A avaliação da inovação não pode ser realizada apenas no final do processo. Duas razões devem estar claras para esse motivo. A primeira é que, por ser inovativo, não se sabe quais são as etapas do processo; e a segunda é que os riscos de fracasso aumentam demasiadamente, se não houver avaliações intermediárias. Como consequência, elas servem para validar uma etapa planejada e executada cujos resultados forem considerados satisfatórios e também para deixar mais claras as possibilidades de escopo do subproduto da etapa anterior. Não é demais relembrar que estamos lidando com produtos e serviços que não existem e que, portanto, ainda não há protocolos para eles. Os protocolos serão criados à medida que o processo de inovação avança e é validado. Neste esforço, as avaliações e validações são feitas ou de maneira simultânea, como visto anteriormente, ou por etapas, como será mostrado aqui.
Uma estratégia recomendada para lidar com qualquer questão ou desafio complexo é dividi-lo em partes. Depois, pode-se lidar primeiro com as partes mais simples e menos desafiadoras para, pouco a pouco, com a experiência e conhecimento obtidos, as mais complexas serem executadas. Naturalmente que esse esquema lógico só pode ser utilizado quando os subprodutos componentes da inovação forem independentes, de maneira que um não é matéria-prima para o outro, ou seja, a etapa posterior não é feita sobre o produto da etapa anterior. As linhas de produção, portanto, neste caso, tendem a se encontrar apenas quando da etapa de acoplamento, em que as partes se encontram para a conformação de uma parte intermediária ou final do produto.
Neste caso, a avaliação será feita mediante a especificação de padrões para cada uma de suas fases, se for um subprocesso. Se cada componente for construído por etapas, em cada uma delas haverá padrões ou atributos, esquema e processo de mensuração desses padrões e atributos e sistemática de comparação dos resultados das mensurações para com os padrões e atributos de cada subetapa. É um minissistema de produção e, portanto, precisa ser objeto de aplicação de toda a sistemática do processo gerencial.
Quando os componentes são dependentes, a recomendação é que o processo de produção seja feita de maneira contínua. Aqui haverá a primeira etapa, que servirá de fornecedora para a segunda etapa, que por sua vez alimentará a terceira etapa e assim sucessivamente, até a confecção do produto final inovativo. Esta é a forma mais tradicional e conhecida de se realizar a invenção, especialmente aquelas oriundas de engenharia reversa ou de inovações duras de complexidades medianas. Aqui a sistemática de avaliação é tanto em relação aos padrões e atributos globais do produto quanto de seus componentes, elaborados e validados ao final de cada etapa da linha de produção, que poderia ser adequadamente denominada de linha de inovação.
Imaginemos o caso de uma inovação complexa, em que não se faz ideia do escopo do produto a ser criado. As etapas poderiam ser a pesquisa básica, para gerar os conhecimentos científicos a serem manuseados na geração tecnológica para a modelagem e prototipagem do produto, que seria a segunda fase. Tanto na pesquisa básica quanto na tecnológica há subprocessos. Na pesquisa básica há a formulação das hipóteses e questões norteadoras, a coleta e a organização dos dados para a geração das respostas desejadas; na pesquisa tecnológica há a prototipagem, os testes e retestes dos protótipos, até que se alcance o produto final, que é quando o produto é considerado aprovado nos testes (na verdade, nas avaliações de conformidade).
Se o produto ou serviço tiver finalidade mercadológica, se não for desenvolvido para atender a demanda especificamente contratada para esse fim, são necessárias outras etapas. A equipe de engenharia é uma delas, cujo desafio é encontrar os mais adequados materiais, fornecedores, esquemas de distribuição, precificação e outros aspectos essenciais para que o produto seja competitivo e possa estar ao alcance de seu público-alvo. Avaliações específicas devem ser feitas para esta etapas.
A etapa de fabricação é baseada na modelagem de processos. O desafio aqui é produzir da forma mais eficiente possível para garantir o menor tempo de produção, maior qualidade, maior rapidez, com o menor custo etc., levando-se em consideração o total de produção ou o tamanho da demanda a ser atendida. A etapa de fabricação é a responsável pela transformação das demandas, que perfaz o fluxo de informação que vai do cliente final à equipe de inovação, em produto final como parte de outra cadeia, a de produção, que começa com o fornecedor de última camada, que é aquele que retira a matéria-prima da natureza para fazer o primeiro beneficiamento.
Finalmente, mas não menos importante, a etapa de marketing tem como desafio efetivar o esforço de suprimento das necessidades das demandas. Marketing não é sinônimo de propaganda e nem de venda, mas um composto formado pelo estudo minucioso da demanda para a elaboração do produto desejado, o estabelecimento de um esquema de precificação que seja justo para os clientes e para as organizações da cadeia de produção, a esquematização de uma sistemática de distribuição do produto a partir do estudo da forma mais adequada de comunicação com o cliente.
Em consonância com o que foi mostrado anteriormente, a etapa de avaliação nada mais é do que a comparação do que foi planejado com o que foi executado. No caso das inovações, a avaliação é fundamental para a validação da etapa anterior, uma vez que não há protocolos prévios com atributos e padrões para as etapas e nem para a inovação. É preciso construí-los passo a passo, dia a dia, etapa por etapa. E nesse esforço, a avaliação por etapas envolve tanto a avaliação de cada subproduto de cada subprocesso, dependentes ou independentes, até toda a cadeia de suprimentos, com fornecedores a montante e clientes a jusante. Quase sempre este é um desafio sequer pensado pelos cientistas que trabalham na materialização de ideias em produtos.
*Daniel Nascimento-e-Silva, PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)