23 de novembro de 2024

Casa de repouso ou asilo?

Carlos Silva

“Nada detém a marcha inexorável do tempo”. Esta frase carrega um simbolismo imenso e que me leva à reflexão constantemente. Hoje, ao entrar em um estabelecimento comercial, a senhorinha que me atendeu disse: “cavalheiro, por aqui, por favor, para a fila de idosos, da melhor idade, que é a nossa”. Gostei de ter sido bem tratado, com educação e respeito. Isso é muitíssimas vezes mais importante que dinheiro. Você, um dia, será um velho, um idoso, e saberá valorizar pequenos grandiosos gestos humanos de atenção e cuidados. E, mais valorizados ainda, quando são desinteressados e naturais. Meu amado pai me ensinou uma frase, há muitos anos: “ a velhice é uma doença”. Meditei muito e cheguei a uma conclusão duvidosa: quando envelhecemos, nos tornamos estorvos? Sim e não. Infelizmente, por vezes, esta teoria se concretiza. Lembro que, há tempos, meu pai foi diagnosticado com o mal de Alzheimer. Era apenas ele e mamãe, nordestinos, morando ambos sozinhos, no Rio de Janeiro e eu na dinâmica Manaus. Sou filho único e o que eu conheci de família, até então, eram as sobrinhas e irmãs de mamãe. Na oportunidade, minha família decidiu que eu deveria trazê-los para morar conosco. E assim foi feito, após dolorosas ações de desapego, perda de referências e outras nuances que aquela situação exigiu.  Já imaginou tirar de casa um casal de idosos, casados há mais de 50 anos e morando no mesmo lugar? Não foi fácil. Não é fácil. Então, em determinado dia, conversando com amigos, um deles me apresentou uma proposta: ponha seu pais em uma casa de repouso. Na hora, fiquei chocado. Nada contra o sistema de casa de repouso ou asilos, pois sei de alguns espetaculares mesmo, aqui na capital amazonense. E em se tratando dos pais amados, dinheiro e custos são obstáculos supérfluos. Mas, pensei na minha infância, quando mamãe, então empregada doméstica, me levava para o trabalho, pois não tinha com quem me deixar. Lembro, também, que o único carro que papai teve na vida, ele me deu na formatura de graduação, pago por intermédio de consórcio. Então, meus pais se sacrificaram e muito, para eu vencer na vida e nunca me descartaram e agora que precisavam de mim vou virar as costas e pagar para que estranhos cuidem deles? Não é assim que eu penso. Tudo bem que, estando casado, tenho que obter o concordo da família, afinal quando casamos nos tornamos parte de outra família, outro mundo. Não é à toa que quando solteiros, se necessita, aqui e ali, da certidão de nascimento e quando casamos se necessita, da mesma forma, da certidão de casamento. No entanto, o clima, e o fato de os horários de trabalho nos ocuparem todo o dia, perfizeram o cadinho de emoções que obrigou mamãe a querer, e precisar, de outra opção para viver, e por decisão dela mesmo. A família dela se prontificou a recebê-la. Hoje ela mora em Fortaleza, na casa das sobrinhas-netas, que a têm como mãe. E está feliz, na família, e muito bem cuidada, com um bom plano de saúde e apoio dos consanguíneos. Sempre a visito e, todos os dias, envio vídeos da minha rotina e peço a benção a ela. Não tem melhor sensação que você ter a consciência que está dando o seu melhor para seus pais, afinal, eles te deram a vida e, com muito mais sacrifícios que você pensa. E assim, a vida segue! Com cervejas ! Geladas !

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares

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