23 de novembro de 2024

De Volta Para O Futuro

Anderson F. Fonseca. Professor de Direito Constitucional. Advogado. Especialista em Comércio Exterior e ZFM. 

IG: @anderson.f.fonseca    

Clássico lançado em 1985 dirigido por Robert Zemeckis, trazendo no elenco o então jovem Michael J.Fox como protagonista, além de Christopher Lloyd e Lea Thompson, narra a história de um adolescente, Marty Mcfly, que aciona acidentalmente uma máquina do tempo construída em um DeLorean por seu amigo cientista, retornando aos anos 50, lá conhece a vida, os costumes de sua cidade natal e seus pais antes do casamento, com uma série de desventuras que põem em risco sua própria existência, pois alteraria todo o futuro, força-o a resolver vários imbróglios para poder então retornar ao futuro.

Para aqueles que como eu são de uma geração anos 80, assistimos a este filme e os dois outros da trilogia esperando saber se o futuro seria salvo e se nosso herói conseguiria ao final retornar sem maiores problemas para viver uma vida de prosperidade com seus familiares e amigos, inesquecível também neste contexto a trilha sonora “Power of love” de Huey Lewis and The News que embalou minha geração adolescente sonhando com o carro voador igualmente protagonista do filme.

Pois bem, tal qual a ficção que vale a pena ser vista novamente, temos nestes 19 dias do novo ano uma versão toda brasileira de volta para o futuro, nosso Presidente da República, depois de muitas aventuras e desventuras retornou ao cargo máximo do executivo republicano prometendo tirar o país de “atrasos sistemáticos” em direção ao futuro de paz e prosperidade para todos.

É certo que estamos no início de um novo governo e qualquer análise é prematura tendo em vista a longa caminhada pela frente, contudo, até aqui já contabilizamos posse no dia primeiro de janeiro com discurso emocionado do Presidente pedindo ajuda para governar, manifestação com invasão as sedes dos três poderes no dia oito de janeiro, reunião de governadores em Brasília, decretação de intervenção federal na segurança pública do DF com afastamento do governador por noventa dias, detenção de aproximadamente 1.500 pessoas envolvidas nos atos de depredação e vandalismo na capital federal,  dentre os quais mulheres, idosos e crianças, revogação de alguns decretos de sigilo de 100 anos do antecessor na Presidência, divulgação de informações relativas a gastos do cartão corporativo, deflagração de operação da Polícia Federal para identificar os possíveis financiadores dos atos de oito de janeiro, determinação de retirada de todos os manifestantes ocupados na frente dos quartéis.

No panorama político nomeação de “companheiros” de outros tempos para ministérios sensíveis, Haddad na economia, Dino na justiça, Marina Silva no meio ambiente, Tarciana Medeiros como primeira mulher presidente do Banco do Brasil, troca de embaixadores de postos relevantes como Estados Unidos, Israel, outrora ocupados por indicados políticos doravante substituídos por diplomatas de carreira, governo dispensa 40 militares exercendo diversas funções no palácio da alvorada, Brasil deixa o consenso de genebra sobre regras antiaborto, em Davos o país sinaliza uma guinada mais a esquerda, focando em uma agenda econômica primando pela sustentabilidade, a comprovar isto tem-se a medida que permitia a exploração de madeira em terras indígenas revogada, nisto tudo o IPEC em sua analise desta primeira quinzena de governo indica que 54% dos brasileiros confiam no governo Lula.

Digno de nota a nós amazonenses a declaração do Vice-Presidente da República Geraldo Alckmin sobre a possível extinção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) o que diretamente afeta o modelo Zona Franca, haja vista as vantagens comparativas trazidas pelo nosso modelo com relação aos investimentos em nossa região, em um panorama de taxa de mortalidade das empresas que chega a 47% em relação à criação de novos negócios em 2022, situação esta que já prevê uma visita do Presidente ao Amazonas nos próximos dias.

Longe de ser uma lista definitiva de todos os eventos ocorridos neste início de governo temos que os eventos encontrados nesta nova gestão tem-se apresentado sobremaneira desafiadores, tal qual nosso herói da ficção resta saber se o Presidente e seu governo conseguirá “voltar para o futuro” são e salvo e conduzir nosso país, sobretudo no aspecto econômico, a novos patamares de desenvolvimento e prosperidade, isto sem utilizar de antigos e conhecidos métodos artificiais que incentivam o consumo deixando rombos e aumentando o nível de endividamento de famílias.

Precisamos de reação enérgica no campo da justiça e cidadania é verdade, mas tão verdade quanto é saber estimular as matrizes econômicas levando em conta as potencialidades do país nos aspectos internos com vista a uma internacionalização cada vez maior, para isso problemas jurídico-políticos não resolvidos só trarão atraso em um jogo de comércio exterior no qual o Brasil ao que parece sempre está correndo atrás.

Quem sabe tal qual o filme uma das saídas para isso se encontre na ciência, na ficção é o cientista amigo de Marty que acredita em sua história e o ajuda a resolver os seus problemas e voltar ao seu tempo, na vida real é, no entender deste articulista, o incentivo ao estudo, pesquisa, desenvolvimento científico em nossas universidades e centros de pesquisa um dos pilares para o nosso desenvolvimento.

Aguardando ansiosamente para ver o desenrolar de nosso filme e a volta para o futuro que todos nós almejamos finalmente se concretizar.

Anderson Fonseca

Professor de Direito Constitucional. Advogado. Especialista em Comércio Exterior e ZFM

Veja também

Pesquisar