22 de novembro de 2024

       Desafios para as lideranças do futuro

Penso que não existe um modelo ideal para os líderes do futuro, mas sim um conjunto de habilidades importantes para que o exercício de liderança seja eficaz diante das velozes mudanças tecnológicas, culturais e políticas que vem ocorrendo no mundo. No caso, lideranças eficazes hoje, já dentro de um contexto complexo e mutante, mas que se adequem e se aprimorem para desafios ainda maiores que virão.

Há características da liderança contemporânea de vanguarda que indicam a modelagem necessária para o futuro. Algumas se afirmaram nas últimas décadas e deverão se manter por um largo período, pois se tornaram competências comportamentais valiosas: inteligência emocional, domínio de técnicas de gestão de conflitos, humanização, empatia relacional, capacidade de delegar e exercer supervisão e a inspiração motivadora dos colaboradores. Estas habilidades têm sido demandadas principalmente nas organizações de ponta. Trata-se de condicionantes de sucesso das organizações mais avançadas e inovadoras e que tendem a se manter e até crescer de importância nas próximas décadas. No entanto, acredito que algumas habilidades de tornar-se-ão especialmente importantes para os líderes do futuro. Destaco a capacidade de adequação diante das mudanças associada à de promover inovações; o exercício de ensino/aprendizagem permanente, com desenvolvimento contínuo dos colaboradores e dos próprios líderes; a visão estratégica a partir de análises de contextos dinâmicas e efetivas; a valorização constante de dados e informações e o respeito, identidade e prioridade com a diversidade.

Neste diapasão, ainda há desafio adicionais específicos, de ordem ética e procedimental, como o do uso da Inteligência artificial no âmbito das organizações e o dos cuidados socioambientais. No primeiro caso, o controle do instrumental de IA não somente para tornar mais eficientes os processos das organizações, mas também para evitar danos aos colaboradores, aos clientes e à própria sociedade. No segundo, a percepção de que o enfrentamento das mudanças climáticas e suas sequelas, exigirá cada vez mais das organizações compromissos objetivos de práticas sustentáveis, com ênfase nos aspectos socioambientais. O que se expressa pela busca da inclusão social de modo conjugado com a proteção da biodiversidade, priorizando o uso de tecnologias focadas na sustentabilidade.

Neste sentido, a postura ética dos líderes será fundamental, assim como os componentes personalíssimos de grande valor, como a coragem e capacidade de tomar decisões rápidas, quando forem imprescindíveis. E, sempre, resiliência. Ainda, os líderes do futuro obterão maior sucesso aprendendo e reaprendendo, se transformando e se readequando em relação aos processos organizacionais, sem esquecer de atuar com empatia em relação aos colaboradores, clientes e aos seres humanos em geral. Assim, saber escolher e desenvolver novos líderes, com visão estratégica de adequação e de prospecção das mudanças, com inteligência emocional associada ao exercício permanente de aprendizagem de novos conhecimentos será de grande valor para o sucesso das organizações no futuro. Os líderes deverão não apenas garantir a viabilidade financeira das organizações, mas também promover a diversidade e a inclusão social e, ainda, assumir de modo efetivo responsabilidades socioambientais.

Cabe lembrar que no setor público estas competências também são – e serão – cada vez mais importantes, mas infelizmente não tem ocorrido a mesma evolução da iniciativa privada. Ou seja, o mercado evolui mais rapidamente do que o Estado, com raras exceções. Dentre estas, os países nórdicos, em que governos e a iniciativa privada avançam de modo interdependente. Não é à toa, portanto, que no índice da ONU dos países mais felizes do mundo Finlândia, Suécia, Islândia e Noruega estão nos primeiros lugares, enquanto o Brasil ocupa atualmente a posição 44. Certamente as lideranças desses países, seja no setor público, seja no privado estão mais preparadas para os desafios do presente e do futuro. No Brasil avanços têm sido registrados em setores de ponta da iniciativa privada e do terceiro setor, mas a governança pública parece estagnada, com uma mentalidade anacrônica do século passado. Enquanto setores ideológicos radicais autodenominados de direita e de esquerda se digladiam pelo poder, o papel primordial do Estado parece progressivamente deteriorado e enfraquecido. Falta foco no essencial, sobra no acessório, Falta visão estratégica de futuro, sobra mediocridade. 

O descompasso entre os processos de liderança dos setores públicos e privados, na maior parte dos casos, impulsiona o descrédito nas instituições governamentais e atrapalha o desenvolvimento de boas iniciativas sociais, econômicas e ambientais. Com o êxito preponderante das empresas, diante da ineficácia das instituições estatais, as políticas públicas se mostram ineficientes e atrasadas. A população sofre as consequências.

Está passando da hora de fazer como as empresas inovadoras de vanguarda já fazem: criar e impulsionar verdadeiras escolas de formação de líderes, voltadas para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos por meio de políticas públicas justas e eficazes..

Luiz Castro

Advogado, professor e consultor

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