Tem-se na mente uma imagem caricata do Estado autocrático, onde no topo posta-se um homem inabordável, que controla e o Exército e a polícia, que ameaçam as pessoas com violencia. Há colaboradores nefastos e, talvez, alguns notáveis dissidentes.
Entretanto, no século XXI, essa imagem tem pouca semelhança com a realidade. Atualmente, as autocracias são governadas não por um caro malvado, mas por sofisticadas redes escoradas em estruturas financeiras cleptocráticas, um complexo de serviços de segurança — militares, paramilitares, policiais — e especialistas em tecnologia que fornecem vigilância, propaganda e desinformação.
Os membros dessas redes estão conectados não somente uns aos outros no interior da autocracia, mas também à redes dos outros países autocráticos e, às vezes, dos democráticos também. Empresas corruputas controladas pelo Estado em uma didatura fazem negócios com empresas controladas pelo Estado em outra.
A polícia de um país pode armar, equipar e treinar a polícia de muitos outros. A publicidade compartilha recursos — as fazendas de trolls e redes mediáticas que promovem a propraganda de um ditador também podem ser usadas para promover de outro — e temas: a degeneração da democracia, a estabilidade da autocracia, a perversidade dos Estados Unidos.
Isso não siginifica que haja alguma sala secreta na qual os cauras maus se reúnem, como em um filme de James Bond, nem que nosso conflito com eles seja uma oposição binária preto no branco, uma “Guerra Fria 2.0”. Entre os aristocratas modernos, há aqueles que se autointitulam comunistas, monarquistas, nacionalistas e teocratas. Seus regimes têm diferentes raízes históricas, objetivos e estéticas.
O comunismo chinês e o nacionalismo russo diferem não somente um do outro, mas também do socialismo bolivariano da Venezuela, do Juche da Coreia do Norte e do radicalismo xiita da República Islâmina do Irã. Todos eles diferem das monarquias árabes e de outras — Arábia Saudita, Emirados Árabes, Vietnã — que, na maior parte do tempo, não tentam minar o mundo democrático. Também diferem das autocracias mais brandas e das democracias híbridas, às vezes chamadas de democracias liberais — Turquia, Singapura, Índia, Filipinas, Hungria — que alternadamente se alinham ou não ao mundo democrático. Ao contrário das alianças militares ou policiais de outras épocas e lugares, esse grupo opera não como um bloco, mas com um aglomeradode de empresas unidas não pela ideologia, mas pela brutal a e obstinada determinação de preservar sua riqueza e seu poder. É a isso que se chama Autocracia S.A.
A Venezuela, em teoria, também é um pária inrernacional. A Partir de 2008, Estados Unidos, Canadá e União Europeia intensificaram sansões em rersposta à brutalidade do regime venezuelano, ao contrabando de drogas e às ligações do país com o crime internacional. Mesmo assim, o regime do presidente Nicolás Maduro recebe empréstimos da Russia que também investe na indústria petrolífera local, a exemplo do Irã.
Os ditadores biolorussos e venezuelanos são amplamente desprezados em seus países. Ambos perderiam em eleições livres, se elas algum dia fossem realizadas. Em agosto de 2020, mais de 1 milhão de biolorussos, em uma população de somente 10 milhões, protestaram nas ruas contra a fraude nas eleições. Centenas de milhares de venezuelanos participam repetidamente de protestos em todo o país. (Continua)
É advogado (OAB/AM 436).Cursou Direito, Comunicação Social (Jornalismo), Contablidade, Oratória, Lecionou História, Articulista.