Como países modelos combatem as Fake News – parte 2

Em: 21 de setembro de 2022

Hoje é dia internacional da paz e aos poucos a Covid19 está deixando de ser uma guerra mundial, mas não podemos esquecer as lições, e uma delas é que a disseminação de fake news durante a pandemia contribuiu para confundir, adoecer e/ou matar milhares no mundo. Neste sentido, o Brasil tem sido um bom exemplo em salvar vidas contra o vírus? Quais países seriam os modelos? E como os melhores países combateram as fake news e seus disseminadores na pandemia?

As vacinas contra a Covid19 foram fabricadas em tempo recorde e sua aplicação está reduzindo o número de casos fatais. No entanto, o estrago foi grande, pois desde 31/12/2019 até o momento, cerca de 6,53 milhões de vidas preciosas oficialmente faleceram de Covid19, com EUA (1,09 Milhões=17%), Brasil (0,68M=10,4%), Índia (0,53M=8,1%), Rússia (0,38M=5,6%) e México (0,33M=5%) liderando os piores, com mais de 3 milhões de mortos, representando 46% de todos os casos fatais do planeta.

Segundo a worldometers <https://bit.ly/3dpMErI>, até sábado (17/09/22), o Brasil registrou oficialmente cerca de 685350 casos fatais, o 2o pior do planeta em número total de mortos por covid19, representando 10,5% do total de mortos no globo, sem considerar os milhares de casos subnotificados que ocorreram no país.

Este ano é de eleição, com Jair Bolsonaro e sua tropa tentando continuar no poder, mas em respeito aos nossos irmãos e amigos falecidos de Covid19, dentre os quais um membro de minha família que acreditou nas fake news do atual mandatário, não podemos ter memória curta, de conivência com os crimes <https://bit.ly/3oUMWPo>, valendo relembrar os seguintes fatos:

1) em nosso país houve uma estratégia institucional para disseminar o vírus, liderada pelo atual mandatário e sua tropa, conforme demonstrado em estudo feito por Doutores da USP que analisaram 3049 normas federais produzidas em 2020 <https://bit.ly/3qP34C1 e https://bit.ly/3i3ib7K>;

2) o negacionismo, a disseminação de fake news ou de notícias distorcidas foram as marcas registradas do atual governo, valendo à pena analisar as 6255 declarações falsas ou distorcidas emitidas pelo mito, reverberadas por bots e sua tropa de simpatizantes <https://bit.ly/3d7mieL>. E quando se considera a desinformação lançada pelo mito, relacionada com a Covid19, descobre-se por meio da plataforma Statista <https://bit.ly/3aJvaWx> que, entre Jan/20 e ag/22, foram despejadas cerca de 2544 notícias fraudulentas ou distorcidas sobre a Covid-19, algumas elencadas nos artigos publicados no JCAM em março e abril/21 <https://bit.ly/3vdWl4T e https://bit.ly/35S4GR5>;

3) em países modelos contra a pandemia, disseminar fake news ou notícias distorcidas sobre a Covid19 é considerado crime, passível de pagamento de pesadas multas ou cadeia, pelo fato de que essas informações desorientam, boicotam as medidas corretas, colocam a vida das pessoas em perigo e levam aos óbitos.

Para entender o impacto disso no Brasil, vale a pena ler este artigo científico publicado na Lancet <https://bit.ly/3SV8kRt>, cujos autores analisaram dados de 5570 cidades brasileiras e chegaram a conclusão de que a taxa de mortalidade por Covid19 dobrou na 2a onda da Covid19, em 2021, em cidades que deram mais votos ao mito, evidenciando o poder nefasto sobre a população por causa do mau comportamento de um governante em uma pandemia.

Para responder as duas primeiras perguntas da introdução, foram escolhidos 40 países considerados em 2020 <https://bit.ly/3FSPHXN>, como os com melhor desempenho em 13 rankings internacionais (competitividade, capacidade de atrair talentos, logística, transparência, sustentabilidade, inovação, saúde e combate a Covid-19 durante os primeiros 180 dias).

