A força motriz do capitalismo reside em sua capacidade de gerar riqueza por meio da inovação e da competição. Empresas privadas, impulsionadas pela busca do lucro, investem em pesquisa, tecnologia e eficiência, criando produtos e serviços que elevam os padrões de vida. Países e blocos priorizam investimentos e trocas de tecnologias para impulsionar ecossistemas de inovação, promovendo a segurança nacional, a geração de emprego e renda, e a proteção de suas balanças comerciais.
Contudo, sabe-se que o Produto Interno Bruto (PIB) não é a melhor métrica para atestar se um país é próspero e se seus habitantes são felizes. A prosperidade (e a felicidade, em seu conceito pragmático) depende de um ambiente regulatório equilibrado, que incentive a livre iniciativa de forma equitativa, evitando monopólios e práticas sociais, ambientais e climáticas predatórias. Além disso, sistemas educacionais robustos — legitimamente financiados por governos — preparam uma força de trabalho qualificada e cidadãos autônomos, essenciais para economias do século XXI baseadas no conhecimento.
Ainda sobre prosperidade, a segurança — tanto física quanto socioeconômica — é um pilar fundamental para a coesão social. Suécia e Dinamarca combinam mercados abertos com sistemas eficazes de bem-estar, garantindo acesso universal à saúde, à educação e à previdência social, sustentados por uma arrecadação tributária robusta e baixos índices de corrupção. Essa abordagem reduz a vulnerabilidade individual a crises econômicas, prevenindo a instabilidade política e a criminalidade.
Instituições públicas fortes — como polícias independentes, judiciário eficiente e agências reguladoras, também financiadas por impostos — aumentam a transparência e fortalecem o combate à corrupção, reforçando a confiança nas estruturas públicas e criando um ciclo virtuoso entre investimento privado e segurança institucional.
No entanto, aplicando-se uma definição mais elástica de prosperidade — que inclui saúde mental, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e sustentabilidade ambiental —, o capitalismo ainda patina.
Como alinhar interesses corporativos, geralmente de curto prazo, com necessidades sociais e individuais de longo prazo?
Alguns países têm testado soluções interessantes: regulamentações ambientais rigorosas, como a taxação sobre carbono e incentivos à economia circular; leis trabalhistas rígidas, com licenças remuneradas e renda mínima universal; e investimentos em infraestrutura pública de transporte, energia, água e conectividade.
Portanto, a chave está em reconhecer que o Estado não é antagonista do mercado, mas parceiro na correção de falhas sistêmicas. Sociedades ocidentais bem-sucedidas implementam mecanismos redistributivos sem sufocar a inovação. Impostos progressivos, como os aplicados na França e nos Países Baixos, financiam programas sociais, enquanto políticas de inclusão digital e de microcrédito, como em Portugal, reduzem barreiras à mobilidade econômica.
A crítica do mercado é que a correção dessas falhas tem um custo econômico e social que acaba recaindo sobre as empresas. E é isso mesmo! Em países onde o Estado é fraco e corrupto, empresas predam recursos naturais, exploram trabalhadores e minam a teia social.
Por isso, é possível, sim, haver um regime capitalista próspero em um Estado forte.
Há estudiosos que chamam essa combinação de “capitalismo de stakeholders”, isto é, um modelo em que empresas priorizam seus colaboradores, comunidades e o meio ambiente, além dos acionistas. Companhias como Patagonia e Unilever demonstram que esse tipo de capitalismo é compatível com a lucratividade.
Portanto, uma sociedade ocidental próspera, segura e com qualidade de vida sob o capitalismo não é uma utopia, mas exige a síntese entre liberdade econômica e responsabilidade coletiva. E isso passa por um sistema eficaz de regulação que promova a inovação e a equidade; um Estado forte, capaz de oferecer redes de proteção e justiça social; e a participação cidadã na definição de prioridades por meio de regimes democráticos.
O capitalismo, frequentemente criticado por exacerbar desigualdades e priorizar o lucro acima de valores sociais, permanece o sistema econômico dominante — justamente por sua grande plasticidade para integrar políticas públicas e promover a mobilidade social.
Para a sobrevivência deste regime e, mais importante, da humanidade, dependeremos da capacidade de nos reinventarmos, integrando valores humanos ao imperativo da geração e distribuição de riquezas.
