23 de novembro de 2024

Dia Mundial da Água

Eu hoje, neste texto, quero saudar a água, haja vista que amanhã, 22 de março, é o Dia Mundial da Água. Antes, porém, quero alertar o generoso leitor e a generosa leitora que talvez essas observações sobre a água pareçam bem mais fundamentadas no caráter metafísico e filosófico do que no campo prático. A práxis, no entanto, reside na constatação de que a agua é o recuso natural de grande abundância na natureza e essencial a vida. Ou seja, não existe vida sem este componente químico. A água é indispensável para todas as formas de vida, seja ela animal ou vegetal. 

Objeto de disputa e debate em todo o mundo, a água é sempre um mineral disputadíssimo, principalmente por parte daqueles países que não a possuem. Sabe-se, no entanto, que a água é um recurso natural, mas não é natural que ela chegue limpa em nossas casas, pronta para o consumo. Da natureza à torneira, existem valores agregados. No entanto, problemas como tratamento, preço, qualidade, acesso, distribuição, etc., não devem servir como justificativa para alimentar no coração humano o desejo do lucro fácil.

É preciso rever o lucro das empresas que ganham somas de dinheiro com bens essenciais a vida, como, por exemplo, a água. Uma nova matriz deve ser formulada. Assim como existe para o consumidor a chamada “tarifa social”, também deveria existir uma “tarifa social do lucro” para as empresas. Não é justo que as empresas continuem com seus lucros exorbitantes, enquanto a população continua na pobreza, sem condições para pagar a conta de água no final do mês, que em muitos casos, chega 15% a 20% do salário-mínimo. 

Tudo isso gera um modo competitivo e desumano de organizar a vida. Por exemplo: cresce os desvios (popularmente conhecido como gato!) porque a economia é organizada sem levar em consideração o valor das pessoas, os mais pobres e humildes. A economia é organizada, nesse Brasil de meu Deus, pensando apenas no lucro: “quanto eu vou ganhar?”, “quanto a minha empresa vai lucrar?” Por isso, os pobres morrem de doenças curáveis porque não se investe no atendimento das necessidades deles. O direito de viver não é considerado como prioridade absoluta.

Sobre o valor e a importância da água, o filósofo grego Heráclito já dizia: “Tudo quanto há no universo surgiu da água”. E acrescentava: “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”. Para ele, tudo era regido pela dialética, ou seja, pela mudança, e a água era esse elemento essencial. 

Toda água, natural ou mineral, limpa ou suja, de beber, de banhar, de lavar, de secar, de cozinhar, de nadar, de alimentar, de aliviar, de limpar, de refrescar, de pular, de escorrer, de encher, de transbordar, de viver, de sobreviver… deve servir para matar a sede de sofrimento, saciar a sede de liberdade e de justiça do povo. Toda água deve ser uma forma de purificação, de união e não de escravidão, de poder e de opressão do povo.

No Cristianismo, a água é tão essencial que o próprio Jesus Cristo se comparou a água da vida. Diz Ele: “Quem beber da água que lhe der nunca mais terá sede. Pelo contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (João 4:13-14). A mensagem é clara e objetiva: Jesus Cristo é água da vida! E assim, o verdadeiro cristão não pode se perder em distrações visíveis e passageiras, no egoísmo e na ganância. Como pode um empresário se dizer cristão e pensar apenas no lucro?

Mas, enfim, como eu disse no começo desse texto que a intenção hoje é saudar a água, eu vou aqui citar a canção És Água Viva (https://www.letras.mus.br/padre-zezinho/291093/) do Padre Zezinho que eu gosto muito, para terminar este texto. “Eu te peço desta água que Tu tens / É água viva, meu Senhor / Tenho sede, tenho fome de amor / E acredito nesta fonte de onde vens / Vens de Deus, estás em Deus, também és Deus / E Deus Contigo faz um só / Eu, porém, que vim da Terra e volto ao pó / Quero viver eternamente ao lado Teu / És água viva, és vida nova / E todo dia me batizas outra vez / Me fazes renascer, me fazes reviver / Eu quero água desta fonte de onde vens.”

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.

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