6 de outubro de 2024

Conto de Natal – A paz entre todos

Todos os dias, depois da escola, Diego chegava em casa sorrindo. Mas naquele dia, dona Afrodite, observou algo de estranho no rosto do filho. —Aconteceu alguma coisa, filho? — Nada demais, mãe! – respondeu friamente. — Você sabe que pode contar com a gente, né filho? — Sim, eu sei pai. Eu só tive uma manhã difícil hoje, só isso! — Nada que um bom banho não resolva – disse dona Afrodite ajudando-lhe a tirar o tênis. — Isso mesmo. Vá logo para o chuveiro – ordenou seu Hermes. — Aguardaremos você para o almoço – disse em seguida dona Afrodite entregando-lhe a toalha. — Almocem vocês logo família, que em seguida eu almoço. — Nem pensar filho. Vamos almoçar juntos – protestou seu Hermes. — Aqui em casa só fazemos as refeições juntos, você já se esqueceu? — Está bem mamãe, não precisa fazer sermão. Já estou indo.

Depois do almoço, como de costume, os pais de Diego foram para o quarto e ele aproveitou para ouvir música e assistir série no celular, para o protesto de seu pai. — Como é que pode, uma TV de 42 polegadas no quarto e ele prefere assistir filmes no celular?! — Coisa de criança, amor! – disse dona Afrodite. — Ele não é mais criança, ele já é um homem. — Acho que não. No máximo ele é um adolescente – e ficaram os dois discutindo sobre a maturidade do filho. 

A temperatura naquele dia estava amena e agradável na cidade de Manaus para o início do mês de dezembro. O ar quente da manhã abafada foi carregado para longe por uma brisa suave que soprava como um presente no início da tarde. Nesse ambiente familiar e de final de ano, Diego disse para si mesmo: — Vou descansar um pouco e depois eu faço o trabalho da professora Carmen – e logo pegou no sono. Quando ele dormia, uma voz, parecendo-lhe a voz de um anjo, começou a soprar-lhe no ouvido os seguintes dizeres: 

— “Natal é a data mais importante e bela do ano. É o nascimento do Filho de Deus. Quem é cristão não pode deixar essa data passar despercebida. Faça festa. É um tempo de alegria, de amor e de paz. A época do ano que brotam os melhores sentimentos no coração humano e, ao mesmo tempo, que nos desafia a ser solidários com os mais pobres, os humildes. O verdadeiro sentido do Natal traz em si uma mensagem de alegria e paz para os homens e mulheres de todo o mundo. Ou seja, o Natal é um grito de paz para o mundo. Não esqueçamos jamais que foi o próprio Jesus Cristo que disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:21). Este é o verdadeiro sentimento do Natal: que todos tenham paz e vivam em paz”. 

Diego acordou sobressaltado. Havia dormido como nunca. Ele que sempre fora racional, metódico, mas dessa vez estava com a sensação de irresponsabilidade, que havia feito algo de errado. E começou a repetir para si mesmo: — Ficarei reprovado. Não entreguei a redação da professora Carmen sobre o Natal – falava descompassadamente. 

Quando seus pais entraram no quarto, dona Afrodite foi a primeira a perceber a confusão mental do filho. — Acalme-se meu filho, eu e o seu pai estamos aqui! – disse dona Afrodite abraçando-o, enquanto seu Hermes abria as janelas do quarto. 

Com a claridade, Diego recuperou à consciência e ele logo pode perceber um monte de folhas de papel almaço escritos a mão, com uma letra que parecia a sua. — Quem escreveu tudo isso? Igualmente espantado, seu Hermes pega uma das folha e começa a ler: — “O verdadeiro sentido do Natal é a paz entre todos…” 

Quando seu Hermes faz uma pausa na leitura, Diego pergunta para a sua mãe: — Mamãe, a senhora acredita em Papai Noel? — Eu não filho, eu acredito somente em Deus. — Pois eu acredito, mamãe. Papai Noel existe – respondeu Diego com um largo sorriso no rosto. E dona Afrodite, virando-se para o lado oposto do filho, onde estava o seu Hermes segurando uma das folhas de papel na mão, disse baixinho: — E você ainda acha que ele é um homem! 

Seu Hermes se recompôs daquela cena e olhando para a esposa, lhe disse: — Experiências místicas acontecem somente com pessoas especiais… Novamente seu Hermes foi interrompido pelo filho. — Mãe, pai, não sei do que vocês estão falando, sei que o trabalho da professora Carmem está pronto – disse Diego. — E certamente você tirará um dez filho! – disse dona Afrodite.

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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