Penso que uma das questões mais importantes neste momento crucial de nosso país e da própria humanidade é compreender que a defesa do meio ambiente e a produção de alimentos não são antagônicas, e agricultores e ambientalistas devem ter a humildade de dialogar, de se compreender e convergir na direção do bem comum, da natureza e dos seres humanos. Este é um desafio que nós brasileiros precisamos colocar na nossa agenda de absoluta prioridade: atuar por uma economia de baixo carbono, com ambiente saudável, sem renunciar a nosso grande potencial de alimentar o Brasil e o mundo. Afinal de contas, sabemos que já existem tecnologias suficientes para aperfeiçoar nossos modelos de produção agrícola e torná-los referenciais de sustentabilidade econômica, social e ambiental.
A Amazônia é uma região de impressionante valor estratégico nacional e mundial. Trata-se da maior floresta de trópico úmido, do maior manancial de água potável e da maior biodiversidade do planeta! Assim, não se trata somente da floresta, mas dos rios, lençóis freáticos, a terra, o subsolo, os povos originários e o próprio clima. Como ignorar a importância da conservação e do bom uso de toda esta natureza em benefício do nosso país e do mundo? Somente pessoas ignorantes ou radicalmente imediatistas o fazem, pois o bom senso indica que devemos valorizar nossos recursos naturais e se a Amazônia representa a região de maior riqueza ecológica do continente deve ser valorizada à altura de sua importância para o presente e o futuro dos brasileiros.
Também não se deve ignorar a importância estratégica do setor primário, no país e na Amazônia. Afinal de contas, a vida humana só se sustenta por meio dos alimentos, que são produzidos e/ou coletados, por agricultores, criadores de animais e pescadores. Sem o trabalho árduo deles, simplesmente não estaríamos compartilhando nossa existência com a da Natureza. Não estaríamos vivos. O próprio Jesus no ensina no “Pai Nosso”, o valor do “pão nosso de cada dia”. E não há religião, filosofia, credo político ou visão de mundo que subsista à fome, condição degradante à qual nenhum ser humano deve ser submetido. Nesse sentido, como ignorar que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimentos, por meio da agricultura familiar, da pequena produção e do agronegócio? Deixar de apoiar este fundamental segmento da nossa economia e da própria sociedade, seria uma insanidade.
Já está mais do que na hora de sermos inteligentes e éticos o suficiente para conjugar defesa do meio ambiente e defesa da produção de alimentos. É tão óbvia a interdependência entre recursos naturais e a produção agrícola, mas ainda há “correntes” desenvolvimentistas, de um lado, e ambientalistas, de outro, que defendem de modo estreito e sectário uma incompatibilidade que não deve existir, entre produzir alimentos e conservar o meio ambiente. Aliás, se os recursos naturais não forem conservados de modo sustentável a agricultura será prejudicada e sem a produção agrícola efetivada de modo sustentável, não se garante a presença da humanidade no planeta.
Minha própria trajetória de vida, que perpassou experiências como agricultor, professor e gestor público e também como representante político e militante da causa socioambiental, me propiciou o aprendizado de que não apenas é possível, mas essencial, defender a vida humana e a Natureza simultaneamente. Considero que este seja o desafio mais importante para a Humanidade: acabar com a fome, alimentar os seres humanos, sem destruir a Criação. Ambientalismo de mesa de bar e lucro imediato a qualquer custo representam a insensatez. Na verdade, precisamos unir ciência e ética para salvar a humanidade do colapso ambiental, mas isto não poderá ser feito, sem também priorizar a produção de alimentos.