Augusto Cesar Barreto Rocha (*)
Não pode gastar, mas temos infraestrutura deficitária. O Estado não pode investir, mas a iniciativa privada também não investe pelo alto juro, que reduz a atratividade dos investimentos. Os investimentos públicos são para o longo prazo, mas não podem ser feitos. Os juros são altos, porque há riscos fiscais.
Questões sistêmicas colocadas de maneira parcial levam a compreensões superficiais, conclusões precipitadas e gestão equivocada. Qualquer supervisor de área em uma empresa pública ou privada com mais de dois anos de experiência e que coordene mais de cinco pessoas já percebeu que os problemas possuem complexidade mais ampla do que imaginava em seus primeiros dias de trabalho.
A sensação de domínio de um assunto que temos ao ler por duas horas alguns documentos é impressionante. Notamos uma diferença substancial quando saímos da ignorância completa para algum entendimento. De fato, há um ganho cognitivo importante quando nos deparamos com qualquer tema que desconhecemos e temos um salto de entendimento.
O problema surge quando generalizamos a superficialidade para todos os domínios do conhecimento humano. Corremos o perigo de nos iludirmos com a falsa noção de compreensão fácil e rápida sobre qualquer coisa, afinal já gastei duas horas lendo sobre este assunto e já “entendo bastante” e “pelo que percebo” tenho uma “conclusão certa”. É evidente que este tipo de argumento é falho, mas é muito comum no mundo atual.
É grande dilema do estoque de infraestrutura do Brasil. Todos sabemos da importância da infraestrutura. Todos concordamos de maneira genérica com assertivas do tipo “precisamos de mais estradas”, “precisamos de mais portos”, “precisamos de mais ferrovias” e outras semelhantes. A questão é que temos também concordado com outras afirmações que entram em conflito com a primeira como “precisamos gastar menos e reduzir o Estado”.
Esta inconsistência faz com que o país tenha uma infraestrutura ruim e malconservada. A incoerência dos argumentos é clara, mas eles não são questionados, por falácias que se tornam “senso comum”, que poderiam ser chamadas de bobagens.
O rentismo de privatizar empresas de infraestrutura leva apenas ao modelo de manter-se o que tem para o crescimento das empresas detentoras das infraestruturas, ao invés de se ter a infraestrutura como elemento indutor de crescimentos. Esta inversão de papéis tem tornado e tornará cada vez mais difícil fazer uma mudança das estruturas produtivas do Brasil. Enquanto não entendermos que somos um país em construção, não alocaremos recursos de investimento para novas infraestruturas.
Nosso estoque de infraestrutura é estimado em 36% do PIB e o que se gasta não serve nem para sua manutenção. Enquanto não encontrarmos métodos para romper as análises isoladas, construindo saídas para a construção de soluções e novos projetos, seguiremos em um crescimento pífio. Como preferimos análises simples, é como se o melhor fosse ficar deitado, para não gastar. Esta tem sido a opção. Vamos só comer e ficar bem quietos. Isso causa apenas morte e miséria.
(*) Professor da UFAM.