre os projetos que estão sendo implantados, estão:
Projeto 1) O Roteiro de Compras e Comissionamento Circular – Rumo a 100%. Segundo o documento disponível em (https://tinyurl.com/bdf8hvwb), no mês de junho de 2018, 32 municípios e 2 províncias da RMA assinaram a Carta de Intenções sobre compras e comissionamento circulares para fazer compras circulares em pelo menos 10% de suas aquisições totais até 2022 e 50% até 2025.
Neste projeto, as autoridades apresentaram às partes interessadas um roteiro claro, abordando conceitos e objetivos da EC, seus dez níveis de circularidade, compras e comissionamento circulares, três níveis de ambição (básico, avançado e excelente) e seus impactos. O plano inclui onde começar, os dez passos do projeto, metas para 2020, 2022 e 2025, métodos e dados utilizados, além de como calcular o nível de circularidade em licitações e o % de compras circulares.
Projeto 2) Plataforma CircuLaw (https://www.circulaw.nl/) que ensina aos governos locais como acelerar a transição circular em cinco áreas da economia (Construção, Produtos de Consumo, Biomassa e Alimentos, Indústria de Manufatura e Plásticos), oferecendo instrumentos legais baseados na legislação holandesa para cada cadeia de produtos. Além disso, fornece informações sobre a legislação europeia.
Projeto 3) Plataforma PRICE, iniciativa do Laboratório Flevoland Action Lab, localizado na província de Flevoland, na Holanda, focado em promover a EC e a sustentabilidade.
PRICE (Praktijk- & Innovatiecentrum Circulaire Economie) é um Centro de Práticas e Inovação em EC (https://price-ce.nl/home-english/) que ajuda os empreendedores, empresas, estudantes, professores e municípios a colaborar e participar, a fim de acelerar ideias e casos de negócios circulares.
Eles usam uma abordagem que envolve desafios e gestão participativa de projetos, dando apoio, deste a fase 1 (Análise) até a fase 6 (Uso: protótipo, teste, feedback, aprendizagem), com momento posterior de compartilhamento e celebração dos resultados.
Vários outros projetos estão sendo implementados e gostaria de recomendar o acesso a este site (https://tinyurl.com/nhcas97n), exclusivo da cidade de Amsterdã, onde se conhece a agenda de implantação da Política de EC com mais de 70 ações para o período de 2023 e 2026, há também o Amsterdam City Doughnut, um modelo de economia inspirado na teoria da economista Kate Raworth, que busca equilibrar o bem-estar social e ambiental dentro dos limites planetários. Por último, pode-se acompanhar o monitoramento das ações e ter acesso as lições e recomendações aprendidas entre 2020 e 2021.
Por fim, para mudar a nossa realidade, é essencial que os gestores das cidades da Amazônia cuidem melhor das pessoas! Nesse contexto, vale a pena estudar as boas práticas de Amsterdã, referência global em soluções sustentáveis e inteligentes. Além das iniciativas mencionadas, destaca-se a Plataforma de Inovação Aberta (https://amsterdamsmartcity.com/), que apresenta a Cidade Inteligente de Amsterdã. Nela, qualquer cidadão pode criar uma conta, acessar conteúdos, propor eventos e projetos sobre temas como EC, Energia, Mobilidade e Cidade Digital. Oxalá um dia as nossas cidades alcancem esse nível!
