Grande parte das leis é feita com a intenção de beneficiar aos cidadãos. Outras para punir e ainda há a maioria que é para arrecadar ou regulamentar a arrecadação. Quando criaram a lei do tempo máximo de fila nos bancos, esqueceram de estendê-la também às repartições onde o atendimento prioritário existe. E é sobre o atendimento prioritário que vamos falar hoje.
Não se pode deixar de aprovar as normas dos hospitais públicos que colocam em prioridade os pacientes de maior risco e, nesse caso, quem não está muito doente, que espere calmamente a sua vez. Isso nos remete a uma constatação óbvia: deve haver critérios entre as prioridades. Um “jovem” saudável de sessenta e poucos anos prazerosamente cede seu lugar na fila a uma senhora gestante nas últimas semanas que tem a metade ou ainda menos da sua idade. Por lei eles teriam tratamento igual. Um jovem dificilmente cede seu lugar voluntariamente.
Para cumprir a lei, as empresas colocam um caixa para atendimento a todos que se encaixam como preferenciais: idosos, gestantes, deficientes, lactantes e até obesos. Contudo, o tiro costuma sair pela culatra, considerando-se que a população está envelhecendo. Há bairros em que os idosos que vão à casa lotérica pagar as contas do mês são em maior número que os “normais”. Para estes existem três ou mais caixas e para os “preferenciais” apenas um.
Estar entre os preferenciais não garante que seu tempo máximo na fila do banco seja de quinze minutos. Nos bancos a preferência é para cliente VIP e não para pagadores de contas ocasionais. Insistem em dizer que o atendimento deve ser eletrônico e usam isso como desculpa para reduzir cada vez mais o número de caixas para atendimento direto. Cliente nenhum é beneficiado com a redução de custo, assim como usuário nenhum é ressarcido pelo tempo a mais que perde na fila, mesmo quando o banco é multado.
Nos supermercados não é diferente. Gastam horrores na divulgação de promoções que atraem clientes, mas não aumentam o número de caixas que evitariam filas mais demoradas nestes dias. Ali, dos dois ou mais caixas destinados ao atendimento prioritário somente um tem operador. Os postos de combustíveis a coisa é ainda mais desproporcional: há oito ou mais bombas e apenas dois ou três operadores. É claro para quem está no conforto do carro, a espera na fila não faz nenhuma diferença entre deficientes ou não.
Por outro lado, as pessoas idosas, acostumadas a fazer contas no bico do lápis e olhar nos olhos do caixa que fica com seu dinheiro, dificilmente migrarão para os meios eletrônicos de pagamento. Até mesmo quando um filho se propõe a fazê-lo, ficam desconfiados porque não viram o dinheiro trocar de mãos. Pode parecer hilário, mas estas pessoas merecem tratamento preferencial até por seu analfabetismo eletrônico que, nos dias atuais, acaba se tornando uma deficiência.
Por isso, a atenção que deve ser dada aos que estão na lista de prioridades deve ser aprimorada. Leis existem onde não há educação. E, quando ela está ausente, as leis se tornam inoperantes, como no caso dos assentos nos ônibus. Quando a educação e o respeito se fazem presentes, as leis são desnecessárias.
Todos sonhamos com o dia em que não haverá necessidade de ameaças legais para os homens viverem mais civilizadamente.