Para cada país, identificou-se a data do 1o caso oficial de covid19, a partir da qual buscou-se a data que completava 900 dias de combate ao vírus, permitindo assim encontrar o número total de casos fatais (NTCF900), utilizando a plataforma do worldometers supra-citada.

O próximo passo foi identificar o tamanho da população de cada país em 2021, consultando o Dashboard das Nações Unidas <https://bit.ly/3RSYped>, a fim de calcular o número total de casos fatais em 900 dias por milhão de habitantes. Assim o Indicador NTFC900/1M é mais confiável, uma vez que para cada país, utilizou-se o mesmo período de tempo de combate ao vírus e identificou-se o número total de casos fatais para cada milhão de habitante, eliminando o viés tendencioso relacionado ao tamanho do país. 

Como resultado, comecemos pelo Brasil, no 900o dia (13/08/22) desde quando foi registrado o primeiro caso de covid19 (25/02/20) no país, cerca de 3184 pessoas faleceram desta doença para cada um milhão de habitantes, sendo que ao aplicar a mesma análise nos 40 países estudados, os dez melhores foram: 1o) China (4 Casos Fatais/1M), 2o) Emirados Árabes (232 CF/1M), 3o) Catar (235 CF/1M), 4o) Cingapura (243 CF/1M), 5o) Japão (248 CF/1M), 6o) Taiwan (316 CF/1M), 7o) Austrália (404 CF/1M), 8o) Tailândia (438 CF/1M), 9o) Vietnã (439 CF/1M) e 10o) Coreia do Sul (474 CF/1M).

Provavelmente, o leitor lembra que a China foi alvo de duros ataques infundados (fake news), tanto pelo ex-presidente Trump quanto pelo Presidente Bolsonaro, mas enquanto os governantes chineses adotaram medidas não farmacêuticas, combateram com rigidez as fake news e aceleraram a produção de vacinas para salvar o povo, tanto no Brasil (796 vezes pior) quanto nos EUA (com 3149 CF/1M=787 vezes pior), especialmente na gestão de Trump, milhares de vidas foram ceifadas como resultado do mau comportamento dos seus dirigentes e simpatizantes.

Para responder a terceira pergunta, neste artigo recomendarei a leitura de dois documentos científicos que abordam sobre como o Governo Chinês combateu a desinformação durante a pandemia. No primeiro artigo, os autores Rodrigues e Shu <https://bit.ly/3QN2UW9> argumentam que o sistema autoritário e o controle rígido da informação, efetivamente restringiu a circulação de fake news (ou rumores) durante a pandemia. Para os autores, o regime deixou de lado o mantra da “liberdade de expressão” durante a crise e enfatizou a “responsabilidade social”, a “segurança pública” e a “ordem social” como justificativa para censurar desinformações nas plataformas de mídia social.

No segundo artigo, os autores Yang, Kuo e Fei <https://bit.ly/3dtlN2N> abordam sobre o uso da lei de segurança cibernética nacional aprovada em 2016, que estipula “é crime criar ou espalhar rumores online (assim chamam as fake news)”. Também abordam sobre a criação de um aplicativo pelas autoridades chinesas que permite ao cidadão comum denunciar informações falsas, atuando em conjunto com as famosas plataformas Weibo e WeChat.

Por limitação de espaço, no próximo artigo será relatado mais detalhes sobre como a China e alguns dos países modelos supracitados combateram as fake news e seus disseminadores.

Finalmente, o artigo reforça a tese de que o Brasil tem sido um dos piores países em educar corretamente, proteger e salvar sua população contra a Covid19. Além disso, as fake news e notícias distorcidas espalhadas pelo mandatário da nação, seus filhos e tropa, espalham discórdia, boicotam medidas corretas de combate ao vírus, levando milhares para o cemitério, razão pela qual esse tema é um dos mais longos (p. 619 a 831) no relatório da CPI da Covid <https://bit.ly/3ptI4RR>, cujos juristas liderados pelo Dr Reale apontaram a existência de uma organização para difundir “fake news”, formada por núcleos de atuação comandado pelo Presidente e Gabinete do Ódio. Então pense nisso, antes de votar!

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].
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