Desde o início da década de 2010, o mundo corporativo começou a guiar seus investimentos e doações ao desenvolvimento sustentável.
À época, falava-se dos pilares ambiental, social e econômico. E esta ilustração de pilar não representava, em sua realidade, a necessidade de territórios para a prosperidade social, ambiental e econômica. Isto porque os pilares podem ter tamanhos e importância diferentes, ou eles podem estar distantes – dificultando a sustentação.
No início de 2016, as empresas criaram outra abordagem que tem mais efetividade conceitual: círculos concêntricos dos aspectos ambiental, social e governança (ASG, ou ESG, em inglês). Na oportunidade de investimentos sociais e de empoderamento, combina-se os aspectos social e governança. Quando há investimento em bioeconomia e melhoria de renda familiar, combina-se os aspectos ambiental e social.
Após quase oito anos de investimentos e experimentação, muito se discute a efetividade desses investimentos para contribuir com o desenvolvimento social, crescimento econômico e proteção ambiental no planeta.
Em um relatório do Fórum Econômico Mundial, de 2022, estabeleceu-se que a governança (G) é o aspecto mais relevante para ganhos perenes e estruturantes em uma sociedade. E a narrativa é bem intuitiva.
O aspecto de governança engloba ética de investimento, diversidades (cultural, de identidades), transparência e prestação de contas, estrutura de decisão, gestão do conhecimento, alocação de recursos (financeiros, humanos, econômicos), incidência política, integridade e anticorrupção, comunicação, criação e organização de incentivos e outros.
Assim sendo, é menos efetivo (“tem mais chance de dar errado”) investir muito dinheiro em uma boa causa quando não se tem governança – papeis e responsabilidades definidas, de maneira democrática e transparente, com todos as partes envolvidas a partir de sua importância para o sucesso do projeto.
E isso é notável e notório na Amazônia. Investimentos públicos e privados, filantrópicos ou de cooperação, serão sempre insuficientes quando não se estabelece uma governança transparente. De um projeto social em uma escola, passando por tanques-rede de tambaqui e até à construção e pavimentação de estradas, não há sucesso perene e integral se não houver compreensibilidade de deveres e direitos.
A boa notícia é que organizações da sociedade civil (OSC) sérias se somam às empresas e governos que buscam investir aplicando a abordagem ASG.
Em um projeto social na escola, alguma OSC pode fazer a diferença agregando pais e mães em um mutirão. No projeto de tanques-redes de tambaqui, uma OSC pode apoiar na mobilização de recursos e apoiar com a capacitação de pescadores e pescadoras. Na pavimentação de uma estrada, uma OSC pode apoiar no melhor entendimento dos impactos negativos e ganhos com os atores locais que serão mais afetados.
Independente do projeto, ou do exemplo, sabe-se que nada irá prosperar sem cumplicidade e trabalho coordenado de todas as pessoas e organizações envolvidas. E isto é a governança no ASG.
*é Superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da FAS e lidera as áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação, comunicação institucional e desenvolvimento de parcerias e captação