22 de novembro de 2024

Crianças doentes! De onde vem tanta fumaça? 

Em 2016, a ONU revelou que 600 mil mortes de menores de 15 anos foram devidas à poluição do ar. A cada hora, 800 pessoas morrem de câncer e doenças cardiorrespiratórias pela inalação de ar poluído. Na Amazônia, o calor e a poluição tornam-se ameaças crescentes. Este artigo, visando dar transparência e melhorar o combate aos crimes ambientais, apresenta estatísticas e inicia a revelação do perfil dos locais das fontes de calor e anomalias térmicas em Manaus e arredores entre o período de 15/09 a 31/10 de 2023.

O número de queimadas no Estado do Amazonas vem aumentando nos últimos anos. Dados estatísticos sobre a evolução dos focos de queimadas, bem como os altos índices de poluição do ar registrados na cidade de Manaus em setembro e outubro de 2023 revelam que a situação está fora de controle.

Por exemplo, segundo estatísticas reveladas pelo INPE por meio do Programa de Queimadas, monitorado pelo satélite Aqua Tarde, no Estado do Amazonas o número de focos de queimadas entre 2018 e 2022 (cinco anos consolidados) evoluiu da seguinte forma: 2018=11204; 2019=12152; 2020=16464; 2021=14696 e 2022=20883. Ou seja, entre 2018 e 2022 houve uma tendência de crescimento no número de queimadas, com um aumento de 86% ao comparar os valores entre 2022 e 2018 <https://tinyurl.com/247wttds>

Se estudarmos as estatísticas do painel de queimadas existente no site Painel do Clima do Governo do Estado do Amazonas <https://tinyurl.com/y4n7x7zp>, referente ao período em que o verão amazônico é mais intenso, entre agosto e outubro, levando em consideração novamente os anos de 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022, observaremos os seguintes números totais de focos de calor no Amazonas: 2018=9442; 2019=10242; 2020=13565; 2021=13160; 2022=18278. Neste caso, também houve uma tendência de crescimento do fenômeno na região, com um aumento de 98% entre 2022 e 2018. Além disso, foram cerca de 64.487 focos registrados nestes cinco anos, sendo que o mês de agosto foi o campeão com 33991 focos registrados (53%), seguido por setembro (23682; 37%) e outubro (6814; 10%).

Se for levado em consideração o que vem ocorrendo em 2023, usando registros de outras plataformas de monitoramento que usam vários satélites de ponta, a situação é muito mais alarmante do que a revelada. 

Por exemplo, se usarmos o Sistema FIRMS da NASA, uma plataforma mais completa que registra focos de fogo e de anomalias térmicas por meio de doze satélites, levando em consideração todo o mês de agosto de 2018, 2019, 2020, 2021, 2022 e 2023, observa-se visualmente, por meio destes seis gráficos <https://tinyurl.com/4u3m7xrm>, uma piora da situação no entorno de Manaus ao longo do tempo, tendo o mês de agosto de 2023 como o mais crítico. Isso explica, em parte, os recordes de poluição do ar registrados na cidade de Manaus e seu entorno nos meses de setembro e outubro de 2023.

Para responder à pergunta do título deste artigo, foram estabelecidas várias premissas, explicadas no artigo da semana passada, publicado em português <https://tinyurl.com/5xxpk4db> e traduzido para o inglês <https://tinyurl.com/4jc3thvy>, para que a sociedade possa ter conhecimento.

