O município de Manaus promoveu o primeiro seminário de cultura da história da capital. Segundo os organizadores, a intenção é provocar o público para conhecer e interagir com o Plano Municipal de Cultura, que ainda irá tramitar pela Câmara de Vereadores para virar lei. É uma iniciativa muito louvável e merece toda a contribuição da sociedade para que aconteça e produza bons resultados. O que vem contribuir muito é a lei de incentivo à cultura, regulamentada há dois meses.
As palestras proferidas no evento foram muito direcionadas para a marginalidade cultural que o Amazonas e outros estados vivem em relação ao eixo Rio-São Paulo. Devemos considerar que, por mais que se fale e até se invista, jamais iremos encurtar as distâncias abissais deste Brasil continental. Então, por que reclamar daquilo que não pode ser mudado? No Amazonas se fica sabendo o que acontece neste eixo, por uma simples razão de comunicação de massa. É natural que saibamos mais deles do que eles de nós. São Paulo é a capital financeira deste país e rivaliza com o Rio de Janeiro para também ser a capital cultural.
Nós Brasileiros sabemos muito mais sobre os Estados Unidos e Europa que eles de nós. Isso não é culpa deles. Da mesma forma que nossos vizinhos sul-americanos sabem mais de nós que nós deles. Seria culpa dos times de futebol carioca o desinteresse pelo futebol amazonense? A cultura dos outros países, pelo menos na área do cinema, começa a ser conhecida pela necessidade da Netflix (empresa privada americana) oferecer sempre conteúdo mais variado aos seus assinantes. Com toda a certeza, o apoio de uma empresa desse porte, é uma ajuda muito maior que o estado brasileiro possa dar. Pela iniciativa americana, nós aqui no Brasil conhecemos novelas colombianas, turcas, coreanas, finlandesas, israelitas etc. A Netflix não promove ninguém por bondade. Os americanos fazem espetáculos até de tragédias e os vendem e o mundo todo os compra. Para ter uma ideia, em filmes western já foram exibidos milhares de duelos com revólveres, quando a história registra apenas um. Foi banalizado porque havia um interesse do público.
Os que trabalham com a cultura sempre buscam embasamento histórico. Reclamam até que muitas formas de apresentar as culturas mudaram durante os anos e gostariam de ver representado o original. Verdade, a história é para conhecer, lembrar e até ensinar para os mais jovens. Não para ser vivida. Se assim fosse deveríamos voltar a usar a máquina de escrever, em vez do computador, ou a lamparina, em vez da energia elétrica. Os que reclamam têm razão num fator: não se deve ensinar a história erroneamente.
A manifestação da cultura que o povo consome nem sempre tem uma fidelidade histórica. Começa pelos livros, onde um romance sempre procura retratar o ideal em contraposição com o real. Isso não é ruim e se reparamos bem o mundo começou a melhorar e progredir depois da escola romântica.
Enfim, o primeiro passo foi dado para apoio a todas as manifestações artísticas em Manaus. O Festival Folclórico de Parintins não conseguiu o reconhecimento internacional apenas por seu trabalho. Também porque o nome “Amazônia” é conhecido no mundo todo. Manaus, como capital natural da Amazônia também tem esta marca como impulso da cultura. O incentivo que a Concultura de Manaus dá para isso vai somar com tudo que a natureza e as tradições nos deram. Quando as manifestações culturais forem suficientemente conhecidas, vão conseguir andar com seus próprios meios. (Luiz Lauschner)