23 de novembro de 2024

Constrangimento em aeroportos

*Augusto Bernardo Cecílio

   Recentemente presenciei uma situação constrangedora no Aeroporto de Guarulhos e há algum tempo também no Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, que me fez pensar o quanto estamos desguarnecidos e sem defensores.

   Ao adentrar na sala de embarque do aeroporto com uma bagagem de mão um cidadão fez aquele procedimento de checagem pelo que acho ser um aparelho de raio X. Sem nenhum sinal de que deveria ser revistado, o passageiro foi encaminhado para que um homem vistoriasse sua bagagem, alegando um tal de sorteio.

   Em seguida teve que ficar com os pés em cima de duas figuras fixadas ao chão, com as pernas entreabertas, de frente pro “vistoriador”, com as mãos levantadas como se fosse um bandido sendo revistado pela polícia nas ruas. Feito isso, teve que virar de costas, com as mãos pra cima de novo, com o cara revistando. Isso em plena era de novas tecnologias e scanners de alta definição.

   O pior, todo mundo olhando como se ele fosse um suspeito. Depois disso teve que abrir a mala.  No fim, como tinha muita gente olhando, falei para os presentes que aquilo era um absurdo, um exagero, até porque eles são incapazes de brecar no Brasil o vai e vem de drogas, armas, munições, dinheiro oriundo de ilicitudes e a prática de contrabando e descaminho que tanto mal faz à nação brasileira.

   Digo mais: cometem um exagero com cidadãos de bem, sem que algum “representante do povo” se insurja contra essas aberrações, e isso vai se fortalecendo ao longo do tempo, até chegarmos ao ponto em que ao cidadão não será dado sequer o direito de reclamar.

   Não sei de onde partiu a ordem para esse tipo de procedimento. Seja da Anac, Infraero ou algo assemelhado, fica aqui o nosso repúdio e a certeza de que isso não nos agrada. 

   Em vez de estarem apalpando passageiros, esses órgãos “controladores” deveriam realmente trabalhar em prol dos usuários evitando atrasos e abusos das companhias, melhorar as acomodações nos aeroportos, pois isso causa desconforto e cansaço, deveriam promover uma nova redistribuição das rotas no Brasil, para evitar que tudo praticamente só passasse por São Paulo ou Brasília, melhorar os horários dos voos, pois muitos são desumanos, principalmente aqueles destinados à Região Norte.

   Os governantes e esses órgãos deveriam se preocupar com o alto custo das tarifas dentro do Brasil, e principalmente dentro do Amazonas. Experimente, por exemplo, viajar de Manaus para Eirunepé, pra saber quanto custa a passagem, ou se alimentar no pavimento 2 do aeroporto de Manaus, num calor insuportável, sem refrigeração. Vale checar.

    Deveriam evitar que somente as empresas ditem as normas nesse país, como é o exemplo da cobrança das bagagens – a pretexto de reduzir as tarifas, coisa que nunca aconteceu – e mais recentemente a cobrança pra se marcar os assentos.  

   Percebemos que as empresas têm muita força, e que cabe ao cidadão somente a obrigação de arcar com elevados custos das passagens.

   Em vez de ficarem bancando a agente secreto, esses vistoriadores deveriam solucionar as muitas reclamações acerca do alto custo da alimentação dos restaurantes e lanchonetes sediados nos aeroportos, a qualidade e limpeza dos banheiros, que mais parecem ambientes de rodoviária. Isso sem falar na péssima qualidade da Internet, dos carrinhos e das instalações, bem como os caros estacionamentos, além da demora na devolução das bagagens e da destruição de malas.

*Auditor fiscal e professor.

Augusto Bernardo

é auditor fiscal de tributos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda do Amazonas e educador. Foi um dos fundadores do Programa Nacional de Educação Tributária (atualmente nomeado de Educação Fiscal).

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