Baseado na análise de 2750 imagens obtidas junto ao sistema FIRMS da NASA, referentes aos focos de fogos ativos e de anomalias térmicas em áreas existentes num raio de 300 km de Manaus, no período de 15 de setembro a 31 de outubro de 2023, foi possível chegar aos seguintes resultados:

1o) O município do Careiro foi o campeão com 664 (24,1%) focos de fogo e anomalias térmicas, seguido por Autazes (650; 23,6%), Itacoatiara (340; 12,36%), Manaquiri (256; 9,3%), Careiro da Várzea (175; 6,36%), Manacapuru (129; 4,7%), Rio Preto da Eva (126; 4,5%), Nova Olinda do Norte (95; 3,4%), Borba (94; 3,4%), Iranduba (71; 2,58%), Manaus (69; 2,5%), São Sebastião do Uatumã (27; 0,98%), Maués (17; 0,62%), Novo Airão (17; 0,62%), Caapiranga (12; 0,43%), Presidente Figueiredo (5; 0,18%) e Silves (3; 0,10%).

2o) Em termos de localização onde os eventos estão acontecendo, foi possível observar que a maioria (80,4%) dos casos aconteceu em áreas verdes próximas dos rios (1189; 43%) ou em áreas verdes próximas de áreas já desmatadas (1022; 37%), seguido por áreas desmatadas (257; 9%), solo perto de rio (104; 4%), área desmatada perto de rio (101; 4%), áreas verdes (72; 2,6%) e em solo (5; 0,18%). Aqui a palavra rio serve também para denotar igarapés e lagoas.

3o) Para encontrar as cidades mais críticas, em que as queimadas ou anomalias térmicas foram mais intensas, foram analisados registros com nível de confiança acima de 30%, média de temperatura de brilho bem acima de 300 Kelvin (a temperatura de vegetação não queimada é estimada em 300 Kelvin), bem como os valores mais altos da Potência Radiativa do Fogo (PRF), variável amplamente usada em vários estudos sobre energia emitida pelo fogo em processos radiativos em determinada área.

Após cadastrar todos os 2750 registros e organizá-los de forma decrescente por PRF, foi possível chegar aos valores médios dos cem piores resultados:

Em primeiro lugar, a cidade de Nova Olinda do Norte. Apesar de representar 9% (9 casos) dos cem piores registros, esta cidade teve um valor médio de PRF em torno de 698,6 MW, com valor máximo alcançado em Prazeres (PRF=989,5 MW).

Em segundo lugar, a cidade de Autazes. 

Poderia dizer, baseado em outras simulações, que foi uma das cidades que mais destruiu e emitiu poluição do ar para sua região e entorno de Manaus. Foram cerca de 56 registros (56%) com PRF médio de 526,46 MW, com valor máximo de 1331,9 MW em uma área verde próximo ao lago Piratinga.

Em terceiro lugar, a cidade de Itacoatiara. 

Foram 22 registros (22%) com PRF médio de 525,96 MW, com valor máximo de 965,1 MW registrado em uma área verde perto do Rio Urubu, em Lindóia.

Em quarto lugar, a cidade do Careiro. Com oito registros (8%), com valor médio de PRF de 457,4 MW, com valor máximo chegando a 841,9 MW em uma área verde perto de área desmatada na região do Purupuru.

As demais cidades foram Manaquiri (3 registros; PRF médio de 379 MW; PRFMáx=454,1MW), São Sebastião do Uatumã (PRF=334,9 MW) e Rio Preto da Eva (PRF=304,8MW).

Diante do exposto, conclui-se que a) o número de queimadas no Amazonas cresceu 86% entre 2018 e 2022, ou seja, está fora de controle; b) o mês de agosto de 2023 apresentou recorde histórico de focos de calor quando comparado com o mesmo período dos últimos seis anos; c) no entorno de Manaus, os municípios de Autazes, Itacoatiara e Careiro foram os mais críticos, razão pela qual, os próximos artigos detalharão o perfil e as geolocalizações dos eventos nestas cidades, a fim de subsidiar a fiscalização e o combate a esses crimes ambientais, que tantos males têm causado para nossas crianças e meio ambiente.

Jonas Gomes

Prof. Dr. Jonas Gomes da Silva - Professor Associado do Dep. de Engenharia de Produção com Pós Doutorado iniciado no ano de 2020 em Inovação pela Escola de Negócios da Universidade de Manchester. E-mail: [email protected].

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