COLAPSO! Esta palavra tem um peso bastante forte e quando foi utilizado pelo Ministro da saúde, Mandetta para definir a situação em que o Sistema de Saúde brasileiro estava chegando, muita gente teve um frio na espinha. O ministro se apressou a explicar que a utilização do termo se aplicava ao fato de estar chegando a um percentual próximo à totalidade do uso dos equipamentos de ventilação necessários para manter a vida dos portadores de Covid-19 em estado de internação hospitalar.
De lá para cá, a força da palavra e da situação ficaram diluídas entre várias outras situações tão graves quanto a escassez de equipamentos vitais ou mesmo a falta das EPI’s, que deixam nossos agentes de saúde totalmente desprotegidos na linha de frente da luta contra este inimigo invisível. Teve o boicote da China em relação à entrega de equipamentos comprados por governos estaduais brasileiros, que foram trocados no Aeroporto de Miami por compradores que pagaram um valor maior, na determinação do Presidente Trump de que o que fosse necessário para os estados Unidos deveria ficar por lá, não interessaria de que forma se fizesse necessário.
Para piorar ainda mais o quadro de incerteza e ansiedade da população brasileira, que vive em parte no isolamento, ou distanciamento social, seja lá como for o termo, sendo obrigada a ficar na dúvida de uma possível demissão do Ministro da Saúde, em função da atitude infantil do nosso Presidente, que fica com ciúme da visibilidade que o ministro está alcançando nesta fase. Parece que até mesmo em um momento tão delicado a falta de bom senso seja do presidente ou de seus filhos que tem tanta influência sobre ele, faz falta.
O pior de tudo mesmo é quando nos voltamos para a situação da crise do Covid-19 em nossa cidade, nossa querida Manaus, que há algumas semanas segurava a estatística de apenas um morto pela epidemia e uma tentativa governamental de passar a ideia de que estava tudo sob controle. A curva, no entanto, entrou em aclive acentuado rapidamente e chegamos no volume acima dos VINTE MORTOS, um número crescente de infectados e a capacidade de leitos e máquinas de atendimento nas UTI’s chegando na situação de COLAPSO.
Manaus passou a fazer parte do noticiário nacional dos programas pandêmicos, que estão vinte e quatro horas no ar. Infelizmente o motivo da visibilidade da nossa cidade acontece exatamente pelo pior dos motivos, que é o fato de chegarmos a esta situação de saturação da capacidade de atendimento do nosso sistema de saúde. Estamos em quinto lugar no Ranking nacional em números absolutos e em segundo lugar no mesmo ranking, quando se leva em conta o número de habitantes relacionado ao número de mortos.
A crise do covid-19 é mundial e os países, assim como o Brasil como um todo não estava preparado para receber uma pancada tão forte. Embora as autoridades de saúdes mundiais afirmem que alertaram o mundo para a possibilidade de uma pandemia deste porte, nenhum modelo político ou econômico do mundo se preparou para enfrentar a situação. No momento de escolher entre investir em equipamentos de ventilação para tratamento de uma virose deste nível ou investir na produção de bens de consumo ou de capital, a escolha foi rápida e nem se discute o erro.
Temos um polo industrial baseado em um sistema de diferencial tributário criado no ano de 1967, ainda pelo Marechal Castelo Branco que alertou à época da necessidade de criarmos nossa identidade produtiva. De lá para cá, brincamos de produzir tecnologia e esquecemos do conselho do Marechal e hoje pagamos um preço bem alto quando a dependência econômica e política exagerada nos tolhe a todo instante. A falta de capacidade de gestão dos vários governos que se sucederam, além de desviarem nossas riquezas ou fecharem os olhos para que alguns privilegiados o fizessem, deixaram nossas estruturas totalmente quebradas, como a educação, o transporte e infelizmente, neste momento tão difícil, vemos agora que principalmente quebraram a SAÚDE. ]
Não adianta chorar, afinal ao invés de cumprir o isolamento e tentar diminuir a quantidade de infectados, boa parte da população ainda insiste em correr para as ruas e feiras, se aglomerando e convivendo como se nada estivesse acontecendo e fazendo piada de um inimigo tão perigoso e tão criminoso como este vírus, que mata sem se importar com a idade, sexo ou situação social. Que o diga o primeiro ministro da Inglaterra.
*Origenes Martins Jr é professor, economista, mestre em engenharia da produção, consultor econômico da empresa Sinérgio
Fonte: Orígenes Martins