Como a IA pode transformar a Manufatura?

Em: 25 de fevereiro de 2025

Com cinquenta e oito áreas de atuação distribuídas em dez grandes segmentos, a Manufatura conta com a Engenharia de Produção, que se destaca como uma das mais versáteis do cenário atual. Este artigo explora como a IA está revolucionando algumas dessas áreas, potencializando eficiência, inovação e redução de custos.
A IA veio para ficar e quem não se qualificar nesta área vai perder diversas oportunidades de crescimento. Do ponto de vista científico, um estudo bibliométrico realizado na plataforma lens.org , revelou que já são 73203 publicações (artigo científico, anais, capítulos de livros ou livros), cujos títulos e abstract contêm o termo “Artificial Intelligence”. O crescimento vem acontecendo desde 2017, saltando de 380 para 18879 publicações em 2024, um incrível aumento de 4.868% em apenas sete anos, com destaques para Ciência da Computação (53123), IA (50649), Medicina (18201), Engenharia (16032), Psicologia (15342), Ciência Política (11301), Negócios (9959) e Direito (9827). Os cinco países que mais estão publicando sobre IA são EUA (10008), China (6452), RU (3438), Índia (2717) e Canadá (1768). O Brasil está na 16ª posição com apenas 678 publicações.
Do ponto de vista prático, um estudo da McKinsey revelou que em 2024 que 72% das 1.363 organizações a adotaram de forma generativa em pelo menos uma função de negócios.
As áreas que mais utilizaram a IA foram Marketing e Vendas (34% dos respondentes), Desenvolvimento de Produtos e Serviços (23%), TI (17%), Operações de Serviços (16%), Engenharia de Software (13%) e RH (12%). Por outro lado, as funções com menor adoção foram Manufatura (4%), Gestão de Estoque e Cadeia de Suprimentos (6%), Estratégia e Finanças Corporativas (7%) e Riscos (8%).
É uma pena constatar neste estudo que a Manufatura está atrasada, já que há muitas oportunidades de aplicação dessa tecnologia para alcançar os mais diversos objetivos.
E para exemplificar, elencarei o uso da IA em cinco áreas da Engenharia de Produção (EP), já que está intimamente ligada a Manufatura.
Segundo a Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO), a EP possui dez grandes áreas: 1) Engenharia de Operações e Processos de Produção (6 subáreas); 2) Cadeia de Suprimentos (8); 3) Pesquisa Operacional (7); 4) Engenharia da Qualidade (5); 5) Engenharia de Produto (3); 6) Engenharia Organizacional (9); 7) Engenharia Econômica (4); 8) Engenharia do Trabalho (4); 9) Engenharia da Sustentabilidade (7) e 10) Educação em Engenharia de Produção (5), totalizando 58 áreas. Então eis alguns cases reais que estão usando a IA:
Area 1) Eng. de Operações e Processos de Produção:
Modelagem e simulação digital: empresas como a Siemens e a GE empregam Digital Twins com algoritmos de IA para recriar virtualmente linhas de produção para testar cenários de fluxo e uso de recursos sem interromper a operação real. Esses modelos permitem identificar gargalos, prever impactos de modificações e integrar dados operacionais em tempo real.
Otimização de layout com algoritmos evolutivos e simulação: a Nestlé têm investido em simulações e otimizações que minimizam deslocamentos internos, melhoram a logística interna e aumentam a segurança e eficiência das instalações.
Área 2) Cadeia de Suprimentos
A Walmart utiliza algoritmos de machine learning para analisar dados históricos de vendas, tendências de mercado e variáveis sazonais. Isso permite prever a demanda com maior precisão, ajustar os níveis de estoque e evitar tanto a sobrecarga de produtos quanto a falta destes nas prateleiras. Já a Amazon investe em IA para otimizar as rotas de entrega. Com algoritmos de otimização e análise em tempo real, a empresa consegue reduzir o tempo de entrega e os custos logísticos, mesmo operando em uma escala global.
A IBM, por meio do Watson Supply Chain, utiliza IA para monitorar e analisar eventos que possam impactar a cadeia de suprimentos, como atrasos em entregas, problemas de qualidade e riscos geopolíticos.
Área 3) Pesquisa Operacional (PO)
A Toyota usa algoritmos avançados em PO para otimizar a produção, alocando recursos de forma inteligente em sua linha de montagem. Ao combinar técnicas clássicas de programação linear com modelos de machine learning, a Toyota consegue identificar o melhor plano de produção, minimizando desperdícios e aumentando a eficiência operacional. Já a FedEx aplica algoritmos de PO para resolver problemas de roteirização de veículos.
A Disney utiliza técnicas de simulação e análise preditiva para gerenciar os fluxos de visitantes, alocando recursos de forma dinâmica para reduzir filas e melhorar a experiência. Aqui, algoritmos de IA, baseados em dados em tempo real, se unem a modelos de PO para ajustar operações durante o dia.
Área 4) Gestão da Qualidade
A China State Construction utilizou IA na gestão de projetos para controlar a qualidade em tempo real, resultando em padrões de construção aprimorados e menos retrabalho. Para tanto, eles utilizaram detecção em tempo real de desvios nas especificações de design por meio do uso de câmeras com IA e sensores integrados aos edifícios. Com a aplicação da IA, o retrabalho foi reduzido em 18% e a gestão da qualidade na construção foi aprimorada.
A BMW implantou sistemas de IA para inspecionar visualmente linhas de montagem. Câmeras e sensores com machine learning detectam defeitos de pintura, acabamento e montagem em tempo real, contribuindo para a redução de 30% dos defeitos de qualidade e aumento da precisão da inspeção.
Área 5) Engenharia de Produto
A Tesla utiliza IA para desenvolvimento de baterias e otimização de autonomia. Algoritmos preveem desgaste e sugerem ajustes no design, resultado no aumento de 30% na vida útil das baterias. Além disso, ela usa IA no desenvolvimento de veículos autônomos, empregando redes neurais profundas para processar dados de sensores, câmeras e radar, permitindo que seus carros “aprendam” a dirigir de forma autônoma.
A Autodesk integrou IA em diversas de suas ferramentas de software para otimizar o processo de design e engenharia de produtos. Um case é o Design Generativo no software Fusion 360. Para tanto, a IA explora vastas combinações de design que um engenheiro humano talvez não considerasse, resultando em soluções mais inovadoras, leves, eficientes e otimizadas para fabricação.
Diante do exposto, conclui-se que a IA é essencial para impulsionar a eficiência, inovação e redução de custos na Manufatura e Engenharia de Produção, mas a adoção ainda é baixa comparada a outros setores. Para não perder oportunidades competitivas, a indústria precisa formar parcerias com Universidades, Start-ups e outras organizações para acelerar a implementação de soluções de IA em áreas consideras estratégicas como desenvolvimento de produtos, otimização de processos, cadeia de suprimentos e gestão da qualidade.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].
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