7 de setembro de 2024

Crítica ao império das nações (2)

Bosco Jackmonth *

Asseguram as fontes que o mundo ainda está politicamente fragmentado, mas os Estados estão perdendo depressa a sua independência. Nenhum país é capaz de realizar políticas econômicas por conta própria, declarar e promover guerras de acordo com a sua vontade, ou mesmo cuidar de questões internas da maneira que achar adequada, salvo se adotado o regime imperial. Assim, os Estados estão cada vez mais abertos às manipulações dos mercados globais, à interferência de empresas multinacionais e ONGS e à vigilância da opinião pública mundial e do sistema jurídico internacional. Os países têm de se adequar a padrões de comportamento financeiro, políticas ambientais e justiça. Correntes imensamente poderosas de capital, trabalho e informação alteram a remodelagem do mundo, com um crescente desprezo pelas fronteiras e pelas opiniões Internacionais.

Sucede, o império global que está se formando diante de nossos olhos não é governado por nenhum país ou grupo étnico em particular. Tal como o Império Romano, é gerido por uma elite multiétnica e mantém unido por interesses e por uma cultura comuns. Por todo o mundo, cada vez mais empreendedores, engenheiros, especialistas, acadêmicos, advogados e administradores são convocados a se juntar a esse império. Eles precisam pensar se devem atender a esse chamado ou se devem permanecer fiéis a seu povo e a sua nação. Cada vez mais gente escolhe o império.

No hodierno, o comércio e as religiões universais dado o tempo transcorrido trouxeram todos os sapiens, de todos os continentes, para o mundo globalizado em que vivemos hoje. Esse processo de expansão e unificação não foi linear ou ininterrupto, mas anunciou certos traços de imperialização dos povos. Contemplando, entretanto, o panorama mais amplo, a transação de muitas culturas pequenas para cultuas maiores e em menor quantidade e, por fim, para uma única sociedade global, o império, quem sabe, foi provavelmente o resultado incontornável da dinâmica da história humana.

Mas, na verdade, dizer que uma sociedade global é inevitável não é mesmo que dizer que o resultado final precisava ser o tipo de sociedade globalizada que temos hoje. Sem dúvida é possível visualizar outros desfechos, cuja realidade adjetiva-se como império. Logo, por que o idioma inglês é tão disseminado atualmente, e não o dinamarquês? Por que há cerca de 2 bilhões de cristão e 1,25 bilhão de muçulmanos no mundo, mas apenas 150 mil zoroastrianos e nenhum maniqueísta? Se pudéssemos voltar 10 mil anos no tempo e reiniciar o processo iríamos sempre ver a ascensão do monoteísmo e o declínio do dualismo? Como não podemos fazer esse experimento, é fato impossível saber, mas um exame de duas características da história pode nos proporcionar algumas pistas. Sucede, todo ponto na história é uma encruzilhada. Uma única estrada nos traz do passado para o presente, mas milhares de caminhadas se abrem em direção ao futuro. Alguns são mais largos, mais planos e bem sinalizados, e por isso têm uma maior probabilidade de serem escolhidos, porém às vezes a história – ou as pessoas que fazem a história – toma rumos inesperados. (Conclusão).

 Advogado empresarial (OAB/436).Contato:boscojackmonth.advogados.com.br

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]

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