O que você acharia se dirigisse o Mirai, carro da Toyota, elétrico, capaz de rodar 136 km, com apenas uma carga de 5,65 kg de hidrogênio, sem emitir barulho, poluentes, apenas vapor de água para o ambiente? Pois então, apesar desse carrão já existir desde 2014, e ter batido seu próprio recorde em 2021 no Guinness Book, o Japão tem uma estratégia de longo prazo para popularizar carros como o Mirai, eletrificando sua indústria de automóvel, sendo este o principal assunto do artigo.
O fim dos veículos movidos à combustão como meio de transporte não é um delírio filosófico, se vai acontecer, mas quando. E sem perder tempo, vários países já possuem estratégias de longo prazo para abandonar motores de combustão interna. Neste sentido, recomenda-se a leitura do Relatório Global EV Outlook 2021, publicado pela Agência Internacional de Energia <https://bit.ly/3FSCUoY>, o qual revela os 31 países que já anunciaram planos de eletrificação ou eliminação total de vendas de automóveis movidos a motores de combustão interna nos próximos dez a trinta anos.
Para se ter ideia do jogo do xadrez global rumo a eletrificação dos veículos, em 2025 a Noruega almeja chegar a 100% de vendas de carros novos eletrificados, com Japão e China querendo chegar lá em 2035. Em 2030, Holanda, Israel, Irlanda, Islândia, Dinamarca, Escócia, Cingapura, Eslovênia e Suécia ambicionam vender todos os carros com zero emissão, enquanto o Reino Unido e Cabo Verde almejam alcançar essa meta em 2035.
E o compromisso Netzero (zerar emissão de carbono de uma forma geral) tem sido assumido em 2045 pela Suécia, e em 2050 pelo Japão, Canadá, Coreia do Sul, Chile, Nova Zelândia, União Europeia, Noruega, Fiji e Reino Unido.
Infelizmente, o Brasil não é citado como bom caso no relatório, nosso país jogou fora 4 anos com assuntos inúteis tais como kit gay, doutrinação nas escolas, voto impresso, ataques às universidades, imprensa, urnas, vacinas, com cortes profundos na Educação, C&T&I etc. Até o momento não há oficialmente estratégia de longo prazo, nem metas para descarbonizar a economia, nem tão pouco eletrificar nossa indústria automotiva.
Por outro lado, as políticas e os incentivos que os 31 países estão oferecendo envolvem desde a atualização/reformas das leis, regulamentos, padronização, até incentivos fiscais, subsídios, fundos para construção e testes de fábricas, fundos para P&D etc.
Em relação ao Japão, essas iniciativas estão dentro da Estratégia de tornar o país descarbonizado até 2050, assunto que já foi abordado nos artigos do JCAM <https://bit.ly/3DRp1HQ>, valendo a pena lembrar as seguintes metas em relação ao uso do Hidrogênio como principal fonte de energia do país:
1) Em 2030, desenvolver cadeia de fornecimento em escala comercial para adquirir 3 milhões de toneladas de hidrogênio/ano a um custo de 30 yens/Nm3. Em 2050, produzir 20 milhões de toneladas de H2/ano, a um custo abaixo de 20 yens/Nm3;
2) em relação ao uso do Hidrogênio na Mobilidade, há as seguintes metas a) aumentar o número de veículos elétricos de célula de combustível para 40 mil em 2020, 200 mil em 2025 e 800 mil em 2030; b) aumentar o número de estações de hidrogênio para 160 até 2020, 320 até 2025; c) aumentar o número de ônibus elétricos em 100 até 2020, passando para 1200 em 2030; d) aumentar o número de empilhadeiras elétricas para 500 em 2020, saltando para 10 mil até 2030.
Ao analisar a Estratégia de Longo Prazo, específica para a Indústria Automotiva, para eletrificar os veículos no Japão, o Ministério de Economia, Comércio e Indústria (METI) adotou como meta, até 2050, todos os veículos produzidos pelas montadoras japonesas serem eletrificados. A meta inclui veículos elétricos movidos a bateria, os híbridos plug-in, e os elétricos com célula de combustível.
Para chegar lá, planos com ações estratégicas são criados, implantados e avaliados a cada 5 anos. Entre 2018 e 2023, o METI desenvolveu os seguintes objetivos estratégicos, classificados em três princípios chaves:
Princípio 1) Promover a Inovação Aberta
- Tecnologias de eletrificação de próxima geração
- Descarbonização dos motores de combustão interna
- Desenvolvimento baseado em modelos
- Investimento nos RHs
- Melhora da Tecnologia dos Pequenos e Médios Fornecedores
Princípio 2) Cooperação Internacional para superar problemas globais
- Cooperar no desenvolvimento de políticas internacionais de eletrificação
- Compartilhar experiências bem-sucedidas do Japão
- Apoiar a transformação das cadeias de suprimentos globais em direção à eletrificação.
Princípio 3) Estabelecer Sistemas
- Construir um Sistema Sustentável de Baterias
- Desenvolver Sistema para Utilizar Veículos de Próxima Geração para o Segmento de Veículos Comerciais
- Acelerar a Integração com Sistemas de Energia Distribuída.
Para ajudar a expandir o uso do Hidrogênio como parte da estratégia de descarbonização do setor de Mobilidade, o METI realizou no dia 8 de setembro de 2022, a Conferência Público-Privada de Hidrogênio para Mobilidade, e os assuntos discutidos foram sobre a priorização das categorias de mobilidade tais como ônibus e caminhões, introdução dos veículos e infraestrutura até 2030, otimização da distribuição das estações de hidrogênio, metas de custo para veículos, estações de hidrogênio, o próprio hidrogênio, etc.
A conferência envolveu Fornecedores (empresas de infraestrutura e de fornecimento de hidrogênio), Demandantes (fabricantes de equipamento original do setor automotivo), Especialistas em Logística e Hidrogênio, bem como Ministérios (METI, MLIT, MOE).
O próximo evento será o Tokyo Motor Show que acontecerá na Tokyo Big Sight, entre os dias 26 de outubro a 5 de Novembro de 2023, e neste link <https://www.tokyo-motorshow.com/en/> o leitor tem acesso aos registros, bem como as novidades e a programação, um evento que deveria estar na agenda de qualquer Ministro, Secretário ou Gestor Público responsável pelo desenvolvimento de políticas relacionadas à Inovação, Mobilidade e Sustentabilidade.
Finalmente, até 2050, o Japão pretende eletrificar seus veículos, por meio de uma estratégia de longo prazo, com metas claras, princípios e ferramentas políticas que estão contribuindo para reduzir resistências e obter apoio dos atores chaves, a fim de fazer uma transição gradual dos seus negócios. Então, eis aí uma boa lição a ser seguida pelo Brasil e outros países da América Latina.